Sonhos, vazio, incertezas
Acho que existe algo que não se comenta tanto sobre a faculdade, a insatisfação, talvez crônica. Quando entrei para Sistemas e Mídias Digitais em 2019 lembro de um momento antes de uma apresentação da Camerata de Cordas da UFC, onde alguns alunos do curso eram reconhecidos com o prêmio Magna Cum Laude (a maior qualificação possível na graduação da universidade). Ali eu me perguntei se esse era o objetivo da minha formação, afinal se é uma das máximas da psicologia humana, que nosso cérebro precisa de um motivo, um porquê para tomar ações, então parecia que faculdade era isso, ser o aluno perfeito, ter um Índice de Rendimento Acadêmico (IRA) excepcional, não reprovar em nenhuma cadeira. Fácil, certo?
Mais tarde, depois de duas cadeiras do segundo semestre, eu comecei a refletir e cheguei a conclusão que para mim aquela premiação não fazia sentido. E na ausência de um motivo, parece que tudo aquilo me deixou insatisfeito, infeliz, e eu nunca mais fui o mesmo durante o curso. Parecia que eu tinha feito uma escolha errada no jogo Life is Strange, mas não tinha como voltar no tempo para consertar. Não tinha como ser o Mr. Perfectly Fine na faculdade, não com as minhas habilidades, não com a minha rotina, não com o meu esforço e talvez isso tenha sido meu primeiro baque que me deixou insatisfeito, cronicamente.
A busca por um motivo, no vazio da existência
E veio a pandemia, e parecia que os dias tinham virado uma piada, uma das piores e mais sem graça, eu tinha deixado de ser o protagonista há muito tempo, assistir às aulas pela tela do computador me deixava exausto mesmo que eu sequer me mexesse, e parece engraçado, mas o meu rendimento foi superior. Embora eu não estivesse sentindo que estava indo bem, na verdade parecia que nada estava bom o suficiente, parecia que existia uma vozinha dizendo: “parabéns pelo 10, mas ficou um lixo”.
Não parece justo, vem o conflito interno de que, se você expressa a sua insatisfação, se você põe para fora, é como se você estivesse se vitimizando, ou com inveja, você não está se esforçando o suficiente, ou você deveria procurar algo que te faça feliz. E se você tentar guardar isso para si, tudo isso corrói e dói. E é quando você toma consciência desse conflito, que tudo que faz parece ser errado, simplesmente o seu melhor não é suficiente, mas nesse sistema quem tem tempo para entender isso?
Eu olhava para o espelho e via meu reflexo cansado, e chegava na única conclusão possível naqueles momentos: com certeza o universo me odeia, Nietzsche tinha razão, o mundo é cruel e nada faz sentido, a faculdade era tipo um chefe absurdamente difícil do Dark Souls, mas não existia um padrão de movimentação para decorar, era caótico e imprevisível, e a cada tentativa eu levava um Instant Kill (IK) e não tinha chance alguma de enfrentá-lo.
Abrace o seu destino, seja gentil consigo mesmo
E retornamos ao “novo normal”, e de verdade essa não é nenhuma história de superação para contar, a verdade é que eu ainda estou convivendo com a insatisfação, confusão e insegurança com a faculdade, mas eu aprendi um truque novo, e é bem simples. Por que essa tortura toda vale a pena? Oras, é porque eu vou encontrar com os meus amigos e reclamar da vida com eles, ou talvez eu aprenda algo novo legal, ou talvez eu tenha a oportunidade de fazer algo diferente, exatamente como a escrita dessa revista, ou simplesmente eu possa comer no restaurante universitário (RU), porque eu amo a sobrecoxa de frango com gergelim, é isso Amor Fati, aproveitar as pequenas coisas da vida nessa universidade, pois eu aprendi a conviver com tudo aquilo que me trouxe angústia.
Superado isso acho que a próxima parada na minha jornada do herói é a aproximação da caverna secreta, onde se encontra o tão temido Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), e com certeza o meu maior medo é, como essa persona tímida e introvertida vai enfrentar a coragem de convidar algum professor para ser o seu orientador?
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