Do anonimato grego ao ápice da América

Letícia Oliveira
Casal Torcedor
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4 min readNov 2, 2021

Você, meu caro palmeirense, provavelmente torceu o nariz quando o nome desse português desconhecido foi anunciado como novo técnico do Palmeiras. Aliás, o “não” do então preterido Miguel Ángel Ramírez já tinha sido um balde de água fria daqueles para o torcedor que esperava, enfim, um nome de peso no comando.

Ao contrário, a diretoria atravessou o Atlântico e trouxe Abel Ferreira, um treinador em início de carreira, com um total de zero títulos no currículo, que estava na Grécia treinando o PAOK, um time sem nenhuma relevância no cenário do futebol.

Eu sei que você ficou puto, meu caro. Eu também fiquei.

Em meio às desconfianças e aos boatos de que o jovem técnico tinha problemas de relacionamento com o time grego, Abel desembarcou no Brasil e chamou a atenção logo de cara quando demonstrou muito conhecimento sobre o Alviverde. “Legal, estudou sobre o Palmeiras… mas e aí?”

Foi na coletiva de imprensa que ele apresentou seu cartão de visitas. Fugindo de respostas óbvias, falando firme, olhando no olho. Muita gente achou que ele estava ali só fazendo média — e talvez estivesse, quem vai saber? — mas falo por mim: eu senti muita sinceridade na fala dele. Foi a partir daquele momento que eu depositei nele a minha confiança e, principalmente, a minha esperança de que fizesse um bom trabalho a médio/longo prazo.

Mas nem precisou de tanto tempo assim…

Em apenas quatro meses, Abel conquistou o que nem o mais otimista dos palmeirenses poderia imaginar: o primeiro título de sua carreira como treinador foi nada mais nada menos que a Copa Libertadores, nossa maior obsessão desde 1999. Na sequência, o tetracampeonato da Copa do Brasil.

Quatro meses. Dois títulos importantíssimos, que se somaram ao Campeonato Paulista de 2020, vencido de maneira brilhante em cima do nosso maior rival ainda sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, e nos deram a tríplice coroa no ano passado.

E não foram só as taças. Claro, elas sempre serão os grandes destaques, mas o que dizer de alguns resultados expressivos como a vitória por 3 a 0 contra o River Plate na Argentina? Da goleada por 4 a 0 contra o Corinthians na fase de grupos e da vitória por 2 a 0 em Itaquera na semifinal, ambas pelo Paulistão? Dos recentes 3 a 0 (fora o baile) em cima do São Paulo nas quartas de final da Libertadores, que despachou o rival e um tabu histórico de até então nunca ter eliminado o Tricolor no torneio continental?

Sim, tiveram as frustrações também: a eliminação no Mundial Interclubes sem conseguir marcar um mísero gol; o revés nos pênaltis das decisões da Recopa e da Copa Sul-Americana; o vice no Paulistão 2021, que tirou o São Paulo da fila; a eliminação precoce na Copa do Brasil diante do CRB; a derrota no clássico contra o Corinthians, com direito à ‘lei do ex’ de atacante fazedor de média. Todas essas derrotas foram muito doloridas.

Os números não mentem, mas acredito que dizer se o saldo até aqui é positivo ou negativo não se resume apenas às vitórias e às derrotas. Para mim, Abel deu várias provas de que é um treinador moderno, exigente e comprometido, e por isso eu acho que ele tem que continuar conosco.

Torço para que ele seja um exemplo bem sucedido do porquê é preciso parar com essa cultura resultadista que nós temos no Brasil, essa máquina de moer técnicos como se todos os problemas se resolvessem apenas com a troca no comando, como se os jogadores também não precisassem ser cobrados pelo mau desempenho em campo.

Com todas as dificuldades para montar o time em ano eleitoral no clube, sem nenhuma contratação, com alguns de seus principais atletas bem abaixo da média, calendário apertado… Abel levou o Palmeiras à sua segunda final consecutiva de Copa Libertadores e atualmente ocupa a vice-liderança do Brasileirão, sete pontos atrás do Atlético-MG, faltando nove jogos para o fim.

Se seremos campeões? Honestamente, eu não sei.

O que eu sei é que eu sou e serei eternamente grata por tudo o que foi conquistado até aqui graças a esse português desconhecido, que deixou a Europa para nos ajudar a pintar a América de verde mais uma vez.

Que a história continue sendo escrita com final feliz para nós.

Avanti, Palestra!

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Letícia Oliveira
Casal Torcedor

Jornalista, 30 anos, palmeirense de coração, apaixonada por futebol e cria de arquibancada.