Por que desenvolver sua liderança é importante no mercado de UX?

Mariana Leite de Almeida
Catarinas Design
Published in
12 min readJul 4, 2018

O mercado de UX está cada vez mais concorrido! Embora hoje a oferta de vagas seja muito grande, a avaliação do perfil profissional tem se mostrado cada vez mais exigente. Isso acontece, principalmente, devido ao amadurecimento da área e a nova percepção do mercado sobre UX Designers:

Eles podem salvar meu produto!

Todos querem pessoas não só experientes, mas, também, e principalmente, com soft skills específicos bem desenvolvidos.

Por muito tempo conhecemos ou trabalhamos em empresas com modelos mais verticais, com hierarquias e cargos bem definidos. Se eu era web designer em uma empresa, não precisaria me preocupar em fazer minha própria gestão, nem controlar a minha demanda, alguém responsável faria isso por mim. Funções exclusivas de cada cargo, onde o poder de decisão e a autonomia estavam nas mãos de poucos, exigiam uma estrutura hierárquica dura e limitante e a chance de crescer em empresas como essas era muita pequena. Esse modelo de rede centralizada hoje é uma realidade cada vez mais distante no mercado de design, em sua maioria as empresas adotam um modelo mais descentralizado onde o trabalho é distribuído em times com lideranças circunstanciais, ou até mesmo, um modelo de rede distribuída onde todos tem poder de decisão e de ação.

Diagrama de Paul Baran

Na Catarinas Design, assim como em muitas outras empresas especializadas em UX, é percebido o modelo de rede distribuída no qual todos os profissionais tem, não só autonomia na tomada de decisões, como também a responsabilidade de gerenciar o tempo e os problemas do projeto, bem como, parte da relação entre cliente e empresa. Esse é um grande indício de que UX tem se tornado uma área cada vez mais forte e que esses profissionais tem assumido papéis muito mais estratégicos dentro das empresas nas quais trabalham.

Nessa nova realidade, onde a exigência em relação ao perfil de profissionais de UX tem se tornado cada vez maior, é natural que ainda não saibamos muito bem que tipo de habilidades precisamos desenvolver para melhor se posicionar no mercado. A grande realidade é que, embora cada empresa espere habilidades diferentes de seus futuros colaboradores, todas elas querem profissionais preparados para lidar com os problemas e desafios do dia a dia de forma mais autônoma, adotando um caráter de líder sem, necessariamente, estar assumindo um cargo de liderança.

Por que é importante desenvolver liderança pessoal?

Vivemos uma mudança de era! Nosso olhar sobre as conexões que fazemos, sejam elas pessoais ou profissionais, tem mudado. Temos percebido mais possibilidades de ser, de agir e de transformar. Com tudo isso, a forma do mercado avaliar os profissionais também tem se modificado. Se por um bom tempo o que mais importava sobre você como profissional era seu QI, hoje essa ideia já tem caído por terra, e tem se pensado mais sobre seu quoeficiente emocional (QE), ou seja, seu preparo cognitivo para lidar com as situações e ser mais adaptável, resistente e otimista.

“Não estamos passando por uma era de mudanças. Estamos passando por uma mudança de era. Isso, que parece um simples jogo de palavras, dá uma dimensão mais precisa do fenômeno. Não estamos mudando de rua, de bairro, de cidade, de país, de planeta. Estamos mudando de universo. Estamos diante de uma revolução. E uma revolução muda absolutamente tudo.” Thiago Mattos, Vai lá e faz

Nesse novo cenário, onde a inteligência emocional* é cada vez mais valorizada, desenvolver seu caráter de liderança pessoal faz com que você consiga ter mais controle sobre sua rotina, mais tranquilidade em tomar decisões e, consequentemente, lhe torna uma pessoa mais preparada para gerenciar seu próprio tempo, conseguindo equilibrar reuniões, entregas e estudos de forma eficiente e assertiva. O desenvolvimento da liderança pessoal ainda pode melhorar sua inteligência social (Goleman), fazendo você desenvolver a capacidade de compreender as pessoas à sua volta e melhorar suas conexões com elas. Isso é muito útil não só na sua vida, mas também quando se trabalha com UX nas metodologias de pesquisa. Resumidamente, trabalhar a liderança pessoal com base em aspectos emocionais, lhe torna um profissional mais preparado para o atual mercado de UX.

