Esquadrão Suicida — Crítica

Lucas Kalikowski
Catacrese
Published in
5 min readFeb 7, 2017

Pior que ir ver um filme cafona no cinema é ir ver um filme cuja cafonice (além de ser inerentemente brega), te surpreende pela infantilidade. Com as expectativas lá no céu, fomos todos levados ao cinema para ter um novo baque. É chegada a hora de Esquadrão Suicida.

O filme tem um enredo muito conhecido de todos, pois foi muito bem sintetizado nos trailers; iniciando no ponto exato em que findou Batman v Superman, o filme tem como argumento a união de vilões meta-humanos que possam realizar missões que um ser humano normal não poderia. A responsável por tal tarefa é Amanda Waller (Viola Davis), que une o time para liquidar um antigo mal que ataca Midway City.

Olhando analiticamente, a tragédia estava anunciada. Após o fracasso de Batman v Superman e um sucesso inesperado de Deadpool, a Warner impôs que Esquadrão Suicida passasse por refilmagens, que, sem sombra de dúvidas, destoaram do resto do filme. Na San Diego Comic-Con de 2015, o filme foi prometido com muita dramaticidade; ao som de I Started a Joke — em uma versão mais trágica que o Bee Gees –, somos apresentados a uma equipe de vilões juntados para enfrentar um mal ainda maior. Com o passar dos trailers e das TV Spots, algo começou a mudar, o filme começou a ter um tom de comicidade que não estava na alma do roteiro. Com os sons de Bohemian Rhapsody e Ballroom Blitz, foi evidenciado que o filme seria muito mais bem-humorado do que esperavam as pessoas fãs do tom sombrio e realista.

Essa derrapada deixou marcas. Com um roteiro furado tal qual um queijo suíço, o filme não tem argumento para se sustentar. É divertido, realmente, mas quase não há nexo causal entre os fatos do filme. A película tinha tudo para ser muito ruim, sendo salva apenas por alguns pontos isolados que serão explicados a seguir.

Começando pelos piores pontos: o roteiro, como já falado, praticamente não existe. A atuação de Jai Courtney (Capitão Bumerangue) é ridícula; com um estereótipo barato de australiano, Capitão Bumerangue insere a palavra “mate” em cada frase que fala. Aliás, quem disse para Cara Delevingne (Magia) que ela era atriz? Não há nada no filme que a salve. Com frases automáticas e sem carisma algum, a atriz simplesmente fracassa em todos os sentidos. A direção de David Ayer também é pífia; o diretor não soube aproveitar a equipe tão diversa que possuía em mãos, canalizando o epicentro do filme em Pistoleiro e Arlequina.

Amarra (Adam Beach), Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje) e Katana (Karen Fukuhara) foram muito subaproveitados. Claro, ia ser muito difícil introduzir os personagens e explorá-los na mesma obra, mas esses ficaram eclipsados a ponto de sumirem em determinadas cenas!

Will Smith (Pistoleiro) é a maior evidência de como um ator pode impor a total descaracterização de um personagem. Assim como Mística (em que Jennifer Lawrence praticamente se recusou a tapar seu rosto com tinta azul), Pistoleiro foi completamente mudado em sua essência. Embora o amor pela filha tenha sido mantido, vilão foi mostrado como um cara com compaixão e amor alheio. Aliás, ele usa sua máscara somente em duas cenas! A atuação é boa, mas não é o Pistoleiro. Basicamente temos o Will Smith de A Procura da Felicidade, sabendo atirar.

Os pontos altos do filme ficam por conta de Margot Robbie (Arlequina), Viola Davis (Amanda Waller) e Joel Kinnaman (Rick Flag). Davis e Kinnaman repetem os papéis que os consagraram em séries televisivas. Amanda Waller é quase uma Annelise Keating, de How to Get Away With Murder; Rick Flag é Stephen Holder, de The Killing. Talvez a maior crítica seja essa: ambos estavam muito bem no filme justamente por serem os mesmos personagens de suas séries. Arlequina é a alma do filme. Humor e drama. A personagem ainda poderia ter se mostrado mais louca do que foi, mas, considerando que é o primeiro filme em que ela aparece, há muito espaço para seu crescimento e, até mesmo, protagonismo.

Jared Leto como Coringa foi diferente. Da mesma forma que o Homem-Aranha está para o Guerra Civil, o Coringa está para Esquadrão Suicida. Suas aparições parecem muito enxertadas. À exceção das primeiras cenas com ele, que provém de flashbacks, todas as outras intervenções são muito forçadas. Entretanto, não fosse por essa antipatia natural de algo que não parece ser integrante do ecossistema construído pelo filme, essa nova versão do Coringa pode dar muito certo no DCEU. Jared Leto é um grande ator. Misturou elementos modernos com acertos clássicos do vilão e criou algo que será marcante, sem dúvidas.

A trilha sonora e a arte do filme são excepcionais. Impossível não se empolgar quando Amanda Waller surge nas telas ao som de Sympathy For The Devil e outras cenas com músicas exclusivas feitas por ícones da cultura pop, ou os cartazes e as artes gráficas do filme, misturando rosa, verde e azul, como se fosse uma aurora boreal.

Esquadrão Suicida é um filme que tinha tudo para dar certo. O começo estonteante do filme se perde com o desenrolar da trama. Cenas de luta fraquíssimas e diálogos bestas no melhor estilo sessão da tarde fazem o filme perecer num mar de clichês. Agora, a única coisa que resta é fazer exatamente isso: juntar os cacos do que pode ser aproveitado, aprender com os erros (de novo) e depositar as esperanças na Mulher-Maravilha.

Nota: 3/6 (Regular)

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