A Múmia | Crítica

Com o perdão do trocadilho, mesmo com todo whitewashing no Egito Antigo, é obscuro o início do Dark Universe

Lucas Kalikowski
Catacrese
4 min readJun 19, 2017

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Dirigido por Alex Kurtzman. Roteiro por David Koepp, Christopher McQuarrie e Dylan Kussman. Com Tom Cruise, Russell Crowe, Annabelle Wallis, Sofia Boutella, Jake Johnson, Courtney B. Vance.

Que o tal do Universo Compartilhado é o novo grito pop ninguém duvida. Começando pela Marvel, todas as produtoras querem dar uma bocada na nova galinha dos ovos de ouro do cinema. Óbvio, para se inspirarem no MCU, é porque ele deu muito certo (e deu!), mas isso não quer dizer que absolutamente qualquer coisa nesse sentido irá funcionar. Os óculos 3D só funcionaram em Avatar e em meia dúzia de trabalhos até então. A Warner recém começou a acertar o passo com os heróis da DC, a Universal e seu Dark Universe, de igual forma, começaram de forma apática e atropelada.

O enredo acompanha Nick (Cruise) e Vail (Johnson), soldados do exército norte-americano que fazem renda roubando artefatos históricos para vendê-los no mercado negro. Ao acaso, em uma expedição liderada por Jenny (Wallis), descobrem a tumba da Princesa Ahmanet (Boutella), que foi mumificada viva, de sorte que ela volta buscando liberar um grande mal sobre o mundo.

Fugindo do terror do clássico de 1932, o filme retorna ao gênero de aventura que foi estabelecido em A Múmia de 1999, entretanto, sem o mesmo carisma. O diretor e os roteiristas é completamente incompetente no que toca à condução do filme. A começar, novamente, pelo whitewashing do Egito Antigo e pelo comando do casting: de alguma forma acham que é verossímil que Tom Cruise, no auge dos 55 anos, contracene com mulheres de 33 (Wallis) e 35 (Boutella) anos. Ora, não é possível que ainda perdure esse pensamento de que os galãs hollywoodianos possam envelhecer, mas as divas têm que incessantemente se renovarem, pois Deus me livre se elas passarem dos quarenta. Deve ser alguma coisa relacionada a autoafirmação que o homem precisa de que aos ciquenta anos continua sendo um ser viril e cheio de estamina. Por que as mulheres não podem ter essa inspiração também?

Aliás, mais um filme que mostra o Egito Antigo, mais um filme que não coloca atores negros nesse período. Em um olhar histórico-sociológico, A Múmia é digna de pena. Em um Antigo Egito de brancos pintados a ouro e, no máximo, alguns pardos para justificar a localização geográfica, podemos ver a dor de Hollywood em admitir que eles reconhecem uma civilização de cultura negra que não seja no coração selvagem da savana africana.

Para se somar às mancadas, A Múmia evolui de forma afobada e displicente. O roteiro, na tentativa de encaixar e explicar o Prodigium, cede muito espaço à organização, deixando de lado os protagonistas e a própria monstra do filme. Com isso, há excessos de cenas descartáveis, como a luta entre Nick e Mr. Hyde (Crowe, que funcionará como elo entre os vários longas do Dark Universe), que em nada complementa com a obra. Lógico, há umas boas sacadas que não fazem o filme ser totalmente ruim; a cena da queda do avião em gravidade zero e a tempestade de areia a partir das vidraças de Londres (considerando que vidro é areia derretida) foram boas ideias utilizadas.

O elenco também não convence. Tom Cruise está o mesmo, não dá mais pra distinguir o Nick do Ethan Hunt ou do Jack Reacher — são todos absolutamente iguais. Annabelle Wallis trabalha de forma artificial e sem peso; Sophia Boutella é a mais dedicada, tentando todo o trabalho nas costas. Crowe parece confortável em sua forma caricata.

O grande problema foram as escolhas. Com um diretor inexpressivo, o filme ficou suspenso em uma zona de conforto para quem a produz, mas que já cansou o expectador. A ação e aventura já estão sendo exploradas à exaustão por super-heróis, Star Wars, Transformers e o raio que o parta. Não custava tentar inovar nesse ponto e fazer um shared universe que derivasse pro terror. Faltou tomar alguns riscos.

Terminada a sessão e acesas as luzes, a conclusão era só uma: Tom Cruise precisa entender que envelheceu. Aliás, nós precisamos entender e aceitar que envelhecer é normal. No ritmo insano de Missão Impossível, A Múmia tenta ser uma aventura de tirar o fôlego, mas seu efeito é o inverso. Dá muito sono e, pior, muita saudade do Brendan Fraser.

Nota: 2/6 (Ruim)

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