A Chegada — Crítica
É muito satisfatória a indicação de progresso da Academia em dar atenção especial aos filmes de ficção científica. Distrito 9, Avatar, Gravidade e Perdido em Marte são exemplos de obras indicadas de um cinema que antes era preterido por ter sido considerado de gênero. Invasão alienígena é um tema extremamente explorado no cinema. De repente, dentro da ficção científica, seja o assunto com maior enfoque. Nesse pensamento, há vários elos que necessariamente trazemos junto ao se deparar com um filme assim: explosões, heroísmo, guerras e batalhas épicas. A Chegada quebra esse paradigma criado pelos blockbusters.
O enredo inicia como qualquer outro. Em um dia aleatório, a humanidade presencia a chegada de doze naves extraterrestres de formato ovalado (Conchas, como eles chamam). Imponentes, mas inofensivas, as naves pairam sobre o solo inertes. Com o background clichê estabelecido, o filme pode crescer no ponto que nasce sua beleza, o desenvolvimento. Suspeitando das intenções dos alienígenas, o exército norte-americano (representado na figura de Forrest Whitaker), procura a especialista em linguagem, Dra. Louise Banks (Amy Adams) e o matemático teórico Ian Donnely (Jeremy Renner), para estabelecerem contato com a civilização desconhecida.
Construindo a obra em clima de melancolia e desamparo, o excelente diretor, Denis Villeneuve, constrói seu clássico científico (com grandeza equivalente a 2001: Uma Odisseia no Espaço, Interestelar e Contato). Estreando na área da ficção espacial, Villeneuve demonstra, mais uma vez, ser um dos profissionais mais competentes de sua área, na atualidade. Passando por Incêndios, Os Suspeitos e Sicário: Terra de Ninguém, o diretor apresenta um leque infinito de recursos, sem repetir características e aprimorando sua estilística.
O elenco basicamente é Adams. Renner está ali para dar certo apoio, mas é com a Dra. Louise que vivemos a atmosfera de temor pelo desconhecido. Os primeiros minutos do filme servem para justificar a tristeza no semblante da personagem: perdeu sua filha, ainda adolescente. Sentimos o que a Dra. Banks sente. Após isso, na medida em que vai tentando se comunciar com os alienígenas, vivenciamos uma série de flashbacks pertinenentes ao momento. Uma verdadeira injustiça a ausência de sua indicação para o Oscar.
Misturando temas complexos como tempo, linguagem, história e memórias, o filme se desenvolve em ritmo lento, quase parando, algumas horas. Essa parada é necessária, durante todo o tempo somos guiados em clima de apreensão e trauma. Uma mulher sofrida em uma humanidade em crise. Aliás, não obstante a paleta fria e taciturna, a produção evolui com uma sensibilidade cativante. Ao mesmo tempo que descobre formas de contato, a protagonista se descobre e entende seu papel, não só na história, como na sua vida. Assim como em nossa mente, o filme mistura recordação e projeção. Não existe separação concreta entre ambos; a bem da verdade, no emaranhado de neurônios, as sinapses muitas vezes perdem a noção de tempo, misturando fatos e juntando eventos independentes (ou até fictícios).
A trilha sonora é um espetáculo à parte. Jóhann Jóhannssson fecha perfeitamente com a obra e pauta o filme em musicais transcendentais, indicando sempre epifanias e revelações. Ao cabo, finaliza com melodias sublimes, indicando a aceitação da protagonista com seu aprendizado.
Na terça parte, um plot twist sofisticado fecha a obra de forma primorosa e emocionante, unindo as várias temáticas, outrora sem relação alguma.
O tempo (cronológico e psicológico) é uma das grandezas da física que ainda não conseguimos superar. Na verdade, assusta muito quando esse dia chegar. Se soubéssemos nosso futuro, será que repetiríamos os mesmos erros? Alguns sim; os amores mais belos, mesmo que vividos apenas uma vez, serão lembrados para sempre.
Nota: 6/6 (Ótimo)