Homem-Aranha: De Volta ao Lar | Crítica

Em filme de roteiro simples, Tom Holland brilha e Michael Keaton encarna um dos melhores vilões da Marvel nos cinemas

Lucas Kalikowski
Catacrese
5 min readJul 11, 2017

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Dirigido por Jon Watts. Roteiro por Jonathan Goldstein, John Francis Daley, Jon Watts, Christopher Ford, Chris McKenna e Erik Sommers. Com Tom Holland, Michael Keaton, Robert Downey Jr., Marisa Tomei, Jon Favreau, Zendaya, Donald Glover, Jacob Batalon, Laura Harrier, Tony Revolory, Bokeem Woodbine, Michael Chernus, Logan Marshall-Green, Jennifer Connely, Gwyneth Paltrow.

Sempre foi com grande pesar que, no passado, o universo cinematográfico da Marvel foi visualizado abdicando das imagens do Homem-Aranha e dos X-Men. Claro, considerando que foi a venda de seus direitos para a Sony e Fox, respectivamente, que salvou a empresa da falência, era um preço baixíssimo a se pagar.

Na medida em que o tempo foi passando, a Marvel (então comprada pela Disney) se capitalizou o suficiente para forçar o retorno de seus personagens a sua casa. Seja retirando-os das histórias em quadrinhos, ou transformando suas origens, um pseudoboicote começou a existir em relação ao amigão da vizinhança ou aos mutantes.

Após um súbito corte na saga do Espetacular Homem-Aranha da Sony (gerada pelas reviews horríveis e arrecadação abaixo do que o esperado), para aqueles que esperavam um dos maiores super-heróis do MCU, o Cabeça de Teia retornou ao lar de forma muito mais modesta que o imaginado. Sua volta, entretanto, não poderia existir de forma melhor.

Com direção ordinária e roteiro pensado às pressas por seis cabeças, não se poderia esperar muita complexidade argumentativa. Claramente inspirado em filmes colegiais como Curtindo a Vida Adoidado ou o Clube dos Cinco, o filme mostra um Peter Parker (Holland) no colegial, administrando a súbita responsabilidade trazida a sua vida por Tony Stark em Capitão América: Guerra Civil. Conciliando a ansiedade de ser um Vingador, bem como a difícil vida no ensino médio, o garoto se depara com um vilão (Keaton) que utiliza a tecnologia Chitauri para traficar no submundo de Nova York.

Como já dito, as inspirações são claras; seja na sala de detenção ou nas cenas correndo pelos jardins das casas (onde inclusive, há uma cena com Matthew Broderick no televisor, deixando clara a analogia), o filme mantém a aura escolar em todos os seus elementos. Para aqueles que imaginaram que Stark roubaria o filme para si, isso não aconteceu. Espertamente, usaram e abusaram a imagem de Hogan (Favreau) para fazer o link entre mestre e aprendiz. Assim, cabe a Downey Jr. algumas poucas cenas de eu avisei ou você pode ser melhor do que isso.

Com demasiada competência, o elenco do filme se encaixou de forma ótima. Holland (que tinha a difícil tarefa de substituir os talentosos Tobey Maguire e Andrew Garfield) muda completamente o ângulo de abordagem, o que lhe favorece; enquanto Maguire se debatia nas angústias da identidade secreta e Garfield direcionava as atenções ao lado descolado, Holland se destina a mostrar a jovialidade e o amadorismo do herói. De forma brilhante, ele se diverte consigo mesmo enquanto tenta se superar para chamar a atenção do Homem de Ferro, que o apadrinha.

Sem sombra de dúvidas o grande destaque fica por Michael Keaton; experiente em filmes de heróis, o ator se mostra o vilão mais verossímil e vertical desde Loki. Com os primeiros minutos do longa destinados a estabelecerem sua psique, somos expostos às motivações do Abutre. Sua sede de vingança e a vontade de garantir a melhor vida possível para sua família são verdadeiras o suficiente para possamos, inclusive, empatizar com o personagem de forma que há tempos não acontecia em qualquer outro filme do MCU.

O elenco complementar, da mesma forma, atua harmoniosamente com os demais. Marisa Tomei, embora subaproveitada, faz o papel da tia legal, que tenta usar sua jovialidade para se conectar a Peter, abandonando de vez a imagem da tutora frágil e idosa das demais Tias Mays. Zendaya tem alguns bons e rápidos momentos de tela, enquanto o alívio cômico fica por conta de Batalon (que o faz de forma ótima, diga-se de passagem). Favreau — em lua de mel com a Disney desde Mogli e dirigindo Rei Leão –, que nunca teve tanto tempo de tela como Happy Hogan, tem cenas excelentes com Holland e, com certeza, deveria ser mais explorado nos filmes.

Curiosamente, o espectador não tem nem pistas sobre alguns outros personagens conhecidos dos quadrinhos — não vêm nem indício de J. J. Jameson, Felicity Jones, ou a família Osborn –, de repente, para serem futuramente trabalhados nas sequências ou em outros filmes do spiderverse que passarão dentro do mesmo universo (ou não, ninguém sabe, nem eles). Claro, existem, espalhadas ao longo 133 minutos, uma infinidade de homenagens aos filmes de Sam Raimi, como a cena do trem em Homem-Aranha 2, ou ao beijo invertido de Homem-Aranha 1.

As cenas atrapalhadas de Peter Parker e sua origem desajeitada como super-herói podem até causar certo incômodo, mas que, ao som de Ramones, geram uma energia contagiante. Embora não existam cenas de ação emblemáticas e o clímax seja morno, o filme foca no amadurecimento de Peter enquanto herói e enquanto adolescente, onde foi muito bem-sucedido.

Em Vingadores: Guerra Infinita, de repente, teremos um Homem-Aranha mais maduro (quase nada) e ciente de suas responsabilidades (um pouco), mas esperamos que mantenha o espírito dado por Holland. Nisso não podem mexer.

Nota: 5/6 (Muito Bom)

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