De todos os dias

Fabricio Teixeira
2 min readNov 8, 2016

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Teve um dia em que eu conheci uma escritora que rabisca desenhos monstruosos no meio das palavras que escreve, teve um dia que eu perdi o medo de escorregar na neve, teve um dia que eu conheci o meu restaurante japonês favorito da cidade.

Teve também um dia em que experimentei ostras pela primeira vez na vida. Ostras têm gosto de vida adulta, cheiro de fim de semana na praia e textura de sexo.

Teve um dia que eu peguei uma estrada sinuosa e meu estômago quase saiu pela boca. Foi no mesmo dia que eu entendi que eu precisava de mais estradas sinuosas para seguir a vida — e que essa coisa de estômago ter lugar certo pra ficar é coisa da nossa cabeça, nada mais.

Teve um dia em que eu joguei futebol americano, teve um dia em que eu tirei o sapato para entrar na casa de um amigo e percebi que minha meia estava furada.

Teve um dia em que eu joguei todas as meias furadas no lixo e comprei meias novas. Listradas.

Teve um dia em que eu não consegui dormir nem por um minuto. Teve um dia que eu resolvi experimentar um outro caminho para o trabalho e encontrei uma moeda de um dólar no chão. Moedas de um dólar são bem raras por essas bandas. Caminhos novos já não são tão raros assim, mas continuam sendo valiosos.

Teve um dia em que eu escrevi um poema e joguei fora, teve um dia em que eu acordei assustado com um sonho impossível, teve um dia em que eu experimentei suco de pêssego com hortelã. Teve também um dia em que eu recebi uma carta escrita a mão pelo correio, vinda de lugar distante e com cheiro de sim e de não.

Teve o dia em que eu visitei o país dos meus sonhos.

Teve também aquele dia em que eu deitei no chão do parque para ver as nuvens.

Na maior parte dos dias eu acordei sem precisar de despertador.

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