Atravessando Fronteiras

Redação para Mídias Digitais
Catorze Trinta Ed.6
17 min readDec 17, 2022

A travessia universitária por si só nos mostra novos horizontes e para muitos alunos é só mais uma fase depois do fim do ensino médio. Mas para alunos que vêm de outras cidades do Ceará e até mesmo de outros estados, essa travessia significa um novo recomeço tanto na vida pessoal, quanto acadêmica e até mesmo cultural. É uma nova realidade que pode trazer uma montanha russa de sentimentos e é como se nós fôssemos de novo recém nascidos, aprendendo a reconhecer o espaço ao nosso redor.

As histórias que serão contadas aqui são de pessoas de todo canto do Ceará, do Litoral Leste, Litoral Oeste, Vale do Jaguaribe, Sertão Central até a Serra da Ibiapaba e também do Pará. Pessoas que possuem jornadas muito distintas, jornadas estas que se encontram pela curiosidade e experiência do “novo” e que também se encontram com a minha jornada pessoal. Todas essas histórias serão contadas com a ajuda de músicas que nos ajudaram e nos deram conforto durante essa caminhada.

Olá, eu sou a Lari. Nascida e criada em Tianguá, na Serra da Ibiapaba, interior do estado do Ceará. Onde eu vivi experiências que construíram o que eu sou, onde eu comecei minha carreira unindo design, marketing e educomunicação e onde eu fui escoteira, de família que adora desbravar a Serra e reconhecia o espaço como a palma da minha mão. Mas eu queria mais, queria encurtar minha relação com o mundo e o conhecimento que eu só poderia alcançar dando um passo para fora da redoma. Saí de lá em 2020 aos 22 anos para cursar Sistemas e Mídias Digitais. Na bagagem eu tinha muita expectativa e empolgação.

Sobre expectativas

“Não mostramos nem metade do que temos. Todos os dias crescemos.” CHANGE UP, SEVENTEEN

Antes de uma mudança nós estamos sempre traçando expectativas sobre o que queremos e iremos encontrar. É uma mistura agridoce de emoções onde por mais que nós não externamos, muitas vezes existem altas expectativas.

“A primeira vez que saí de casa, em 2015, eu não tinha um plano. Foi muito mais no impulso de viver algo novo. Eu sabia que seria puxado e que teria que trabalhar. Eu sabia que seria desafiador, então o que viesse nesse sentido estava previsto e todo ganho parecia ser um sinal de um caminho certo. Eu mudei do interior do Pará para Curitiba. Tudo era diferente, a cultura, o clima. Lembro que eu chorava muito no meu primeiro inverno. Eu não tinha noção alguma de frio.[…]’’

disse Lindrielli, a paraense de 29 anos que atualmente mora em Fortaleza.

Sobre sair de casa e expectativas, Nayane, 24, de Sobral, completa:

“[…]Foi um período delicado pois tive que convencer meus pais que eu estava com medo que se não abraçasse aquela oportunidade naquele momento, eu não conseguiria novamente. Quando cheguei, não tinha certeza no que queria me especializar, mas sabia que o SMD me daria ótimas opções, o que está acontecendo mesmo.[…]’’.

Já Dominick, 23, de Limoeiro do Norte pontua:

“Sair de casa foi difícil porque, além de ser filha única em uma família pequena, eu sempre morei na mesma cidade e na mesma casa, desde que nasci. Só percebi que estava tão habituada ao estilo de vida e à rotina que eu conhecia depois de precisar encarar a vida na cidade grande, à qual não me acostumei até hoje. Mas eu sempre quis estudar na UFC, então agarrei a oportunidade e não pensei em desistir nenhuma vez. Sem nenhum familiar na cidade, vim sozinha, em 2017, para estudar Jornalismo, e pensava que seguiria essa carreira.’’

Eu, como nascida e criada em Tianguá achava que sair de casa seria mais fácil porque já tinha uma certa experiência em Fortaleza e achava que eu iria ‘’desenrolar’’ fácil. Mas logo no primeiro mês, em fevereiro de 2020, percebi a dificuldade que eu iria enfrentar. Assim como a Dominick, eu também sou filha única e sempre morei na mesma cidade, então isso acentuava minha expectativa quando estava me preparando para a mudança. Eu finalizei o ensino médio em 2015 e desde então vir para Fortaleza era um sonho e uma meta que eu mantive por muito tempo porque sabia das oportunidades que eu poderia alcançar estando na capital e cursando Sistemas e Mídias Digitais. Tinha grandes expectativas sobre carreira, sobre fazer mais e aprender mais em outras áreas além do design gráfico.

