#3: Talvez eu morra de saudades

O Carteiro
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2 min readJun 20, 2021

M.,

Tudo o que você conta na sua carta aquece o meu coração. Consigo imaginá-la com seus avós, o muro amarelo da casa, as reformas no fundo do quintal para limpar os galhos da jabuticabeira que caíram com outra chuva forte. Quando você me escreve parece que a minha saudade se suspende, e se você não está em todos meus pensamentos é porque meu pensamento é por inteiro e totalidade você. Termino de ler a sua carta e outra vez morro de saudades. Por isso escrevo esta resposta.

Quero você perto de mim. Não há outra maneira de escrever esta saudade, M. A minha saudade de você tem beirado a loucura e eu confesso que pensei que seria mais fácil lidar com a distância em tempos de webnamoro. Mesmo assim, é incessante o som do eco dessa falta de você aqui. Morrer de saudades é faltar ar no ventrículo esquerdo ou no coração, pois todos os espaços foram preenchidos por você e esse desejo de querer.

Quero seus olhos próximos do meu em um beijo. Quero sua mão sobre a minha timidamente no meio da rua. Quero apresentar-lhe aos meus amigos como a melhor companhia do mundo. Quero parar de pensar em você para me concentrar no trabalho. Quero perder o tato para escolher as melhores palavras e passar a repetir em gestos indistintos que te amo, te amo e te amo. Todas as vezes te amo. Quero abolir a linguagem do amor em prol do amor porque o amor, M., é o seu nome me tomando a sanidade sem nenhum impedimento. Quero a loucura da paixão. Amor, se não vier, eu vou.

Ontem, M., pensei em comprar para você um abajur. Sei que gosta das leituras na cama e lembro que havia me dito que ainda não tinha um. Como estava sozinho, acabei comprando três modelos e espero que você volte para que escolha o que mais lhe agradar. Transformei a sua ausência nesses abajures, assim como quando os comprei estava a transformar minha vontade de se fazer presente, útil e necessário, em um presente. Será este o jeito certo de amar? Penso em você e sorrio, pouco me importa.

M., volte logo, como prometeu.

Com saudade e rodeado de abajures que acendem ainda mais a sua ausência,

Mil vezes seu,
U.

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