Crítica | Kong: A Ilha da Caveira

King Kong retorna às telas em filme-pipoca com roteiro pobre, mas que valoriza as lições dos anteriores

Lucas Kalikowski
Catacrese
4 min readApr 10, 2017

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Dirigido por Jordan Vogt-Roberts. Roteiro de Derek Connolly e Max Borenstein. Com: Brie Larson, Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson, John C. Reiley, John Goodman, Corey Hawkins.

King Kong talvez seja um dos maiores clássicos contemporâneos pela beleza de sua construção. A história, baseada em pura metáfora, traz, na extração do macaco de sua ilha natal, grandes lições. Claro, muito mais do que a destruição da natureza pelo homem, King Kong dialoga com algo de grandeza semelhante: o fato de o homem ser o criador de seu próprio inimigo. Em Kong: A Ilha da Caveira, pode ser que história do símio tenha sido modificada, mas as lições (ainda bem) foram mantidas.

O longa, que se passa imediatamente após a Guerra do Vietnã, narra a história de uma expedição bélico-científica que tinha o fito de mapear a geologia e a biologia de uma desconhecida e misteriosa ilha, a Ilha da Caveira. Ao chegar no local, o grupo se depara com monstros e criaturas horrendas, evidenciando as intenções secundárias de Bill Randa (Goodman), seu idealizador.

Construído de forma episódica e caricatural, o roteiro não arrisca em seus eventos, nem na construção dos personagens. James Conrad (Hiddleston) é o galã e nobre explorador; Mason Weaver (Larson) é uma sensível e corajosa fotógrafa antiguerra; Coronel Packard (Jackson) é o militar fanático. Afora esses, temos o ganancioso, o covarde e o piadista. Tudo para ter um grupo heterogêneo que dê várias possibilidades ao filme.

Vendido como um trabalho sério, o diretor (Roberts) desmente a proposta desde o início. Com uma sequência inicial colorida (quase cartunesca), evidencia-se que não o drama não será trabalhado, focando-se na aventura e no humor. Claro, qualquer dúvida quanto a isso cai por terra quando vemos John C. Riley dar as caras. Impossível se manter sério perante seus olhos joviais e seu humor espontâneo. Na verdade, em meio à natureza selvagem da ilha, o filme alcança mais os ares de Trovão Tropical do que Predador ou Platoon. Sem nada que os exija, o trio principal (Hiddleston, Larson e Jackson) se desenvolve na obra de forma automática e inanimada. Suas resoluções são inerentes ao próprio arquétipo construído no imaginário popular.

Há uma miséria de takes ou diálogos que tentam dar certa verticalidade ao trabalho, mas que são abandonados de pronto. O breve diálogo entre Mason e Packard sobre a posição dos EUA no pós-guerra, se a perdeu ou a abandonou, e a bobble head do então presidente, Richard Nixon, tremendo desesperadamente ao adentrar na ilha tentam dar um certo panorama político, mas que não se sustentam por suas sequências breves.

Com ótimas cenas de ação, o filme repete os demais longas do rei dos macacos. Humaniza a fera e bestializa o homem. Mesmo com todos do grupo concordando que o gorila não ia lhes fazer mal e que só queria paz, Packard irracionalmente o deseja morto, não assumindo que eles quem perturbaram o ecossistema do local com suas bombas. Assim, o gorila (que é muito maior nesse longa, diga-se de passagem) é fuzilado, queimado, cortado, apenas sob a justificativa de que um dia — salientando-se o hipotético — ele poderia vir a fazer isso contra alguém. Qualquer semelhança com as recorrentes intervenções militares (sic) praticadas pelos Estados Unidos é mera coincidência.

Filme-pipoca por essência, Kong: A Ilha da Caveira atinge o fim a que foi idealizado. Estebelece o pano de fundo para que o gorila gigante possa sair no soco com o Godzilla em 2020. A antiga adaptação foi massacrada pela crítica por seu argumento (os monstros se confrontaram para a aumentar os lucros de determinada empresa) e pelo pouco investimento, que com certeza terá de sobra agora.

Podem trazer os gigantes que quiserem: King Kong, Godzilla, Mothra, King Ghidorah. Independentemente da criatura que criarem, o monstro sempre será o homem.

Nota: 3/6 (Regular)

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