Sobre liberdade e solidão

Se perceber sem pais ou familiares por perto, desde situações mais básicas até aqueles momentos de solidão pode ser uma das experiências que mais permitem o amadurecimento quando você se muda. Se sentir acolhido, encontrar meios de suprir momentos de saudade de amigos e familiares e ter apoio de alguém ou um propósito pode ser um momento significativo mas em vários momentos a mudança pode despertar sentimentos de liberdade.

Sobre novas experiências e o sentimento de solidão, Lindrielli pontua

“[…] Meu pai sempre incentivou o estudo e esse caminho de desbravamento. Eu fiz muitas outras viagens sozinhas nesse período e isso me despertou esse sentimento de liberdade. O sentimento era: se eu conseguir fazer isso eu posso fazer mais. Aí sonhar e realizar passaram a ser caminhos possíveis.’’

Já Daniele, 22, de Tianguá que hoje mora em Fortaleza, disse:

“É algo bem desapontador, mas às vezes eu anulava esse sentimento e tentava ao máximo resolver sozinha. Sempre tive apoio dos meus familiares, principalmente mãe e namorado. Moro com minha filha em um apartamento, o sentimento que mais sinto é liberdade, e não solidão, o momento de você fazer suas próprias escolhas no dia a dia me faz sentir liberdade.’’

“Para matar a saudade, as redes sociais ajudaram muito, além de ligações e mensagens. Para os dias mais solitários: livros, séries, músicas e o bordado livre me fizeram companhia.’’

foi a receita da Nayane. Já para Paulo Henrique, 23, de Quixadá que hoje mora em Fortaleza:

“Foi estranho de início porque era algo que nunca havia sentido, ou percebido antes, então estava lidando com um sentimento pela primeira vez. Tentei buscar realizar coisas que fazia antes para me acalmar. Não tive apoio de início, estava mais por mim mesmo, mas logo consegui grandes amizades que me ajudaram demais. Quando percebi que as novas amizades que eu havia conseguido no IFCE passaram a ser minha nova família.’’

Já para mim ainda está sendo muito difícil me encaixar. Eu sempre fui uma pessoa muito extrovertida que gosta de transitar entre os lugares, falar com todo mundo e estar sempre com pessoas diferentes, mas isso mudou muito em Fortaleza. Em muitos momentos a única companhia que eu tenho é quando meus pais me ligam por vídeo e mesmo em silêncio é muito reconfortante saber que tenho o apoio deles mesmo de longe. O senso de liberdade que eu sinto é em relação ao trabalho, cursos e mais lugares que eu posso frequentar. A minha receita é fazer uma lista de lugares encontrados aleatoriamente no Google Maps e visitar um a cada fim de semana, tirar fotos e fazer um diário de anotações de coisas mínimas que eu percebo ao meu redor nesses lugares. Minha percepção do espaço ao meu redor está lentamente começando a mudar.

Sobre a nossa casa

Falar sobre a sua cidade natal pode abordar várias perspectivas. Todas as pessoas possuem relações diferentes com seu lugar de origem e também existem pessoas que não se identificam com esse lugar. Pode ser desolador ou libertador sair desses lugares, e às vezes os dois ao mesmo tempo. Cada cidade tem a sua rotina, a sua história e um valor imensurável. Principalmente as cidades do interior, que são de onde a maioria dos entrevistados vieram. Também há elementos que a gente sente falta da nossa própria casa, detalhes simples que hoje, longe de casa, fazem toda a diferença e até nos despertam um quentinho no coração quando lembramos.

Nayane relembra como era sua casa

“[sinto falta] de chegar em casa e já saber que iria ter uma janta prontinha, que teria colo e cafuné quando quisesse. Sinto saudade também de ter fácil acesso a casa de familiares e amigos.’’

Dominick também possui lembranças afetivas de casa

“Sinto falta da companhia da minha mãe, de fazer as compras da semana com ela, de almoçar na casa da minha avó e dos esportes que eu fazia diariamente.’’

