Beleza Oculta — Crítica

Will Smith e elenco estelar em filme “blazé”, que não consegue ir além do ponto de partida

Lucas Kalikowski
Catacrese
4 min readMar 7, 2017

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O grande problema de filmes apelativos é que, caso não saibam salientar seu argumento, acabam trazendo, junto das lágrimas, cenas clichês e frases de efeito. Beleza Oculta é um filme embusteiro justamente por não ter uma motivação bem definida; coloca dramas profundos em situações horizontais e inova muito pouco quando lhe é exigido algum estofo.

O enredo do filme narra a história de Howard (Will Smith), um publicitário de sucesso que entra em depressão profunda após perder a filha, ainda criança. Seus sócios (vividos por Kate Winslet, Edward Norton e Michael Peña), mesmo que vivendo seus próprios dramas, procuram três atores amadores (interpretados por Helen Mirren, Keira Knightley e Jacob Latimore) para encarnarem a Morte, o Amor e o Tempo e confrontarem o publicitário. Naomie Harris (parece que ela está em todos os filmes ultimamente) fecha o elenco estelar como gerenciadora de um grupo de apoio para pais que perderam filhos.

Sabemos que o filme não soube explorar bem seus personagens a partir do momento que, assim que termina, não conseguimos lembrar o nome de personagens tão importantes quanto os sócios de Howard (que doravante passarão a ser determinados como sócios).

Os famigerados sócios

Mesmo que atulhado de estrelas, infelizmente, o filme não exige de seus atores o suficiente para sair de sua linearidade. Dividindo-se em equipes, o filme é episódico; ao mesmo tempo que os sócios procuram melhorar a condição de vida do amigo, cada um deles contracena com o ator que representa o instituto que os assola. Winslet enfrenta o Tempo, já que dedicou sua vida ao trabalho e não constituiu família; Norton dialoga com o Amor, pois busca o afeto de sua filha, que o odeia, e passou a viver com a mãe após o divórcio; e Peña se aproxima da Morte, temendo seu destino próximo e inevitável.

Através de um festival de obviedades, o filme torna-se uma clara releitura mais realista dOs Contos de Natal, de Charles Dickens. Coincidentemente ou não, a obra se passa nesse mesmo período. Infelizmente, a película acaba sendo mais fraca que a obra literária, no momento em que tenta encontrar força em closes lacrimejantes em Howard e, absurdamente, não questiona em momento algum os métodos usados pelos sócios.

Simples por natureza, as atuações do filme são risíveis, com poucos momentos de lucidez. Norton, completamente desconsoante do tom da obra, aposta num tom mais cômico, que perde força no decorrer do vídeo; Winslet parece estar envergonhada em cada cena que atua; Peña em nenhum momento consegue nos convencer; Winslet e Latimore são esquecíveis com suas frases prontas e desafetadas. Por outro lado, Smith mantém seu trabalho estável, com uma ótima cena final do filme; Mirren, como Morte, parece quem mais se dedica às suas atribuições no longa; e Naomie Harris mantém toda sua qualidade, vivendo seu melhor momento no cinema, sem dúvida alguma.

O diretor David Frankel (Marley & Eu) e o roteirista Allan Loeb (Quebrando a Banca) são os mais sofríveis e incompetentes no exercício do ofício. Claro, não há como um filme ou uma atuação ir além de suas aspirações iniciais. Portanto, o roteiro simplista e desproposital se perde em meio a um emaranhado de dilemas, sem nenhum embate propriamente dito.

Beleza Oculta é mais um caso de uma obra regular que tinha certo potencial. Cheio de boas intenções, o roteiro não sabe dosar as forças que tenta inserir em seus questionamentos, tornando-se raso e, de certa forma, estéril. O grande potencial sucumbe a um comando invisível.

Aliás, invisível não; oculto.

Nota: 3/6 (Regular)

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