Lucas Kalikowski
Catacrese
Published in
4 min readNov 25, 2016

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Sobre Feminismo, Filmes da DC e Misoginia

É difícil para um homem falar sobre feminismo. Mas não deveria. Por mais que o cara se esforce em falar sobre sexismo, o assunto sempre soa artificial. Não deveria, mesmo. Esse texto vai mexer nos brios de muitos. Também não era pra ser assim.

Zack Snyder é um diretor conhecido por suas constantes hiper-sexualizações nos filmes (300, Watchmen, Sucker Punch). Com a obra sempre repleta de roupas apertadas, cinturas finas, músculos enormes e tanquinhos bem delineados, ele, aparentemente, sempre tentou tratar de forma igualitária a exposição do corpo em ambos os sexos. Aliás, violência sexual sempre foi um mote exibido nas produções em que assina.

Em 2013, quando Man of Steel chegou aos cinemas, choveram críticas à Lois Lane (interpretada de forma apagada por Amy Adams). A intrépida repórter, irresponsavelmente, sempre coloca em risco sua vida e precisa ser ajudada por uma entidade com poderes divinos (Superman) para ficar salva. Antes que me apedrejem, essa não é a essência da Lois. No cânone, a repórter não era uma aficionada pelo kryptoniano e tinha seus próprios problemas para resolver; eventualmente, acabavam se cruzando. Mulher independente, não era mero enfeite que Clark poderia carregar de um lado para o outro.

Esperei ansiosamente para que a personagem evoluísse em Batman v Superman, quando, o que aconteceu, foi o inverso. Durante o filme, há, pelo menos, três cenas em que ela precisa de seu alienígena stalker para salvar sua vida (na África; quando Lex Luthor a joga; e presa embaixo d’água). Tentando disfarçar sua desimportância através de diálogos baratos (não sou uma dama, sou uma repórter) e tramas sem sentido (o que aquela bala tinha a ver com tudo isso afinal?), Zack Snyder maquiou o fato de ter preterido a personagem feminina, com alguns lances de pseudoimportância.

Nem entro no mérito dos diálogos frívolos do filme, como o General Swanswick insinuando que a repórter tinha que ter balls (testículos, como sinônimo de bravura), para entrar no banheiro e lhe perguntar sobre a origem do projétil. Implicitamente, o que o militar fala é que somente homens poderiam ter tal ato de coragem. Muito bom. Sempre lembrando que, em Man of Steel, o mesmo militar pergunta a uma capitã o que ela acha do Superman, e ela responde simplesmente kinda hot (gostoso, em português).

Aliás, aproveitando o ensejo, qual o sentido do traje usado pela Mulher-Maravilha? Logo quando os Novos 52 tentam redesenhar um uniforme condizente com a guerreira que ela é, Diana aparece com uma microssaia! Tudo bem, em nenhum momento a câmera objetificou a heroína, mas de saia curta, tomara-que-caia e bota três quartos (de salto!) nem precisa. Sinceramente, não sou estilista, mas imagino alguns trajes mais dignos para serem usados por uma amazona. Não nos esqueçamos que a ridícula cueca vermelha foi removida do uniforme do Superman por não ter sentido algum.

Passada a vergonha, chega o momento do esperado Esquadrão Suicida, de David Ayer. Diretor conhecido por fazer filmes de equipes, de humor ácido. Ridículo. Não há cena com a Margot Robbie que a sexualização de Arlequina, ridiculamente, beire o erotismo. Há a cena em que ela lambe a cela, quando ela veste o uniforme em frente aos soldados e quando ela vai furtar a joia da vitrine da loja. O final apoteótico – sempre com o famigerado feixe de raio azul que vai aos céus – tem takes por entre as pernas da personagem. Claro, todas as cenas com um bom complemento da câmera que achou o ângulo certo para objetificar a personagem.

Uns podem dizer que isso faz parte da psiquê da personagem, a qual nem sabe ao certo o que seus atos representam. Pode ser. Entretanto, há ser lembrado que, atualmente, a Arlequina é vista como exemplo de personagem feminina, uma vez que seus melhores arcos refletem a superação da influência machista e torturante que o Coringa exercIA sobre ela. Independentemente desse fato, todas as cenas em participa são para agrado da audiência pueril e hormonal.

Quanto ao futuro da DC nos cinemas, sabe-se que planejam um filme com heroínas e vilãs, o que de repente possa ser uma virada de mesa para a misoginia que demonstraram até o momento. Enquanto isso, aguardamos ansiosamente o filme solo da Mulher-Maravilha (que será dirigido por Patty Jenkins, de Monster), em que talvez seja mostrado mais do que microssaias.

Estamos em 2016, meus amigos. O mundo, notoriamente, evoluiu em diversos pontos. Atentem seus olhares para os filmes vindouros. Assim, nos anos que se seguem, de repente eu não precise temer ser apedrejado por defender a igualdade de gênero. Temer jamais. Como deveria.

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