Lindrielli fala também sobre como era a sua relação com a sua casa e a cidade

“Era um casa simples, mas tinha quintal, muitas árvores frutíferas, tinha pato, galinha. Eu gostava muito de onde eu morava, mas em algum momento eu sentia que precisava de mais, aí eu comecei a não caber mais. Como a grande maioria dos interiores, faltavam aparelhos culturais. As pessoas iam crescendo e repetindo a vida dos pais. Casavam, trabalhavam nas empresas da região e ficavam por lá. Era como a roda girava. Não era muito o que sonhava. ‘’

Amélia, 28, jornalista de Aracati que mora atualmente em Fortaleza, se declara

“Minha casa, a minha cidade natal é uma das coisas que eu mais amo na vida. É clichê dizer isso mas é meu lugar preferido no mundo. Eu sou uma pessoa que tem muito orgulho de ter nascido lá, eu adoro a cidade, adoro as pessoas. Até hoje sinto muita saudade. Eu sentia muita falta do meu quarto, do meu canto, das minhas coisas, da convivência com minha mãe e meu irmão. Tinha muita dificuldade de sentir que a casa da minha avó era minha casa’’

Paulo Henrique conclui:

“Minha cidade era pequena e de interior, não saia muito, mas gostava por ser um local mais em paz. Minha relação antes da mudança era de se sentir limitado na cidade, de não conseguir fazer o que queria fazer. De um quarto próprio para estudar e de poder ficar mais só.’’

Relembrar minha cidade é relembrar um pedacinho de mim. Dizem que você é composto por tudo que você experiencia. A maior parte da construção de quem eu sou foi lá. O jeito de falar que mistura Ceará, sertão e Piauí, as crenças da comunidade e a minha relação íntima com o espaço, onde eu conheço cada rua. Eu ainda funciono no mesmo horário da minha cidade. O comércio de Tianguá, principalmente o centro, não funciona no sábado a tarde, então mesmo em Fortaleza eu nunca programo nada nesse horário. É como eu ainda estou atrelada a cidade. Eu amo o clima frio, a rotina única da cidade, o cheiro da comida da minha mãe, ver ela saindo toda arrumada pra qualquer lugar, o rádio ligado no domingo de manhã enquanto meu pai desmonta qualquer eletrônico, meu cachorro correndo pra mim, trombar com meus amigos na rua, sentir que eu pertenço a um lugar. Meu quarto, meu cantinho, minhas coisas que ainda estão por lá e as fotos deixadas na prateleira.

Sobre vulnerabilidade e experiências

“Depois de rir como um adulto / Mesmo chorando como uma criança / Somos parecidos, estamos juntos / Do jeito que você é / Como uma criança crescida”. KIDULT, SEVENTEEN

A nova experiência de sair de casa escancara pra jovens adultos o que é ser vulnerável. Nós ficamos mais sensíveis a todos os tipos de experiências, ruins ou boas, e elas acabam marcando mais a nossa memória. Ficar doente ou sair com amigos geralmente são experiências corriqueiras quando nós estamos no lugar que somos acostumados, mas não quando nos vemos sozinhos pela primeira vez. É liberdade e medo ao mesmo tempo.

Sobre as novas experiências, Lindrielli diz

“Aqui em Fortaleza, foi a primeira vez que aluguei uma casa. Que fui no cartório, com meu nome e afins. Achei adulto. Toda vez que viajo, mesmo as viagens mais curtas, eu me sinto livre e pra mim são momentos muito significativos.”

Nayane completa

“Quando eu comecei a resolver “coisas de adulto” na minha mudança para meu segundo apartamento no final de 2019. Fui atrás de transferir conta de energia para meu nome, procurar apartamento, falar com imobiliária, ir em cartório. Não imaginava que teria que resolver esse tipo de coisa tão rápido.”

E como viver momentos vulneráveis sozinhos? Lucas, 26, de Mossoró diz

“Teve uma vez que eu fiquei com febre e estava sozinho em casa, foi meio tenso, eu achava que ia passar logo, acabou que eu tive que ir na UPA e tomar uns remédios depois porque tinha pegado uma bactéria na garganta.”

Daniele também passou por esses momentos

“Enquanto o momento mais desafiador foi quando fiquei doente e não tinha minha mãe para me acolher.”

Mas também fazemos memórias especiais e experiências diversas como o Cauê, 21, de Itapajé e morando atualmente em Fortaleza

“Tenho vivido bastantes momentos especiais aqui, mas não sei enumerar o mais especial. Diria que me reunir com amigos para beber e jogar conversa fora são momentos bem especiais pra mim aqui em Fortaleza. Acho que não tive momentos tão desafiadores ou angustiantes morando aqui, mas creio que os desafios são diários… Viver em uma nova cidade, uma nova rotina, novas pessoas, longe dos pais, de pessoas queridas. Para alguém que morou a vida toda no interior essas coisas são um desafio por si só.”

