Um aviso aos incomodados: o carnaval vai voltar para a comunidade

Ariel Freitas
Cartas Perdidas
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2 min readFeb 18, 2019

Após ter cancelado o carnaval de 2018 e ter prejudicado — e muito — a renda de famílias periféricas que veem o evento como forma de empreendimento, a prefeitura de Porto Alegre retoma com eventos sociais dentro de locais descentralizados na cidade

Joel Vargas/ PMPA/Divulgação

“Não deixa o samba morrer, não deixa o samba acabar. O morro foi feito de samba. De samba pra gente sambar!”

Em tempos de elitização do carnaval e de apropriação de costumes interligados com a favela (oi, blocos gourmets que desfilam com aval e estrutura na Cidade Baixa e Bom Fim), o Carnaval de Rua Comunitário de Porto Alegre pulsou no ritmo dos moradores do bairro Morro Santana.

Ali, na avenida Dr. Alberto Vianna Rosa, o povo finalmente teve de volta o que é seu por direito: a verdadeira folia. Contando com cerca de mil foliões e com as apresentações do Bloco do Figueira, Família Uni Samba, Mauro Sorriso, Vem Com A Gente e Wladimir Goularte o evento trouxe tons de nostalgia para os moradores do bairro que há anos não usufruíam de uma saída carnavalesca na região.

Sem o apoio diário da prefeitura e convivendo com a falta de políticas públicas dentro das comunidades, o carnaval dentro dos bairros carentes sempre foi sinônimo de resistência.

Carnaval na Capital da desigualdade racial

Surgido como uma festa popular, o carnaval em Porto Alegre carregou por muito tempo olhares de rejeição. Na visão da Capital com maior índice de desigualdade racial no Brasil é necessário apagar qualquer vestígio de cultura dentro dos bairros carentes. É uma tática padrão: excluir a origem; inviabilizar a realização e depois se apropriar.

Em um passado não tão distante (2004) este pensamento foi utilizado como “script” para remover a festa de um local nobre de Porto Alegre e realocar nos confins do bairro Rubem Berta, zona norte da Capital.

Após ter cancelado o carnaval de 2018 e ter prejudicado — e muito — a renda de famílias periféricas que veem o evento como forma de empreendimento, a prefeitura de Porto Alegre retoma com eventos sociais dentro de locais descentralizados na cidade. Coincidência ou não, a eleição municipal se aproxima…

Porém, esqueceram que tudo que é preto e favelado se fortalece em tempos de crise. Então um aviso aos incomodados: o carnaval vai voltar para a comunidade. Pois dê a César o que é de César.

Notas rápidas sobre a vida nas comunidades de Porto Alegre (2019)

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Ariel Freitas
Cartas Perdidas

Jornalista e escritor. Colaboro com o Noticia Preta, Revista Subjetiva, New Order e Escola de Poesia. Já colaborei com o Alma Preta e o Perestroika.