Preconceito linguístico — E os impactos desse mal que assola a nossa sociedade

Aline Palmieri
CashMe Design
Published in
3 min readFeb 11, 2022

Enquanto eu lia o livro “Preconceito linguístico”, do autor Marcos Bagno, me peguei reflexiva em diversos momentos. Por isso, quis falar sobre a obra no 1º Design Meetup da CashMe.

Capa do livro “Preconceito linguístico”.

O que é preconceito linguístico?

De acordo com o linguista Marcos Bagno, o preconceito linguístico é todo juízo de valor negativo (de reprovação, de repulsa ou mesmo de desrespeito) às variedades linguísticas de menor prestígio social.

Geralmente, o preconceito linguístico recai nas classes sociais menos favorecidas que, na maior parte dos casos, não têm acesso adequado ao ensino de boa qualidade.

Bases do preconceito linguístico no Brasil

Aqui no nosso país, o preconceito linguístico ocorre, principalmente, nas esferas socioeconômicas e regionais.

No campo socioeconômico, a grande parte das pessoas que pertencem às classes mais pobres têm um baixo conhecimento da norma culta da nossa língua por conta do baixo grau de escolaridade que possuem.

Já no que diz respeito à regionalidade, é comum que pessoas que vivem em regiões como o Nordeste, por exemplo, sofram preconceito pelo modo de falar.

Quais são as consequências do preconceito linguístico?

Além de reforçar outros preconceitos ligados a falta de domínio da norma culta, este tipo de preconceito pode fazer com que o indivíduo:

  • Não consiga alcançar melhores condições de vida;
  • Sofra humilhações;
  • Seja alvo de chacota;
  • Seja visto como menos inteligente.

Como combater o preconceito linguístico?

Antes de mais nada, é bom esclarecer um ponto: o combate a esse tipo de preconceito não visa incentivar o erro, mas sim mostrar o abismo educacional que existe entre as camadas sociais — e as consequências desse desastre.

O ideal seria que todos tivessem acesso ao ensino de qualidade, pois ele é o responsável por abrir as portas para melhores oportunidades.

É importante ter em mente que o conhecimento é a melhor arma que podemos usar contra o preconceito.

Existem dois conceitos bem interessantes que ajudam no combate ao preconceito linguístico: a adequação linguística e a variação linguística.

Adequação linguística: é uso da fala ou da escrita de acordo com o contexto em que estamos inseridos. Um exemplo prático deste conceito é prestarmos atenção no modo que falamos em uma reunião de negócios e como nos portamos com os amigos na mesa de um bar.

Variação linguística: como o nome sugere, é a mudança que a língua sofre ao longo do tempo. A língua portuguesa, assim como todas as línguas, passa por mudanças de acordo com o contexto histórico, localização e classe social da pessoa que a utiliza. Um exemplo de variação é o termo “vossa mercê” que, ao longo do tempo mudou para “vosmecê” e depois para “você”.

A gramática existe para documentar e colocar regras em algo que já era colocado em prática antes mesmo dela existir: a língua. Marcos Bagno diz em seu livro que:

“Uma receita de bolo não é um bolo, o molde de um vestido não é um vestido, um mapa-múndi não é o mundo… Também a gramática não é a língua.”

A nossa língua é dinâmica, bela e mostra quem nós somos e de onde viemos. A aceitação da diversidade nos permite alcançar o inalcançável.

Alguns dados sobre o analfabetismo no Brasil

De acordo com o levantamento feito pelo IBGE em 2020, o nosso país tem 11 milhões de brasileiros que não sabem ler e escrever.

Em 2018, dados do Inaf mostraram que 38 milhões de pessoas são consideradas analfabetas funcionais no Brasil.

Dados do Inaf também apontam que 86% dos analfabetos funcionais se comunicam pelo WhatsApp, 72% têm perfil no Facebook e 31% acessam o Instagram.

Por que este tema é importante para as pessoas que trabalham com soluções digitais?

A resposta é simples: porque em algum momento, as pessoas retratadas aqui neste artigo podem se tornar nossos usuários.

Por mais que nós sejamos profissionais munidos de informação, não conseguimos medir com 100% de certeza quantas vidas serão impactadas pelas nossas criações.

Referências

Livro: Preconceito linguístico, Marcos Bagno, 2015

Brasil tem 11 milhões de analfabetos, aponta IBGE — Senado Notícias, 2020

Três em cada 10 são analfabetos funcionais no Brasil, aponta estudo — Época Negócios, 2018

Inclusão digital dá voz para quem não sabe ler e escrever — Diário de Pernambuco, 2020

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