Antes de sair de Tianguá, eu trabalhei por 4 anos e conquistei cargos importantes que até hoje me orgulho muito, então eu já tinha essa experiência de fazer quase tudo sozinha. O momento mais desafiador que eu tive que enfrentar sozinha (e ainda estou enfrentando) foi quando tudo começou a dar errado, a sair do meu controle. Todos os planos que eu fiz sobre carreira, faculdade e vida social não saíram como eu planejei. A vida acontece, centenas de imprevistos começaram a acontecer mil vezes mais e eu ainda não sei lidar com isso. Me culpo e entro em pânico quando atraso algo, me sinto mal por ainda não ter me adaptado a rotina daqui, acho que estou falhando quando quero fazer algo mas tenho medo de errar. Morro de medo de errar e admitir isso. E enfrentar essas questões sozinha está sendo um grande desafio pois às vezes quando contamos aquele problema pra alguém, só o fato de você falar sobre o assunto já alivia a consciência e até traz uma clareza maior sobre o problema e a solução. Isso não acontece quando a gente só guarda pra si.

Um momento que eu lembro com carinho foi quando comecei minha bolsa de pesquisa. Me apaixonei sobre trabalhar com inovação no Setor Público impactando a vida do cidadão de forma positiva por meio do design, linguagem e inovação, algo que eu nunca pensaria que fosse possível se não tivesse vindo pra cá.

Sobre raízes e asas

Às vezes a mudança pode impactar tanto que você adota essa cidade nova como sua…ou você pode decidir por desistir e voltar pra casa ou ir para outro lugar. São muitas possibilidades onde você pode criar raízes ou criar asas, outras pessoas optam por criar os dois. Encontrar propósito ou motivos para permanecer é uma aventura que todas essas histórias encararam com firmeza.

Amélia afirma

“Hoje eu considero que tenho uma base aqui por conta de amigos que eu fiz. Hoje eu tenho a sensação de que eu não estou sozinha, de que aqui também é meu lugar, que eu posso ter mais de um lugar no mundo e eu tenho certeza que esse sentimento veio a partir de construir relações com quem eu confio, com gente que tem carinho, que tem amor, que tem respeito. Sem dúvidas a minha base aqui é ter essas relações de amor e confiança.”

Já Cauê decidiu sair

“No fim do ano passado eu fiz minha primeira viagem de avião, foi legal viver isso e conhecer outros estados e outros paises mesmo que só um pouquinho. […] Eu não fiquei [em Fortaleza], me formei e fui conhecer outros lugares, mas eu gosto daqui, tenho ótimos amigos em Fortaleza.”

Felipe, 26, saiu de Tianguá e foi pra universidade em Rio Grande do Norte sozinho mas voltou pra Tianguá, onde está atualmente

“O que me fez parar foi que quando eu entrei eu achava que queria muito aquilo mas eu não tinha muita noção e eu não fui muito preparado. Não tinha uma preparação do aluno pra tentar fazer ele descobrir o que queria então sempre gostei muito de tecnologia por isso eu vou fazer Engenharia da Computação mas chegando lá eu tive um choque de realidade muito grande. A grande maioria já entendia o que era o curso, já tinham vindo de ensino técnico em computação ou programação.”

Eu quero abraçar essa cidade, mesmo sentindo que ela ainda não me acolhe. Quero ir pra outros lugares também mas preciso primeiro melhorar a forma que eu estou me relacionando com a cidade e as pessoas. Eu ainda não consegui construir vínculo algum com pessoas e isso me desanima. Também não construí vínculo com a cidade porque eu mais me empenhei em melhorar meu lado profissional do que construir essa relação. Pra curar a falta da minha raíz eu preciso criar minhas asas. Mas um vínculo eu criei, criei uma relação ainda mais forte, potente e apaixonante pelo design e como isso tá sempre mudando a minha vida e eu posso usar como ferramenta pra mudar a vida de outras pessoas. Esse vínculo me faz não querer voltar e só avançar, navegar mais nesse mar.

Sobre como enfrentar

O que você diria para alguém que está se preparando para ter essa experiência de morar longe do lugar que está habituado? Eu diria “só vai”, mas geralmente quem já passou por essa experiência também dá conselhos mais pontuais e práticos que um jovem pode até achar maluquice, mas são mantras que ajudam a gente a enfrentar.

