X-Men: Apocalypse | Crítica

Bryan Singer continua, com todas as forças, tentando salvar a remendada franquia

Lucas Kalikowski
Catacrese
4 min readMay 9, 2017

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Dirigido por Bryan Singer. Roteiro por Simon Kinberg. Com: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Oscar Isaac, Rosa Byrne, Evan Peters, Josh Helman, Sophie Turner, Tye Sheridan, Lucas Till, Kodi Smit-McPhee, Ben Hardy, Alexandra Shipp, Lana Condor, Olivia Munn.

Em 2016, o mundo amanheceu debatendo o preconceito racial no cinema. Foi uma semana de movimentos, diálogos e novas resoluções. Tudo passou. Então devemos ignorar. Devemos ignorar que o cinema volitivamente quer reescrever a história sob o viés caucasiano de ser. Vamos negar que, após isso, veio um fracassado Deuses do Egito, que sucumbiu ante essa polêmica, que pareceu que não ia se repetir. Vamos esquecer que isso passou despercebidamente pelos olhares clínicos dos críticos ao redor do globo.

A sequência inicial de X-Men: Apocalypse, em um olhar histórico-sociológico, é digna de pena. Em um Antigo Egito de brancos pintados a ouro e negros fazendo o papel de escravos (olha só! Que novidade!), Apocalypse (Oscar Isaac), o primeiro mutante, surge como se fosse uma divindade. Esquecendo o fato de que o filme encara as pirâmides como se fossem palácios — e não tumbas como de fato eram –, a sequência inicial proporciona ótimas cenas de ação, mostrando uma violência que ainda não havia sido demonstrada em seus predecessores.

Críticas históricas à parte, vamos ao ponto que interessa. Afinal, se fôssemos buscar aprendizado, deveríamos procurar um bom documentário.

O enredo do filme orbita em torno desse mutante. Uma divindade esquecida que acorda milênios depois, querendo retomar o mundo que lhe foi tirado. Partindo dessa premissa, no melhor estilo Michael Bay, o filme usa isso de combustível para seguidas sequências de ação e destruição em massa.

O dinamismo que o filme apresenta faz passar de forma fluida seus 144 minutos. Sem perder muito tempo com histórias e explicações, de forma natural, o filme vai se desenrolando (e ao mesmo tempo se diminuindo) de forma que o argumento usado no início de purificação, vira um mero pretexto pra conquista global. Méritos para o filme.

A nova equipe de mutantes, conhecida dos tempos do desenho animado, é construída com certa naturalidade. À exceção do novo Ciclope (Tye Sheridan), Jean Grey (Sophie Turner) e Noturno (Kodi Smit-McPhee) mostram boa desenvoltura em seus papéis, sendo que esse último, no fim, acaba sendo preterido em relação à primeira, para que ela possa se desenvolver. O problema de Tye Sheridan, de repente, é o fato de ele mostrar um pouco mais de boçalidade do que deveria o futuro líder da equipe.

James McAvoy, como Professor Xavier, e Michael Fassbender, como Magneto, mostram, cada vez mais, a excelência de suas performances. Grandes nomes do cinema, já confortáveis em suas funções. Uma pena que o arco de Magneto esteja ficando cansativo, já que em todos os filmes dessa nova trilogia, ele passe pelos mesmos questionamentos: começa inerte, é provocado a ir para o mal e termina se exilando.

Inegável também a antipatia que se desenvolve por Nicholas Hoult (o Fera) e Jennifer Lawrence (Mística). Em total desrespeito ao cânone, ambos se escondem de sua aparência real, com o roteiro inventando motivos escusos para que os atores possam aparecer mais nas telas, sem toneladas de maquiagem no rosto. Afinal, até que ponto a essência do personagem pode ficar ferida por um capricho de contrato de atuação? Não me lembro de isso acontecer em Dredd, com Karl Urban, ou em V de Vingança, com Hugo Weaving.

Mercúrio, assume de vez um protagonismo merecido e previsto desde o Dias de Um Futuro Esquecido, com mais destaque ainda para Evan Peters. Infelizmente, os trailers prometeram mais de Psylocke (Olivia Munn) do que nos foi entregue, resumindo sua participação a três ou quatro linhas.

Alexandra Shipp, como Tempestade, mostra um ressurgimento muito digno da mutante, com atuação e figurino, mostrando desde cedo seu papel de liderança, que será importante para seu futuro.

É inevitável que se abram várias brechas e vários erros com o enredo do filme passado. Afinal, erros de continuidade são, praticamente, uma sequência lógica quando há volta no tempo. Felizmente, esse filme não possui aqueles finais que requerem nossa boa vontade para esquecer (alguém lembra da Mística como Stryker no fim do filme anterior?).

Claro, existe a dispensável participação de Hugh Jackman, como Wolverine. Saturado como personagem, o filme precisou fazer o dito fan-service para satisfazer as massas que vão às telonas.

X-Men: Apocalypse não é o melhor filme da saga. Aquém de Dias de Um Futuro Esquecido e X-Men 2, este filme faz seu papel de reintroduzir as conhecidas figuras da equipe clássica dos mutantes. Que isso sirva de lição para que o diretor Bryan Singer não abandone o barco como fez em X-Men: Confronto Final, sob pena de entrarmos em um looping de constantes reinícios.

Nota: 3/6 (Regular)

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