House of Cards — 5ª Temporada | Crítica

Em seu ano mais fraco, HoC mostra curiosidades da política norte-americana e paralelos com o momento político brasileiro

Lucas Kalikowski
Catacrese
4 min readJun 7, 2017

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Esse texto poderá conter spoilers da série.

Criada por Beau Willimon. Roteiro por Andrew Davies e Michael Dobbs. Com Kevin Spacey, Robin Wright, Michael Kelly, Derek Cecil, Jayne Atkinson, Paul Sparks, Boris McGiver, Neve Campbell, Michel Gill, Reed Birney, Dominique McElligott, Joel Kinnaman, Colm Feore, Campbell Scott, Korey Jackson.

House of Cards (HoC) foi o primeiro sucesso estrondoso exclusivo da Netflix; não foi a primeira obra original, mas foi o primeiro sucesso. No início, mostrava-se um casal com sede de poder, que não media esforços para chegar onde quisesse. À medida em que o tempo foi passando (e os objetivos foram sendo atingidos) o próprio casal começou a dividir, em um espírito individualista, que chega ao estopim do quinto ano da série.

Dividida em em dois arcos bem claros — inclusive com um lapso temporal considerável entre ambas –, a temporada tratou de dois temas bem contemporâneos aos brasileiros: eleições e impeachment. Claro, tudo isso sob o viés da política constitucional norte-americana. Mantendo a tradição de revesamento de diretores, o ano de HoC oscila entre bons e maus momentos, mas fica longe dos ápices que atingira outrora. Realmente, o ponto mais alto da série — e isso falando na categoria do espectador brasileiro e brasileiro apenas — é quando podemos ver as semelhanças e as diferenças entre o sistema eleitoral estado-unidense e brasileiro.

Começando pelo próprio voto em si, enquanto no Brasil usamos a urna eletrônica para o voto obrigatório, os Estados Unidos, com voto facultativo, parecem arraigados na cédula ainda; assim, além de ser muito mais demorada a computação dos votos, o processo é mais facilmente corruptível. Em meio ao enredo da temporada, dois estados finalizam as votações devido a supostas ameaças de ataques terroristas; em princípio, não há previsão na legislação pátria sobre isso, mas não deixa de ser curioso a soluçao apresentada nas telas: enquanto o Senado escolheria o vice-presidente, a Câmara dos Deputados escolheria o presidente, de sorte que ambos não formam uma chapa única, podendo essa ser desmembrada a bel-prazer dos interesses alheios; no Brasil, o presidente e seu vice forma uma chapa única, não possibilitando votos separados. Houve situações no Brasil (Gravataí/RS, em 2017) que, ao invés de embargar uma eleição inteira, elas simplesmente remarcadas, pela facilidade da urna eletrônica.

À parte essas características da eleição indireta, o elenco, novamente, atua de forma sensacional. Kevin Spacey já entendeu a essência de Frank Underwood, e os demais coadjuvantes não fazem menos. Contudo, o grande diferencial é Robin Wright como Claire Underwood. A quarta temporada já havia sido um prenúncio de todo o protagonismo da personagem, mas na quinta temporada todos os holofotes são reconhecidamente apontados a ela. Enquanto Underwood já atingiu o topo, tornando-se um ser onipresente, Claire ainda galga seu espaço, mostrando ser capaz de ainda mais que seu marido fez.

Para finalizar as semelhanças, a epifania de Frank ao fim da temporada não poderia ser mais irônica. Tudo que ele quis, ele conseguiu. Desde o início da série, desejou o salão oval para si, achando que era o máximo de poder que alguém poderia dominar. Entretanto, ao se relacionar com megaempresários e bilionários ele percebeu o óbvio: o poder não está em cargos públicos, mas no ramo privado, emaranhado nas propinas, nas trocas de favores e compras de votos. Quem comanda o ramo privado vai muito além da Casa Branca, vai pro mundo — qualquer semelhança com Odebrechts e JBSs da vida é mera coincidência.

Acompanhar esses protagonistas sempre gera um sentimento agridoce, pois, mesmo sendo maquiavélicos ao extremo, eles possuem muito carisma — a quebra da quarta parede contribui para o fortalecimento do vínculo entre eles e nós. Assim, ao final desse ano, fica muito evidente que, não só apenas um pode derrubar o outro, como é isso que o público quer ver. O confronte Underwood x Underwood vai ser algo de proporcões inimagináveis.

Por mais apática que tenha sido a quinta temporada, as promessas para sexta temporada são gigantes. Assim como os Underwood.

Nota: 4/6 (Bom)

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