Dos nomes que ainda não inventaram

Fabricio Teixeira
Casa de crescer sonhos
2 min readApr 6, 2018

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A gente nomeia nossos filhos com nomes bem diferentes dos nossos, como numa tentativa de garantir que as coisas serão diferentes — para nós e para eles — no futuro que o mundo os reserva. Por um misto de inocência e vaidade, queremos acreditar que nossos filhos não cometerão erros. Não os nossos filhos. Não os nossos erros.

A gente nomeia nossos filhos com nomes de gerações passadas. Porque não queremos que nossos filhos herdem nenhuma das fraquezas da nossa própria geração. E não queremos correr o risco de conhecer, em vida, alguém que compartilhe o mesmo nome que eles e que esteja aquém das nossas expectativas estratosféricas sobre o que é ser uma pessoa plena.

A gente nomeia nossos filhos com os nomes dos nossos heróis. Na esperança de que se encham, eles também, de feitos heróicos no decorrer de suas vidas. Terão vidas memoráveis, dignas de biografia — se possível não-autorizadas, divididas em oito volumes, e traduzidas para idiomas que sequer foram inventados.

A gente nomeia nossos filhos com nomes únicos. Coloca letras a mais, troca vogais por consoantes, adiciona caracteres hebraicos e sílabas recém-hifenizadas por acordo gramaticais que ainda nem foram votados. Porque nossos filhos serão seres humanos especiais e únicos, e os vôos que eles alcançarão serão inigualáveis. De tão famosos e populares, serão reconhecidos só pelo primeiro nome. Ao mesmo tempo em que, de tão inteligentes, serão reconhecidos por sobrenome e por prefixos acadêmicos cujo significado temos certa vergonha de desconhecer.

A gente nomeia nossos filhos com nomes que funcionam para todos os gêneros. Porque a gente ouviu histórias demais de amigos próximos que sofreram a juventude toda tentando se encaixar nos gêneros pré-estabelecidos pela geração de nossos pais e avós. E a dor de quem amamos acaba sendo nossa própria dor. A dor de uma geração que lutou para eliminar rótulos antigos, sem perceber que à medida em que o faziam acabavam criando novos.

A gente nomeia nossos filhos com nomes universais, que funcionem em vários idiomas e em vários países. Porque a gente cresceu acreditando num mundo global, sem fronteiras, que apesar de nunca ter saído do papel ainda permeia nossa fantasia revolucionária de adolescente. Queremos acreditar que nossos filhos serão cidadãos do mundo, e terão passaportes coloridos, e falarão todos os idiomas que nós nunca tivemos perseverança suficiente para aprender.

A gente nomeia nossos filhos com nomes que não cabem na gente. Mas a gente faz isso tudo — dizem os especialistas — é por amor.

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