Resposta à carta #55 e meio

Remetente: D. O.

O Carteiro
carteiro
2 min readNov 9, 2021

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Oi carteiro.

Estava cheia de vida no sábado, mas só pensava em morte, ou melhor, na brevidade da vida. Também perdi alguém por esses dias. Curiosamente o nome dela também era T., e fiquei povoada de memórias e de tristeza e de saudades.

Lembrei das nossas primeiras experiências, ainda meninas. T. sempre foi cheia de vida, uma das pessoas mais determinadas que já conheci, ela não hesitava, simplesmente fazia. Perdemos contato, como tantas outras pessoas queridas que vão ficando para trás quando decidimos traçar nossos próprios caminhos. Muitas dessas pessoas caem no esquecimento, na zona da irrelevância… Mas ela não.

Lembrei de tantos abraços (ela tinha bracinhos pequenos, mas abraçava como ninguém), tantos encontros, tantas aventuras, tantos sorrisos e todos os apelidos carinhosos que tínhamos. Colecionávamos vontades e sonhos, muitos dos quais eu não cheguei a realizar. Mas T. era corajosa demais para deixar seus sonhos morrerem no papel.

Esta carta vai sem remetente, seu carteiro. Nem sei para quem escrevo, mas era preciso escrever algo. T. merece que pessoas contem sua história, que compartilhem suas facetas, os pedaços de T. que tivemos acesso.

Um poeta que gosto diz que a morte não é para quem vai, mas para quem fica. Ficam o luto, a vontade de abraçar, as memórias e a saudade. T. era uma pessoa tão excepcional que me fazia sentir saudade mesmo quando havíamos nos encontrado há dois minutos. E sigo, há uns 10 anos, com a saudade de tê-la por perto todos os dias.

Agora a saudade está insuportável pois não vem acompanhada da esperança do reencontro.

FIM,

(com vírgula mesmo, já que a morte se encarrega dos pontos finais)

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