La La Land: Cantando Estações — Crítica

Catacrese
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3 min readJan 17, 2017

Por Lucas Kalikowski

Certa noite, Mia voltava frustrada de mais uma festa supérflua, transbordando glamour, e dentro de um bar, escondido em meio à sombra e fumaça, encontra Sebastian tocando algo que lembra a love song de O Poderoso Chefão. La La Land, com isso, sutil e elegante, mostra, assim como os personagens, ter grandes aspirações.

Quando Damien Chazelle, então um desconhecido diretor, foi indicado ao Oscar por Whiplash, os olhares carrancudos de críticos mais conservadores apostavam ser algo muito semelhante a uma sorte de principiante. La La Land estreou e, junto dele, duas certezas firmaram-se: o amor do diretor pela arte faz verdadeiras obras-primas, e ele se tornou uma certeza no mundo cinematográfico.

A história do musical vai muito além do romance entre Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling). Na verdade o filme é sobre perseguir o que se acredita. Nesse ponto surge Mia, a barista da Warner que faz audições nos intervalos, e Sebastian, o pianista de jazz que sonha em ter seu próprio clube, mas precisa ceder suas preferências às grandes massas para ser ouvido. Ambos frustrados, ambos lutadores. Eles encontram em si a força que faltava para dar início à vida adulta.

Com um take inicial de tirar o fôlego — uma sequência contínua estonteante –, La La Land pode ser definido como algo atemporal. Tudo parecia estar acontecendo num palco de teatro. A paleta de cor é viva e quente, as cenas são contrastantes e sempre buscam homenagear os clássicos musicais (difícil não se emocionar com cenas que lembram Cantando na Chuva, Charity, Meu Amor e Vamos Dançar?); no tom sessentista o filme não ignora que se trata, sim, de nostalgia pura, mas os elementos contemporâneos, tal qual o smartphone, servem para evidenciar que é uma adaptação para o público moderno.

O diretor/escritor, novamente, mostra sua admiração pela arte. Assim como em Whiplash, há a devoção pela música e pela arte e o medo de não conseguir conciliar a satisfação profissional e pessoal. Um tema muito em voga na geração atual: até que ponto vale abdicar do certo para enfrentar o nebuloso? Assim, a inteligência do diretor consegue fazer o filme evoluir, tornando-se denso na medida em que o romance é mero pano de fundo para as críticas e homenagens que aparecem na estrada trilhada pelo casal.

Emma Stone e Ryan Gosling fazem um belo par em frente às câmeras. É a terceira vez que atuam juntos, a química é inevitável. Stone está espetacular no que, evidentemente, é a melhor atuação de sua carreira. Toda sua falta de destreza para dança é compensada pela emoção e esforço com o qual atua. Já Gosling, mesmo que eficiente, parece sucumbir como o elo mais fraco do casal; consciente de sua limitação no canto, o ator busca conforto através do piano, de onde emana sua luz.

Com menos canções que um musical usualmente tem, o filme enfoca na vida das personagens. A música é o fechamento da ideia passada, como se fosse a cereja do bolo. E era! Assim como as estações (título do filme), o filme passeia entre melodias felizes e melancólicas, nos fazendo rir e chorar no embalo da trama.

O último ato (exuberante, como poucos), evidencia que se trata de uma obra para sonhadores e divagadores, mas, mais do que tudo, mostra que o próprio filme amadurece com o casal e alcança aquilo que pretendeu.

Muito mais que apenas idealizar, La La Land nos ensina a regozijar nossa vida como ela é.

Nota: 6/6 Ótimo

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