No começo do mês passado

Fabricio Teixeira
2 min readNov 8, 2016

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No começo do mês passado fez doze semanas que estavam juntos. Depois de tantos amores finitos, ela tinha aprendido a contar a idade dos seus relacionamentos usando semanas ao invés de meses, e meses ao invés de anos. Tinha essa teoria de que já que não podia controlar a duração do feitiço que exercia sobre os homens, pelo menos conseguiria controlar a duração das ilusões dentro de sua cabeça. Talvez essa fosse uma das maiores vantagens da vida depois dos quarenta: ela mesma decidia quando um amor ia nascer, ou morrer, dentro de si. Sem velório. Sem rugas. Sem flores despedaçadas.

No começo do mês passado foram mais uma vez ao mesmo bar onde se conheceram. Ao som de uma nova banda, mas aos olhos dos mesmos frequentadores de sempre. Dançaram como dançavam os garotos nas festas de colégio, cada nova música como se fosse a última. Dançaram de mãos dadas, depois de rosto colado, depois dançaram sozinhos antes de darem as mãos novamente. Como se cada semana ao lado um do outro fosse um alívio, um flerte com a sorte ou uma chance a menos de terminarem suas vidas sozinhos.

No começo do mês passado ela recebeu flores no trabalho e um convite. Foram ao mesmo bar onde se conheceram. Estavam doze semanas mais velhos, e contavam seus amores em semanas, suas semanas em dias e seus fracassos aos pares. Viviam em uma época onde amores se toleravam, assim como se tolera o mau hálito matinal e as rugas que começam a aparecer ao redor dos olhos do outro depois dos quarenta. Pelo menos podiam decidir quando uma nova dança iria nascer, ou morrer, dentro de si.

No começo do mês passado eles quase terminaram. Choraram de mãos dadas, choraram de rosto colado, depois choraram sozinhos antes de darem as mãos novamente. Ele gostava mais dela do que ela gostava dele, mas tinham aprendido que assim como as novas músicas, os amores se aprendiam a gostar. Aos poucos foram entendendo que era possível contar também os anos, que era possível contar com um certo carinho as rugas que se formavam ao redor dos olhos do outro.

No começo do mês passado eles se encontraram, de verdade, pela primeira vez.

No mesmo bar um do outro.

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