Duas flores no caminho
Então aconteceu assim, que mais ou menos na metade do caminho apareceram-me estas duas flores. Tão pequenas, delicadas, ali tão sozinhas. Como a pedir-me que as levasse.
Acolhi-as com cuidado, uma em cada mão, e retomei a minha trilha. Agora a passo mais lento, um olho numa flor, outro nas pedras, nos buracos, de novo na outra flor, agora nos galhos, nas raízes pelo chão.
Não demorou a reclamar aquele velho conhecido, o grilinho pessimista, sempre a soprar ideias no ouvido direito. Queixava-se de que as tais coisinhas amarelinhas me estavam a atrasar.
Ora ora seu Carranca, esta trilha é mesmo assim. Quanto mais tempo anda, mais cansado o caboclo fica, e afinal pra que a pressa, se o caminho é mesmo aquele, não se sabe quando acaba, mas já se sabe onde vai dar, socorreu-me o outro grilo, o mais sensato, que sopra sempre no ouvido esquerdo, mais chegado ao coração.
De forma que para encerrar este conto tão sem graça, quero apenas registar.
Só beleza, nada mais, me trouxeram as duas flores. Não fossem elas a me encher os olhos, e estaria eu agora preocupado apenas com pedrinhas.