A Princesa Guaxinim (Princess Raccoon) — Seijun Suzuki (2005)

‘ Um homem não pode se apaixonar por um guaxinim, e vice versa’

Alexandre Cardoso
Catacrese
3 min readApr 19, 2017

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Seijun Suzuki, falecido em 2017, foi reconhecido nos anos 60 pelos seus filmes psicodélicos de Yakuza. É um diretor admirado por outros realizadores como Jim Jarmusch, Quentin Tarantino e Takeshi Kitano. Em seu último filme, “A Princesa Guaxinim”, ele apresenta a história de amor entre o príncipe Amechiyo (Joe Odagiri) e a Princesa Guaxinim (Zhang Ziyi), que, como os outros de seu reino, tomam a forma de humanos quando bem entendem.

É uma obra esteticamente exagerada, recheada de non sense e psicodelia. Faz lembrar ao mesmo tempo um conto de fadas, uma fábula e uma opereta: é uma história de amor impossível com elementos fantásticos, animais representando humanos e apresentações musicais teatralizadas.

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O seu enredo pouco importa, é um conto infantil que possui os mais variados clichês. Porém, o estilo surreal do diretor, a extravagância estética do filme e a excentricidade da maneira de contar a história mantém o clima de confusão mental no ar, não se tratando necessariamente de um filme para crianças.

“A Princesa Guaxinim” participou da seleção do Festival de Cannes em 2005, e possui como protagonista a estrela chinesa Zhang Ziyi, reconhecida internacionalmente por filmes como O Tigre e o Dragão e Memórias de uma Gueixa. Sendo esse o seu primeiro papel em um filme japonês — enquanto suas falas são feitas em mandarim, diferente dos outros personagens, suas cenas musicadas são em ambas as línguas.

O filme é baseado nos famosos musicais japoneses dos anos 50 e 60 chamados Tanuki Goten. As apresentações musicais seguem a lógica do resto da direção de arte, usando elementos do folclore japonês misturados com referências da cultura ocidental. Por sinal, as cenas musicais conseguem passear entre a grandiosidade de uma ópera em direção a despretensiosidade de um karaokê.

A marca principal que aparece no filme é justamente a da ambiguidade. O diretor homenageia a sua própria cultura, remetendo a constante internacionalização de seus costumes. Por mais esquisitas que pareçam, não são a toa as escolhas do diretor: seja escalando uma atriz estrangeira que fala em duas línguas em seu papel; o uso do rap, sapateado e até mesmo alguns ritmos latinos nas cenas musicais; referências ao catolicismo na sua história e por fim, o enredo infantiloide do encontro amoroso entre um príncipe estrangeiro e uma princesa guaxinim.

É um filme culturalmente híbrido, que busca representar o choque cultural do ocidente com o oriente, evidenciando isso especialmente para o público japonês e com uma pitada de provocação ao público ocidental. Mesmo assim não chega a ser uma crítica conservadora em busca de uma preservação cultural, mas uma representação metafórica do flerte entre a cultura japonesa e a cultura estrangeira.

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