Conselhos da Lindrielli:

“Se planeje, pesquise, guarde algum dinheiro e vá. Confie em você e vá. É tipo de experiência que só vivendo pra saber, também é particular, depende de classe, raça, gênero…”

Conselhos da Nayane:

“Primeiro, que terão dias difíceis sim, mas que ao decorrer do tempo, você começa a ter orgulho até das pequenas conquistas. Que a autodisciplina é extremamente necessária, assim como a organização financeira. E que a universidade também é um local para conhecer amizades para além de trabalhos do curso.”

A Daniele fala também sobre as experiências:

“Esteja preparado psicologicamente, porque a universidade, em alguns casos, tem todo um amparado para lhe acolher, mas não é o mesmo acolhimento da sua casa. Você vai vivenciar coisas incríveis que lhe ajudarão a crescer, mas como tudo na vida não é fácil, haverá dificuldades. Apesar dos apesares, somente vivenciando você poderá determinar se é capaz.”

Cauê já aposta no bom “desenrola”

“Eu diria pra abraçar as oportunidades, sabendo ponderar os devidos riscos e benefícios. Saber fazer amizades também é importante, mas não ser ingênuo, pois o mundo é bastante cruel. Acho que esses pontos são cruciais, o resto vai na base do desenrolo da pessoa mesmo. Aprender com os erros é o mais importante nessa jornada.”

Amélia completa

“O que eu diria sobre essa experiência de morar longe é muito voltado a seguir o coração. Eu acho que a gente nunca tá preparado, vão ter desafios, vão ter coisas boas e vai ser sempre assim. Eu segui muito os meus instintos, o que vinha no meu coração. Eu vou pra Fortaleza nem que seja pra fazer cursinho aí eu defendi essa ideia com unhas e dentes porque pulsou no meu coração. Na minha cabeça não tem forma porque com cada pessoa vai acontecer de um jeito diferente mas tenha a consciência de que você tá fazendo uma escolha e ela pode dar muito certo ou muito errado, pode ser muito fácil ou muito difícil. E você estar aberto a novas experiências, aberto a conhecer pessoas e estar aberto a quebrar a cara.”

Como a Amélia disse “com cada pessoa vai acontecer diferente”, porque cada pessoa vai ter essa inspiração a mudança por motivações diferentes e condições diferentes. Eu esperei 4 anos pra vir mas não por medo, mas porque eu não conseguiria me manter se eu viesse de qualquer jeito. Eu fui pro mercado de trabalho, aprendi vários tipos de trabalho pra conseguir chegar aqui e saber desenrolar. Um conselho que eu sempre dou nesse sentido é que aproveite enquanto você pode cometer muitos erros e testar muita coisa nova. Se você quer se mudar pra ter um estudo melhor, uma carreira melhor mas que sabe que não pode pagar, aproveite enquanto pode está com seus pais e teste de tudo, transite entre áreas de trabalho diferentes até encontrar aquilo que pode ser sua motivação. Na hora do aperto, são essas experiências que ajudam. E isso também prepara você psicologicamente pra essas dificuldades que sim, vão surgir. Esteja de coração e mente aberta ao novo também. Porque tudo pode acontecer e você precisa enfrentar. Lá na frente você vai se orgulhar da jornada.

Sobre desacelerar

Por causa dessa jornada agitada, quase sempre nós fazemos cobranças internas quanto ao trabalho, carreira e estudo. Essas cobranças quando partem de nós mesmos podem levar proporções angustiantes que machucam nossa auto estima e fazem a gente se auto sabotar. Se isso não é controlado, essas cobranças podem nos afetar de forma profunda, fazendo com que a gente trabalhe mais e por mais tempo, se culpe por não ter dado mais de si, troque experiências por tarefas. E aí a gente precisa desacelerar o ritmo de vida por causa dessa cobrança interna. Mas nem sempre a gente percebe isso logo.

Lindrielli já passou por esse estágio

“[me faço] muitas cobranças! Eu já vivi um ritmo frenético de trabalho, estudo, freelancer. Eu sempre me envolvo muito com meus trabalhos, é muita energia envolvida. Hoje estou mais consciente de que é bom dar uma desacelerada, mas não sei se na prática isso acontece de maneira efetiva. Tive um burnout recentemente.”

A Dominick também

“Antes eu tinha muito medo de não passar na faculdade e atualmente eu tenho medo de não conseguir um trabalho quando me formar. Essa preocupação causa muitos momentos de ansiedade, depressão e insegurança, mas eu estou tentando melhorar.”