Falar é muito fácil. Mas por onde começar?

Desenvolver sua liderança com base no emocional não é uma tarefa fácil e nem rápida, o aprimoramento pessoal é uma jornada longa, mas com grandes resultados, já que a evolução é percebida ao longo da caminhada. Empoderamento é a palavra chave! Conforme você vai buscando e desenvolvendo aspectos emocionais para alcançar um caráter de líder, mais motivado a continuar buscando você se sente. Nessa jornada é importante focar em alguns pontos principais que podem funcionar como base para seus OKRs (Objectives and Key Results) pessoais.

“Daqui 1 ano, você desejará ter começado hoje!”

Autocontrole emocional

Gerenciar sentimentos, impulsos e aflições é uma das tarefas mais difíceis da vida, mas é muito importante para se sentir mais preparado e menos desconfortável em situações difíceis. Trabalhar com UX, seja em projetos diversos ou com um produto específico, traz uma série de adversidades como prazos curtos e refações inesperadas. É natural que muitas vezes nos sintamos pressionados e tensos, passando por situações que nos fazem travar. Por isso (para o bem da sua própria saúde mental), é muito importante desenvolver a capacidade de ficar sereno e calmo em situações estressantes e conseguir pensar claramente sob pressão. Isso ajuda a relaxar em situações que fogem do seu controle.

Pratique a autoconsciência: Pense em quais seus padrões de comportamento. Que situações te deixam ansioso? Que atitudes te deixam brabo? Rotule os sentimentos e entenda qual são as suas reações automáticas em relação ao que está acontecendo. Pare para pensar melhor sobre e tente entender o que pode ser feito e o que está fora do seu controle. Se faça perguntas estratégicas e tente focar na solução dos problemas.

“Consciência é igual a responsabilidade”

Sempre reavalie-se: O que você pode aprender com o que sentiu?

Pratique algum tipo de meditação: Meditar ou criar mantras podem te ajudar a sair de becos emocionais. Eu uso o mantra bem clichê “vai ficar tudo bem!”, mas ele funciona como um comando para meu cérebro entender que preciso mudar o foco e resolver.

Trabalhar seu autocontrole emocional te ajuda em todos os processos de UX, te deixando mais focado e tranquilo para tomar decisões mesmo em momentos críticos. Uma boa dica é fazer anotações de seus padrões de comportamentos para compreênde-los e identificá-los nas situações cotidianas; a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) tem frameworks de registros de pensamentos e ações que podem lhe ajudar nisso.

Framework de registro de pensamentos TCC

Processos de UX impactados: todos os processos que envolvem tomadas de decisão.

Autoconfiança

A capacidade de reconhecer as próprias habilidades (assim como as próprias limitações), percebendo com clareza quais são os pontos de atenção que você deve ter durante a sua rotina de trabalho, lhe faz ter mais confiança na hora de tomar decisões, por mais pequenas que elas sejam. Desenvolver sua autoconfiança além de tornar os processos menos estressantes, lhe proporciona clareza sobre o seu próprio trabalho e o ajuda a defender suas ideias com mais propriedade. Uma forte autoapresentação e uma maneira segura de se expressar são ganhos que vão te levar longe no mercado.

Clientes tendem a acreditar mais em quem defende uma ideia com segurança e confiança.

Saiba que profissional você é: Avalie seus pontos fortes e seus pontos fracos. Fazendo isso, você reconhece que tipo de profissional é, o que te faz um bom profissional e o que você ainda precisa melhorar. Reconhecer-se ajuda a confiar nas suas habilidades e ter consciência de em quais momentos talvez seja interessante pedir uma ajuda. Pra avaliar o profissional que é também é interessante identificar o seu perfil emocional, pois assim você consegue identificar padrões de comportamento e reconhecer suas emoções (e de outras pessoas) previamente.

Converse com as pessoas sobre erros: Todos erramos! E falar sobre nossos erros nos une. Assuma a sua responsabilidade sobre os erros e se abra com as pessoas que conhece, fale sobre os equívocos que cometeu e tente entender coletivamente de que outras formas seria possível fazer melhor. Isso lhe dá mais possibilidades de ação quando vivenciar novamente as situações que lhe induziram ao erro e lhe proporciona uma maior segurança na sua escolha.

