There I am, next to me

Fabricio Teixeira
Casa de crescer sonhos
2 min readJul 23, 2017

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Agora eu sou o escritor que trabalha de casa e que por nunca ter tido problemas de estômago pode tomar quantos copos de café quiser por dia. A luz amarelada do verão não-tão-quente entra pelas janelas de madeira do escritório e bate na nuca dos livros alfabeticamente organizados na prateleira. Seus dias são sempre amarelos, e plenos, e sempre bate vento.

Agora eu sou o malabarista que nunca se rendeu ao sistema. Pinto o corpo com tinta prateada que dizem ser não-tóxica e sustentável, e corro para o semáforo mostrar minha arte. Entre um truque e outro, solto frases aleatórias contra o capitalismo desenfreado e o neo-liberalismo econômico. Ninguém ouve.

Agora eu sou o taxidermista que empalha sonhos, e o faz de forma que sempre continuem com aspecto natural, nunca forçados.

Agora eu sou a faixa de pedestres, esparramada no asfalto, pisoteada.

Agora eu sou o copo de café, e sempre tem uma fresta de sol batendo em minhas paredes de vidro — mesmo quando não é mais verão.

Agora eu sou o atalho do teclado, a samambaia da Cristina, o mambembe, o sertão, o uirapuru, o cabelo seco do Renato, os cílios postiços da Shirlei, as costas da cadeira, o retrato.

Inspirado em “There I am next to me”, de Alighiero boetti, e “My Name Is Red”, de Orhan Pamuk.

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