CRÔNICA

Lembranças de uma casa e um senhor centenários

Barbara Souza
Casa e Rua
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3 min readApr 4, 2023

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Árvores plantadas por seu Protásio, agora encobrem a fachada de sua casa centenária| Foto: Bárbara Souza

Há cem anos, uma casa situada na Rua São Leopoldo, no bairro Mariluz, na praia de Imbé, cujo número hoje é encoberto por suas árvores, foi construída por uma família oriunda do interior da cidade de São Leopoldo, melhor dizendo, da roça.

Contemplando a casa da sacada do sobrado onde reside minha mãe, as lembranças do seu morador mais ilustre, que também completou 100 anos recentemente, me vieram à mente. Seu Protásio, com 90 anos, no auge dos seus cabelos brancos, ainda subia e descia para arrumar o telhado de sua casa.

De repente os olhos saltam ao celular e vejo uma recordação: o seu Protásio, num registro em cima do seu telhado. Começo a rir, pois neste dia lhe disse:

- Seu Protásio, desce daí, o senhor vai se machucar!

Seu Protásio sorrindo me disse: — Minha filha, quem trabalha na roça não tem medo de nada não!

Com quase cem anos, seu Protásio ainda realizava pequenos consertos em cima do telhado.| Foto: Bárbara Souza

Me pego rindo novamente, quando um vento fresco bate em meu rosto. Olho para a casa e me pergunto: Quem mora nela agora? Sentada na rede da sacada, sinto a nostalgia com o telefone na mão. Quantas vezes a casa do seu Protásio foi alugada?

De repente, o filho dele aparece e diz:

- Minha filha, o pai te mandou um beijo. Respondi, ao ver o seu Alípio acenando e sorrindo pra mim:

- Seu Alípio, manda um beijão pro seu Protásio também!

Nesse instante senti uma saudade do meu avô, que também teria por volta dos seus cem anos. Foi quando o seu Alípio me disse que o seu Protásio, quando está em São Leopoldo, sente saudades de sua casa na praia, sua horta, seus vizinhos!

Quantas histórias vividas e frescas em minha memória da casa e de seu Protásio. Como na vez em que uma viatura parou em frente a sua casa, durante o monitoramento de rotina, e seu Protásio gentilmente ofereceu um café com bolachas. Lembro que os policiais ficaram gratos, pois não haviam almoçado!

Ah! Seu Protásio e sua casinha centenária. Como é bom reativar as memórias contadas aqui através das palavras.

Após sentar e relaxar na rede da sacada da minha mãe, pelo menos pude experienciar que a saudade está em todos os lugares, nos sons, nas imagens e nas próprias histórias que podemos reviver.

Momentos em que ninguém havia interrompido aqueles minutos de alegria que tive. Fico tão feliz por estar contemplando a casa centenária, com as lembranças nas quais mergulhei,

tempo em que aprendi tanto que ao meu redor, com essas pessoas de cabelos brancos, cada um ou uma com suas sabedorias que meu mundo, e não duvide nunca disso, é o mais rico que existe.

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Barbara Souza
Casa e Rua

Mãe em tempo integral, estudante nas horas vagas.