Crie expectativas realistas: É natural que criemos muitas expectativas, principalmente quando estamos trabalhando com o que gostamos. Mas é muito importante criar expectativas mais realistas, pensando em mais de uma possibilidade do que pode acontecer. Ter consciência de que algo pode dar errado (e que está tudo bem isso ocorrer) lhe faz ter menos frustrações e pode, inclusive, diminuir as chances de erros muito significativos.

Quanto maior a sua expectativa, maior a sua ansiedade quando algo dá errado.

Processos de UX impactados: apresentações de projeto, reuniões com clientes, workshops de co-criação, decisões de projetos.

Trabalho em equipe/colaboração

Todos nós queremos trabalhar em ambientes nos quais nos sintamos acolhidos, por isso é tão importante uma atmosfera de relações amistosas e cooperativas. Trabalhamos melhor coletivamente quando nos damos bem com as pessoas a nossa volta. O trabalho colaborativo é essencial, principalmente quando falamos de UX, pois além de estar em sintonia com seu time (seja ele de outros UXs ou de profissionais de áreas diversas), você precisará trabalhar juntamente com o usuário para descobrir o melhor a ser feito. Sendo assim, não existe UX sem trabalho em equipe.

Inicie o dia com uma atitude de gratidão: Admirar as pessoas com as quais trabalha faz com que trabalhar com elas seja ainda melhor. Procure enxergar o melhor das pessoas. O que você pode aprender com cada uma delas? Começar o dia mostrando que está feliz em ver seus colegas (e estar de fato) pode tornar o clima da empresa maravilhoso. Praticar um exercício de gratidão ativa no final do dia pode ser uma forma de colocar em prática a gratidão.

Use do bom humor para sair de situações tensas: O bom humor pode ser uma boa saída para situações tensas, descontraindo o clima para desviar o foco do problema e focar na solução. Mas nunca (eu disse nunca!) deixe de falar sobre os problemas de forma a resolvê-los. Problemas precisam ser discutidos! Falando coletivamente sobre frustrações e resoluções chegamos muito mais longe.

Equipe de Sucesso para o Google: O Google realizou uma pesquisa interna em 2015 para mapear quais as habilidades individuais responsáveis por tornar os times muito bem sucedidos. Mas descobriu que quem está em uma equipe é menos importante do que a forma como os membros da equipe interagem, estruturam seu trabalho e visualizam suas contribuições. Para o Google há cinco dinâmicas-chave que diferenciam as equipes de sucesso das demais:

  • Segurança psicológica: podemos correr riscos nessa equipe sem nos sentir inseguros ou envergonhados
  • Confiabilidade: podemos contar uns com os outros para fazer um trabalho de alta qualidade a tempo
  • Estrutura e clareza: os objetivos, os papéis e os planos de execução da nossa equipe são claros
  • Significado do trabalho: trabalhamos em algo que é pessoalmente importante para cada um de nós
  • Impacto do trabalho: acreditamos fundamentalmente que o trabalho que estamos fazendo é importante

“Quanto mais seguros os membros da equipe se sentem, maior a probabilidade de admitir erros, fazer parcerias e assumir novos papéis”

Processos de UX impactados: co-criações, entrevistas, testes de usabilidade, dia-a-dia de trabalho.

Desenvolvimento dos outros

Ajudar as pessoas a sua volta a se tornarem profissionais e pessoas melhores (ao mesmo tempo que elas te ajudam a fazer isso) pode lhe realizar enquanto profissional, dando a você a possibilidade de crescer junto com seus colegas.

Trabalhar com profissionais em constante desenvolvimento, lhe torna um profissional mais propenso a evoluir.

Seja sincero com as pessoas que trabalham com você: Fale sobre os bons trabalhos dos seus colegas, mas também questione e os ajude a chegar em soluções melhores. Peça feedbacks sinceros do seu trabalho (e esteja aberto a recebê-los e melhorar) e sugira que vocês façam essa troca com frequência.

Design Critique pode ser um bom instrumento para o constante desenvolvimento. Com frequência o time de designers se reune para mostrar o que estão fazendo ou as soluções nas quais chegaram. Um designer apresenta o seu projeto e outros comentam sobre o trabalho a fim de melhorá-lo. Todos saem ganhando: o designer que apresentou seu trabalho sai com possibilidades de melhoraria e uma bagagem de aprendizado e os designers que “criticaram” compartilham o seu conhecimento e aprendem junto.

