Raíssa Pena
Catarse
Published in
3 min readSep 3, 2018

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Lovecraft e o mercado editorial

Há exatos dois anos, a editora Ex Machina apostou numa extensa reunião de contos do mestre do terror fantástico, H. P. Lovecraft, para seu primeiro financiamento coletivo. No momento atual (e grave) do mercado editorial, revisitar uma entrevista que fizemos com Bruno Costa, um dos fundadores da editora, é muito valioso. Bruno conta um pouco da experiência de arrecadar mais de R$39 mil com o apoio de 510 pessoas, e crava em uma das perguntas que um dos futuros viáveis para editoras está no financiamento coletivo.

A entrevista já tem um ano, mas está atualíssima. Bruno dividiu conosco o porquê de escolher o financiamento coletivo, os desafios de se publicar um livro independente e os aprendizados gerados nessa jornada. Depois de um árduo esforço em pesquisas, traduções, organização e edição, o lançamento de Contos Reunidos do Mestre do Horror Cósmico foi um sucesso: toda a tiragem inicial esgotou-se antes do fim da campanha, em outubro de 2016.

H. P. Lovecraft ganhou uma coletânea de luxo publicada pela Ex Machina

1 — Por que você escolheu fazer um Catarse ao invés de buscar outra forma de financiamento (grana própria, editais, patrocinadores)?
Nosso principal objetivo era testar a plataforma de financiamento como “interface” com os nossos potenciais leitores/apoiadores: entender o que eles esperavam da edição; que recompensas, além do livro, seriam mais interessantes; compreender melhor o público do livro e as suas expectativas, além de conversar diretamente com os apoiadores, o que faz toda a diferença. O Catarse, nesse sentido, representou para nós um incrível balão de ensaio editorial. Além disso, podemos testar com menos risco a aceitação de projetos mais experimentais.

2 — Qual o principal impacto do crowdfunding no mercado editorial?
Em setembro de 2016, eu e vários outros editores independentes discutimos essa notícia “How Kickstarter became one of the biggest powers in publishing”, que em livre tradução significa "Como o Kickstarter se tornou uma das maiores potências na área de publicações". Nós já estávamos convencidos do enorme potencial das plataformas de financiamento coletivo para a área de publicações, e não apenas para os autores independentes, mas também para as pequenas editoras, independentes ou não, com projetos audaciosos. Agora [2017]que as principais redes de livraria brasileiras estão em crise e que a Amazon pode fincar os dois pés por aqui em breve, com consequências imprevisíveis, é fundamental que as pequenas editoras entendam que elas precisam buscar espaço fora das livrarias (há algumas parceiras, é verdade…), e começar a investir mais no seu próprio ecommerce, em divulgação nas redes sociais, na busca de outros canais de venda e de comunicação com seu público. A verdade é que as livrarias se tornaram canais de venda ineficientes e caríssimos para as pequenas editoras. No Brasil, o financiamento coletivo para publicações está só começando e seu futuro é mais do que auspicioso!

3 — Quais os medos que vocês tinham antes de lançar a campanha e como fizeram para superá-los?
O temor inicial é não saber como as pessoas vão reagir ao seu projeto, à sua campanha. E, claro, se a sua divulgação está dando resultados. À medida em que a sua campanha começa a decolar, você começa a se preocupar mais em tocar a campanha e aprender com os apoiadores.

4 — Qual foi o sentimento de vocês quando o projeto bateu a meta?
O sentimento de alívio, de que nossa premissa inicial estava certa e que havia demanda por aquele projeto!

5 — Qual o maior aprendizado com o processo da campanha?
Ainda estamos estudando as estatísticas e vendo como a campanha poderia ter sido melhor elaborada. Vamos aprender com o erros dessa campanha e errar menos nas próximas. Em todo caso, para nós, o maior aprendizado foi entender a importância dos “experimentos controlados”. Pesquisar, conversar com o público, perguntar, entender, tudo isso é fundamental.

Nós já estávamos convencidos do enorme potencial das plataformas de financiamento coletivo para a área de publicações, e não apenas para os autores independentes, mas também para as pequenas editoras, independentes ou não, com projetos audaciosos.

Fazemos coro com a Ex Machina!

Se você tem uma editora ou publicação independente e quer fazer parte desse futuro onde público e criadores estão mais próximos, não deixe de conhecer o Catarse e lançar o seu projeto!

Confira o post original da entrevista, escrita por Diego Reeberg nesse link.

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