Sonhando Reticências

Milena Nakata
categoria aleatoria
2 min readMar 23, 2016

Ela acordou assustada, tarde da noite. Alguém batia desesperadamente na porta. Não estava esperando visitas, pelo menos não a aquela hora da madrugada. Saiu da cama, colocou um leve casaco. Olhou através do quadrado da porta. Sua mãe. O olhar em seu rosto indicava que algo estava errado. Muito errado.

“Ele está vindo”, sussurrou para a filha. “Você tem que fugir, agora.”

O prenúncio da manhã já indicava que em breve a lua daria lugar ao sol. Tinha que ser rápido. Não havia tempo para pensar. Ganhara alguns minutos com o aviso de sua mãe, mas ao que tudo indicava ele já poderia estar chegando. A vila em que ela morava era escondida, mas estava no mapa. Algumas casas cercando um pequeno lago. Ela não sabia como fora encontrada, mas isso pouco importava naquele momento. Precisava sair dali o mais rápido possível.

Estava no quarto, tentando recolher o essencial quando ouviu um carro se aproximar. Era ele, só podia ser. Ouviu, então, sua mãe gritar. Correu pela porta dos fundos, em direção ao lago. Saiu aos tropeços, descendo para as árvores.

Ele ficou furioso ao ver que a mãe dela estava lá. Ela conseguira avisar a filha e esta deveria estar fugindo. Com o anúncio da manhã, alguns trabalhadores chegaram para aparar as árvores nos arredores e diversas caminhonetes estavam estacionadas por entre as casas. Seu carro havia ficado preso, não teria como sair agora. Pegou uma picape qualquer, preta. Saiu a toda velocidade em direção ao lago. Enquanto ela fugia. Tropeçava, caia e se levantava.

O amanhecer dava seus indícios e os primeiros raios de sol iluminavam as árvores. Ela continuava fugindo, para o mais longe possível de sua casa. A caminhonete preta avançava, atropelando arbustos, passando por cima de tudo o que estava em seu caminho. A floresta era grande o suficiente para se perder, mas ela havia memorizado cada raiz, cada curva, cada parte.

As horas passaram enquanto ela descansava no fundo da floresta, apoiada em um tronco. Ele já havia se perdido, dando voltas e mais voltas, em círculos. Ela sabia que aquele seria o momento para voltar à sua casa e buscar suas coisas. Tinha que sair de lá, desaparecer.

Caminhou sorrateiramente em direção a sua casa, observando tudo a sua volta. Não havia mais medo, só adrenalina, vontade de viver. De volta ao seu quarto, começou a fazer as malas. Colocou itens de necessidade básica dentro de uma mochila quando ouviu alguém bater à porta.

Acordou assustada…

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