Elvis & Nixon | Crítica

História verídica surreal acerta ao apostar no curioso e no caricatural

Lucas Kalikowski
Catacrese
4 min readMay 31, 2017

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Dirigido por Liza Johnson. Roteiro por Joey Sagal, Hanala Sagal e Cary Elwes. Com Kevin Spacey, Michael Shannon, Alex Pettyfer, Johnny Knoxville, Colin Hanks, Evan Peters, Sky Ferreira, Tracy Letts, Tate Donovan.

O ano é 1970. Em sua residência, o Rei do Rock se aterroriza com que vê na televisão. A clara influência de Woodstock e os programas vazios iam contra os ideais americanos em que ele acreditava. Aparentemente, ninguém mexia um dedo sequer para mudar os rumos que a sociedade tomava; mas ele poderia ser esse alguém a reconduzir a população ao caminho correto. Para isso, ele precisaria falar com o então presidente, Richard Nixon, para tornar-se um Agente Federal e ter poderes para tanto.

Nesse ritmo excêntrico e surreal começa Elvis & Nixon, filme baseado em fatos sobre o encontro entre Elvis e o presidente que protagonizou o caso Watergate, um dos maiores escândalos da história norte-americana, que o fez renunciar seu mandato.

No comando da novata Liza Johnson, o filme encontra sua força no talentoso elenco que reuniu. Quando se baseia algo em algum evento, espera-se que tal fato tenha alguma repercussão ou impacto no mundo contemporâneo. Entretanto, a obra se fundamenta em mera curiosidade do imaginário social, de forma que sentimos sempre que ele caminha sobre uma linha tênue que o separa o curioso do banal. Para isso, acertadamente, a diretora recorre ao tom cínico (quase uma ironia debochada), que dá à produção o ar descompromissado com que isso deve ser tratado.

Michael Shannon (Zod, de Man of Steel) e Kevin Spacey (Frank Underwood, de House of Cards) interpretam Elvis Presley e Richard Nixon, respectivamente. Se pelo visual eles em nada se assemelham com as personalidades, no talento eles buscam (com sempre fizeram) as semelhanças. Spacey ressalta toda a descrença e o ar carrancudo que foram característicos do ex-presidente; já Shannon trabalha com as excentricidades do Rei do Rock (beirando o caricato, quase), mas sem desumanizá-lo. No filme, Elvis tem ciência do que representa, toma vantagem disso, mas não deixa de lamentar que virou meramente uma imagem pública, sem privacidade.

Claro, o filme não trata apenas de ambos. Há uma tentativa falha de inserir dramas secundários, protagonizados pelos também talentosos Alex Pettyfer (John, de Eu Sou o Número Quatro), Evan Peters (Mercúrio, da saga X-Men), Colin Hanks (Gus Grimly, de Fargo) e Johnny Knoxville (de Jackass, nem tão talentoso assim). O enredo se desenrola através dos olhos de Pettyfer, que interpreta Jerry, amigo de infância de Elvis e que busca sair da sombra dele e viver sua própria vida, gerando uma relação mínima com o espectador.

Se o conjunto da obra erra por ter um argumento pobre (um evento curioso apenas), corrige-o por sua duração de 86 minutos. O filme, com o tempo que levou e a forma que foi produzida, lembra algum o gênero de telefilme, que são levados para as televisões em episódios ou integralmente em dias especiais.

Elvis & Nixon, por entender o ar curioso do que está tratando, acerta seu tom lúdico e quase irresponsável, já que não há gravações reais do que de fato foi tratado no Salão Oval. Ciente disso, ao fim, existem os clássicos textos que relatam o que aconteceu com os personagens, com destaque ao de Elvis (falecido sete anos após o divertido encontro), que salienta que ele nunca atuou como o agente federal que almejava.

Será?

Nota: 4/6 (Bom)

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