Paulo Henrique completa

“[me faço] cobrança de estar sempre dando meu melhor possível para fazer valer a pena a vinda para outra cidade. Muitas vezes me fazem se sentir sufocado, como em outros me faz seguir em frente. Por causa da cobrança interna e estudar muito estava prestes a ter um burnout.”

Sobre como essas cobranças internas afetam negativamente,

“[me cobro] demais, eu sou meu pior inimigo. Eu não gosto de entrar em competição, porque eu vou me dedicar demais pra ganhar e desequilibrar minha vida pra isso. É melhor ter paz e perder umas competições do que ficar desequilibrado. Eu busco fazer as coisas perfeitinhas e depois fico no dilema de entender que nada é perfeito. É um conflito meio doido mesmo.”

Cauê lida de forma diferente

“Eu na minha adolescência não era uma pessoa que me cobrava muito, era mais relaxado… Mas agora que a vida real começou, comecei a me cobrar mais, estudar mais, e ter mais visão de futuro. Creio que isso seja pelo processo de amadurecimento, mas essa cobrança não é algo que me adoece, é mais pra eu ter um norte mesmo, pois sei aonde estou e onde quero chegar, e isso que é o importante.”

Meu momento mais vulnerável aqui foi quando eu descobri que precisava fazer uma cirurgia e logo depois descobri uma arritmia cardíaca que pode estar sendo causada pelo ritmo de vida que eu adotei aqui. Desde que cheguei, eu me esforço ao máximo pra cumprir com meu propósito aqui e isso me faz querer fazer tudo ao mesmo tempo e sofrer com a minha ansiedade depois, ficar sufocada. Mistura tudo isso e uma pitada de um burnout recém descoberto. Toda a cobrança que só quem passou entende o motivo. Manter 5 disciplinas por semestre, manter notas altas, se cobrar quando adoece e atrasa algo, ter medo de errar, querer fazer tudo ao mesmo tempo porque quer aprender e mostrar resultado…tudo às custas da minha saúde mental. A gente sabe que precisa equilibrar tudo e levar uma vida mais saudável. O segredo pode estar em se conhecer melhor, saber seus limites e aceitá-los.

Sobre novos mares

Todas as histórias aqui são de pessoas que podem ter concluído sua fase de adaptação ou estão ainda nessa jornada. Depois que esse mar acalma, sempre vem mais desafios porque a gente nunca para de querer crescer e desbravar esse mundo.

Lucas afirma

“eu ainda quero estudar mais algumas coisas, mas no momento eu estou me divertindo viajando por aí e levando a vida mais numa boa, socializando e conhecendo outras culturas e tudo mais.”

Paulo Henrique e Cauê também querem focar no estudo

“Priorizar minha saúde enquanto estudo e trabalho. Conseguir concluir a universidade e conseguir um emprego de acordo com minha área de estudo.”

“Creio que meu novo desafio é realmente concluir a faculdade, iniciar uma pós e me firmar no mercado. E, por mais que goste de morar em Fortaleza, conseguir um emprego no exterior é um dos grande objetivos da minha carreira.”

Cauê completa.

Lindrielli lançou seu próprio desafio

“Eu quero trabalhar e estudar tanta coisa. Talvez o mestrado seja o próximo desafio. Eu sonho muito. Gostaria de contribuir com mais projetos de inovação social. Acho que também gostaria de colocar algum projeto meu na rua.”

O desafio para 2023 é traçar objetivos reais. Fazer o que eu posso fazer no tempo que eu tenho. Priorizar minha saúde, voltar a focar no design e conseguir fazer algo que me dê brilho nos olhos. Que eu possa mostrar o que eu consigo fazer. Eu quero descobrir a cidade também, por dentro e ao redor. Quero me apaixonar pelo que ela pode me inspirar e me sentir de casa. Esse é só o começo de todas essas histórias.

Sobre o autor

Larissa Muniz, 25. Graduanda em Sistemas e Mídias Digitais. Designer gráfico e pesquisadora em experiência do usuário. O multi áreas que habita em mim saúda o multi áreas que habita em você. Amo design mas também amo música, que consequentemente me levou a amar dança e amar juntar tudo isso. Contato: https://www.behance.net/ralypenny.

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Redação para Mídias Digitais
Catorze Trinta Ed.6

Perfil da turma da disciplina de Redação para Mídias Digitais 2019.1 do curso de Sistemas e Mídias Digitais da UFC.