até as plantas daqui de casa

Evelyn Mackus
catching feelings
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3 min readOct 2, 2019

eu não esperava que nada disso fosse acontecer. cê me pegou de assalto. cê sabe, né? eu acho que você finge um pouco que não sabe.

que fisgou meu coração em cada café da manhã conversando sobre a vida. eu acho tão difícil você não ter percebido que tava me ganhando por completo à medida em que meu sorriso mudava de forma ao ver esse teu olho azul

e que cada dia em que eu falava que te amava o sentimento ia mudando, mudando, mudando até que não significasse mais só sua companhia.

é. eu acho difícil cê não ter percebido, mas eu não vou jogar em ti esse peso gigantesco de assumir que cê percebeu sim eu te olhando com cara de boba, priorizando cada momento do meu dia em que eu era capaz de ouvir sua voz, mansinha, tagarela, me contando de cada trivialidade da sua rotina. pode ser que cê não tenha percebido, mesmo — pode ser que com o tempo a porretada da vida tenha me feito ruim de demonstrar

e aí é culpa minha. mas, nossa, eu realmente não quero falar de culpa

porque não é culpa minha e não é culpa sua, só aconteceu. e existe um fantasminha que me diz que poderia ter sido diferente, sim, mas eu deixo ele falar sozinho porque eu não tenho tempo pra isso

e não ter tempo de sofrer deixa as coisas mais fáceis.

toda vez que você tenta resolver algo eu deixo pra lá porque eu não quero conversar e não quero resolver porcaria nenhuma. não tem o que resolver: eu quis, você não quis, fim.

só que cê sabe que eu sempre fui do “quem quer dá um jeito”, né? e assim como eu achava tempo pra te ligar às 3 da tarde, eu arranjo tempo pra dar uma sofridinha, também

até as plantas daqui de casa já sabem seu nome. até a peperômia que cê disse pra eu chamar de cecília me ouviu reclamar de saudade de você

tem uns 3, 4 amigos meus de plantão pra quando eu me coço de vontade de te ligar. uma até fica gritando pra eu me respeitar quando eu cito você, a história, o desgaste e o quanto tá doendo.

e eu não gosto nem de explicar ou de contar que não deu em nada

porque, caramba, que preguiça. de me expressar e de relatar pela décima vez as conversas tortas que afastaram a gente. porque não é nada

no fim, esse é só mais um ensaio sobre um dos meus rolos que não deu certo.

o problema é que eu também arranjo tempo pra pensar no se

e se tivesse dado? e se eu tivesse sido mais paciente, tivesse segurado, tivesse deixado pra lá? e se você correspondesse?

e esse e se seria dolorido e perigoso se não fosse distante, idealista, irreal e impossível

se cê deixasse eu casava contigo, cê sabe. isso cê sabe muito bem.

se cê me desse a chance eu te assumia pro brasil, te levava pro altar, juntava nossos gatos e cê podia chamar a cecília de peperômia, o contrário, sei lá. podia conversar com planta às 7 da manhã de cabelo bagunçado que eu ia achar engraçadinho e tudo. ia ter caneca combinando em casa, parede colorida, filtro de café pra mim e de chá pra você.

ia te levar pra acampar, pra a praia, pra o sul, pra conhecer o mundo inteiro — onde cê inventasse de ir a gente iria, qualquer lugar que fizesse teu sorriso de anjo brilhar. esfregar pezinho, brincar com teu nariz, te encher de beijo e dar tudo de mim pra te fazer a pessoa mais feliz do mundo.

e meu olho não mareja escrevendo isso, não fico sentida. passou, já foi. poderia não ser, também. a gente poderia terminar com um mês, virar trauma e deixar de se ver igual tá sendo agora.

mas a gente nunca vai saber.

meus gatos vão esquecer de você e minha planta não pensa, não sabe que o nome dela deve ser cecília, não vai saber. sigo sem tempo pra drama e sem querer correr atrás, esperando que sua felicidade seja genuína mesmo longe de mim. conversando com planta ou não, cê vai achar alguém, eu vou achar também.

no fim, você fica como o e se mais lindo da minha vida. e só.

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Evelyn Mackus
catching feelings

a sentimental girl de “supersoaker”. chaotic good, doida dos gatos, jornalista e contadora de histórias