(Tem um ótimo texto do Fabrício Teixeira falando sobre isso)

Processos de UX impactados: todos os processos de UX

Comunicação

Uma boa comunicação é uma das habilidades mais desejadas em designers. Profissionais que se comunicam bem tendem a defender melhor suas ideias e a envolver os ouvintes. Bons comunicadores ouvem com a mente aberta (adaptando sua narrativa conforme o andar da conversa) e enviam mensagens convincentes e claras. Se comunicar bem lhe ajuda a fazer networking, a expor suas ideias em reuniões internas ou externas, a conduzir entrevistas com usuários, a argumentar sobre decisões do projeto (desde a escolha de um componente até a defesa do projeto como um todo), a participar de entrevistas de emprego… Mas não esqueça, a autoconfiança, citada anteriormente, está fielmente relacionada à boa comunicação.

Pratique!: Quanto mais vezes você se colocar em situações nas quais precisa falar para um grupo de pessoas, mais preparado você vai estar para as próximas. Use do reconhecimento emocional para entender o que lhe deixou nervoso e como resolver isso, mas também analise ao fim o que você poderia ter explorado mais na sua fala.

Encontre sua paixão: Quando estiver falando pense sobre o que te fez chegar até ali. O que lhe faz amar o que faz? O que lhe faz acreditar no produto que está apresentando? Encontre o que lhe deixa orgulhoso!

“Quando uma pessoa está apaixonada, sua mensagem é convincente, persuasiva e genuína” John Davies

Esteja preparado: Em apresentações para clientes, principalmente, é necessário uma comunicação clara e segura, o que ajuda a vender as ideias apresentadas de forma muito mais fácil. Você vai adquirir muito mais segurança para esses momentos se tiver se preparado para eles. Seguir os passos abaixo antes de uma apresentação pode lhe ajudar.

  • revise os objetivos do cliente: se os objetivos estão presentes na sua fala o cliente sente que você está trabalhando ao lado dele
  • pesquise todas as questões relevantes: você já conhece o cliente e sabe quais as questões que o deixam desconfiado ou em dúvida, se prepare para possíveis perguntas com bons argumentos embasados
  • conheça todos os lados da história: saiba tudo o que aconteceu no projeto até então
  • revise as apresentações: erros banais podem dar uma má impressão ao cliente

Processos de UX impactados: apresentações de projetos, reuniões internas e externas, sprits/dailys, workshops, entrevistas com usuários.

Conclusão

Eu sei, desenvolver nossos aspectos emocionais não é fácil. Estamos todos em constante evolução emocional nas nossas próprias vidas. Mas se desenvolver líder a partir dessa evolução constante faz, não só o mercado valorizar o profissional que você é, mas também, e principalmente, faz você acreditar em você mesmo. Trabalhando seu quoeficiente emocional você vai executar um trabalho melhor, conquistar seu espaço na empresa que trabalha ou no mercado (vai ser visto como um profissional diferenciado) e, se não bastasse, vai conseguir fazer uma melhor gestão da sua rotina pessoal e ter mais controle emocional para as situações difíceis com as quais se depara. Estar disposto a aprender não é só uma virtude, é uma necessidade em um mercado tão competitivo e em uma área que muda tão rápido.

A promessa é grande, não? Mas a trajetória um pouco sinuosa. Por isso, definir alguns OKRs pessoais podem te ajudar a chegar lá. Quais são suas metas para esse ano? Que profissional você quer ser quando 2019 começar? Defina suas metas, ficará bem mais fácil correr atrás de seus objetivos quando estiver olhando com mais cuidado para eles.

“Frequently i have to shock my system, to feel that i am still alive” John Maeda

Se tornar líder de si mesmo, assumindo um perfil mais autônomo pode lhe tornar não só um profissional mais preparado para o mercado como também uma pessoa mais centrada na sua própria vida!

Vamos conversar sobre isso?

*Um agradecimento especial à Adrielle Vieira por fazer o movimento de pensarmos e discutirmos sobre inteligência emocional dentro da empresa ❤

Referências:

Liderando com inteligência emocional, Reldan Nadler

Vai lá e faz, Thiago Mattos

On Distributed communications, Paul Baran

The five keys to a successful Google team, Julia Rozovsky

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