Guardiões da Galáxia Vol. 2 | Crítica

Mais engraçados, mais confortáveis, mais coloridos, mais aventureiros, mais corajosos, mais mais

Lucas Kalikowski
Catacrese
4 min readMay 2, 2017

--

Dirigido por James Gunn. Roteiro por James Gunn. Com: Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Michael Rooker, Karen Gillan, Pom Klementieff, Elizabeth Debicki, Chris Sullivan, Sean Gunn, Michael Rosenbaum, Stan Lee, Sylvester Stallone e Kurt Russell.

Em 2014, uma Marvel já ciente do estrondoso sucesso de seus filmes resolve arriscar ainda mais. Consolidando heróis que até antes de serem lançados eram considerados B (Homem de Ferro, Capitão América, Thor) a empresa resolve apostar as fichas em um grupo de anti-heróis tão desconhecidos que poderiam ser considerados até mesmo de categoria D. Surgem, assim, os Guardiões da Galáxia.

Impressionando por seu excelente timing cômico, a imensa harmonia entre os atores que estavam no time e um roteiro que se alinhava ao MCU em momentos pontuais, o primeiro filme foi um sucesso absoluto de público e crítica. Em 2017, Guardiões da Galáxia Vol. 2 não era mais uma aposta; era, sim, um dos filmes mais esperados do ano.

E que filme.

Passados poucos meses após o fim do primeiro (destoando dos demais filmes, que seguiam uma cronologia linear), o filme continua abordando seu principal mote: família — parece que tudo que o Vin Diesel faz envolve família. Na trama, consolidados como famosos mercenários, o grupo começa a ser contratado para fazer diversas tarefas universo afora. Em meio a uma aventura, eles encontram Ego (Russel), o qual alega ser pai de Quill (Pratt).

Ciente de seus pontos fortes e acertos do antecessor, Guardiões da Galáxia Vol. 2 reforça suas características mais evidentes: o humor e a aventura. De início, o a entrada das piadas pode até parecer um pouco forçada, causando certo estranhamento, mas à medida em que o enredo evolui, nos acostumamos com o ritmo ditado pela obra, de forma que as suspeitas iniciais não se justificam.

O elenco inteiro, novamente, atua de forma maravilhosa, com especial destaque a Yondu (Rooker) e Drax (Bautista). Enquanto no primeiro filme ambos sofreram com menos tempo de tela, nesse os dois são os personagens mais carismáticos e cativantes (os diálogos de Drax com Mantis e Yondu com Rocket Racoon são hilários). O elenco original mantém a qualidade que justificou todo seu destaque no passado: Pratt está muito mais espontâneo como Senhor das Estrelas, Saldana parece que é Gamora desde nascença e, até mesmo, Nebulosa tem maior destaque, aprofundando os dramas familiares entre ela e Gamora. Os acréscimos de Stallone (Stakar, com mais tempo em tela do que o esperado), Russell (Ego), Klementieff (Mantis) e Debicki (Ayesha) atuam como se já tivessem lá há longa data.

O design de produção, por seu turno, não fica atrás. Mostrando diversos mundos ao longo do filme, o trabalho é muito competente ao diferenciá-los das mais diversas formas. Enquanto os Soberanos, com suas peles douradas, beirando o divino, são frios e calculistas, o planeta de encontro dos mercenários, com suas prostitutas robóticas, lembra um gueto sujo de Hanói ou Bangkok. Aliás, com as diversas raças alienígenas que aparecem, eis aqui o primeiro candidato ao Oscar 2018 de melhor maquiagem.

Toda aura construída remete à década de 80. Desde as referências mais óbvias, como a trilha sonora, a obra se constrói com várias remissões. As naves dos Soberanos, por exemplo, controladas remotamente, lembram antigo fliperamas onde várias pessoas ansiosas acompanhavam alguém bater algum recorde. O planeta Ego, cheio de cor e vida, lembra as paletas coloridas que marcaram a moda na época (lembram, também, bastante a psicodelia de Doutor Estranho, o que cria uma identidade com esse universo multicolorido).

A direção de James Gunn novamente surpreende por seu total controle do trabalho. Monopolizando direção e roteiro, o diretor não dá ponto sem nó. Até mesmo os easter-eggs e os fan-services escapam da gratuidade, sendo absurdamente provocativos no sentido de nos fazer divagar em teorias sobre eventos futuros. Aliás, Gunn é muito competente ao dosar a comédia e o drama em diálogos como Peter e Gamora, Peter e Ego e Gamora e Nebulosa. Nesse momento percebemos que os personagens de fato possuem uma história e, com ela, vem sua carga emocional.

Ao chegar em clímax muito intenso, a obra nos desmonta por não nos deixar preparados para tamanha emoção. Sim, os Guardiões da Galáxia são anti-heróis, mas são mortais, são falíveis. Seu heroísmo vem justamente da qualidade de tentar se superar sempre. Nisso eles são sensacionais.

E nem falamos do Bebê Groot.

Nota 6/6 (Ótimo)

--

--