Sniper Americano | Crítica

O velho cowboy não se cansa do herói norte-americano

Lucas Kalikowski
Catacrese
4 min readMay 9, 2017

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Dirigido por Clint Eastwood. Roteiro por Jason Hall. Com: Bradley Cooper, Siena Miller, Kyle Gallner, Cole Konis, Ben Reed, Elise Robertson, Luke Sunshine, Keir O’Donnell, Marnette Patterson.

Clint Eastwood tem um rol muito extenso de grandes trabalhos; à exceção do clichê Curvas da Vida (o qual não dirigiu), todos seus trabalhos são muito premiados e homenageados, dos faroestes a Gran Torino.

Em relação ao filme Sniper Americano, no entanto, o coração se divide em várias partes. Por um lado, entende-se o pensamento americano. Pessoas educadas desde a pequenez a acreditar que seu país é o salvador do mundo e o redentor de todos os pecados da humanidade. O público estado-unidense gosta de ver isso nas telas. Eles amam isso nas telas.

No início do longa, tenta-se disfarçar o pensamento pré-histórico de Chris Kyle (Cooper) com um discurso barato sobre lobos, ovelhas e cães de guarda. Mostra-se que esse pensamento guiou nosso herói durante toda a sua vida até o ponto que ele, fantasticamente, acha que é seu dever salvar o mundo dos maus.

Não se pode contaminar a atuação de Cooper com os ideais superficiais do filme. Ele fez tudo que que o trabalho exige: engordou, ganhou músculos e estudou os trejeitos do verdadeiro Chris Kyle, isto é, deformou e formou corpo e mente pela arte. Em suma, foi um grande ator.

Impossível, não ressaltar, também, a atuação de Sienna Miller como Taya Kyle. Através de seus olhos, acompanhamos o processo de desumanização do idolatrado soldado americano. No pós-guerra, nada é como era. A sensação de abandono que ela tem é repassada ao espectador com maestria.

Entretanto, o diretor (Clint) escancara o seu pensamento em relação à Guerra do Iraque. Ao fazer uma ligação pífia dos atentados de onze de setembro com a invasão no Oriente Médio, ele mostra que, na verdade, os Estados Unidos da América apenas queriam pacificar o mundo. Mandou seus nobres soldados com o objetivo de deixar o mundo mais seguro.

Aliás, o maniqueísmo exacerbado e irritante do roteiro faz, inclusive, nosso querido sniper encontrar seu algoz: um sírio, campeão de tiro nas olimpíadas e caçador de recompensas. Em certo ponto, parece que tudo se resume a uma rixa entre os dois. Como já ressaltado, não nos é dada a chance de criar qualquer empatia pelos muçulmanos. Eles não falam. Como entender os mudos fanáticos? Ou melhor, utilizando uma expressão do próprio filme, como entender os selvagens?

O filme é muito bem produzido (à exceção da famigerada cena do bebê de brinquedo), mesmo com a limitação do orçamento. Os erros de produção percebidos são gafes até toleráveis. Não se pode deixá-las levar ao empobrecimento do filme.

O problema está nos ideais passados. Meio infeliz e batido o uso do jovem branco, patriota, que ama seu país mais que sua vida, e se transforma em herói nacional. O mundo não é tão romântico como Clint pensa. Snipers Americanos e Resgate dos Soldados Ryans servem apenas para alimentar um ego extremamente fermentado na infância norte-americana.

Como falado, o maior problema do filme é com a demonização do oposto. A visão partidária e tendenciosa levou o filme a tentar criar de um super-homem real.

O porquê do nome do filme ser Sniper Americano é desconhecido. Ao longo dos 132 minutos de filme, apenas sete mortes aconteceram por rifle. No meio do filme, simplesmente, esqueçamos os tiros de longa distância, peguemos uma metralhadora e vamos à luta; afinal, salvar os soldados americanos é o que importa. O sistema militar, na verdade, não é nem um pouco hierárquico; todos podemos desobedecer ordens expressas de superiores e largar nossos postos. Isso no futuro vai render um grande filme.

Nota: 3/6 (Regular)

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