Convivendo com Síndrome de Ovários Policísticos(SOP)

Cecília Nóbrega
cecilianobrega
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4 min readDec 4, 2018

Essa síndrome é um distúrbio endócrino que provoca alteração dos níveis hormonais, promovendo a formação de múltiplos cistos nos ovários que fazem com que eles aumentem de tamanho. A mulher também passa a produzir mais hormônios masculinos que podem causar sintomas como aumento de pelos e aparecimento de acne. É a causa número 1 de infertilidade e afeta 1 em 10 mulheres em idade fértil.

Descobri que tenho este problema na adolescência, enquanto minhas amigas tinham a sua menarca (primeira menstruação) uma a uma e comigo nada acontecia. Menstruei pela primeira vez aos 15 anos e depois disso eu praticamente não menstruei até os 18 anos, quando minha pele começou a ficar com acnes de 4º grau e tinha cólicas que me impediam de viver minha vida normalmente, chegando até a desmaiar algumas vezes.

Por causa das cólicas e as acnes, minha mãe me levou a ginecologista, fiz exames de sangue e ultra dos ovários e foi constatado que eu possuo essa síndrome, provavelmente minha causa seja hereditária, já que minha mãe possui o mesmo problema. Como tratamento a médica me indicou o uso de pílulas anticoncepcionais, que em pouco tempo “regulou” minha menstruação e melhorou meu problema com as cólicas, porém minha pele não mudou muita coisa, fui a uma dermatologista e ela me indicou o uso do roacutan. Foi um tratamento bastante severo, mas solucionou o problema por alguns anos.

Na minha primeira ida a ginecologista eu não questionei o uso das pílulas anticoncepcionais, eu nunca havia tomado antes e não fazia ideia dos efeitos colaterais, eu realmente só queria me livrar do meu problema de pele e meu martírio com a menstruação. Sendo que nunca consegui me adaptar muito bem a elas, a pílula que minha médica passou me causava muito enjoos e enxaquecas, troquei de pílula e este problema amenizou. Anos mais tarde, voltaram a surgir algumas acnes em minha pele e os efeitos colaterais da pílula foram ficando cada vez mais persistentes, chegando a ter crises de enxaqueca todas as semanas, muita indisposição, níveis altos de ansiedade e eu literalmente não tinha mais vontade nem disposição para fazer mais nada.

Foi aí que retornei a minha ginecologista e ela falou para interromper o uso da pílula devido as crises de enxaqueca. No momento fiquei muito feliz, pois não aguentava mais ingerir a pílula todos os dias e sofrer com todos esses efeitos colaterais. Eu tinha buscado muita informação na internet sobre mulheres que pararam de tomar, entrei em grupos de facebook e busquei o máximo de informação possível, me sentia completamente segura para parar.

Ao parar a pílula, TODOS OS EFEITOS COLATERAIS SE FORAM, eu vivi dias bem felizes sem enxaqueca, sem o cansaço nas pernas, sem indisposição, voltava do trabalho ainda disposta querendo aproveitar o restante do dia, mas como nem tudo são flores, em 1 mês minha pele começou a ficar grossa e pouco a pouco foram surgindo muitas espinhas na minha pele e eu passei meses só tendo sangramentos de escape, nada de menstruação mesmo.

Usei toda a informação que eu tinha separado sobre alimentação, suplementação natural, fiz exercícios físicos regularmente, tomei fitoterápicos, fiz tratamento com aromaterapeuta, visitava centro de estética de 15 em 15 dias para tratamento de pele, tentei regular minha alimentação ao máximo possível, tentei fazer todo tipo de tratamento durante 8 meses, mas minha SOP é tão severa, que parece que nada disso fazia a menor diferença… Foi quando amanheci com o rosto inchado, completamente desfigurado, que vi que eu precisava recorrer novamente a medicina ocidental, pois tudo que eu mais temia era voltar a tomar pílula anticoncepcional.

Minha pele depois de parar a pílula hormonal

Marquei consulta com ginecologista, dermatologista e endocrinologista. Visitei até mais de uma ginecologista, porém com meus resultados de exames que apontaram desníveis hormonais bastante acentuados, resistência a insulina, ovários tomados por cistos, a minha saída apontadas por todos os profissionais que eu passei era retomar para as pílulas anticoncepcionais, pois meus ovários precisavam ser bloqueados, ou eu poderia até mesmo perde-los como aconteceu com a minha mãe quando tinha a mesma idade que eu.

Não nego que me senti fracassada por não ter conseguido driblar a síndrome com tratamentos alternativos, logo eu que compro a luta pelos tratamentos naturais. Por mais difícil que tenha sido esse período sem pílula, eu considero muito importante para meu autoconhecimento, para eu entender meu corpo e perceber que nossos corpos femininos reagem ao nosso meio, a nossa correria, ao estresse e a sociedade não nos ajuda a entender que nossos ciclos são para serem vividos com muito autoconhecimento, ao invés disso nos fazem nos odiar por sentir tpm, por menstruar… Tudo isso envolve muito autoconhecimento e lidar com mais tranquilidade e consciência. Tenho certeza que eu, que já tenho transtorno de ansiedade, teria passado por essa fase de uma maneira muito mais dolorosa se eu não tivesse tentado manter a calma e esperar meu corpo reagir a isso tudo.

Apesar desta síndrome afetar tantas mulheres em diversos países, ainda existe pouca informação e poucas possibilidades de tratamento para tal. Precisamos abrir o diálogo para que este assunto e tratar disto com mais importância.

Gostaria de reforçar que todos os profissionais que eu passei, estão sendo primordiais para o meu tratamento, excepcionalmente a minha endocrinologista, no qual eu faço visitas de 2 em 2 meses para avaliação do meu quadro clínico e ajuste dos medicamentos que tomo. Neste texto eu pretendia somente introduzir o assunto e abrir as portas para o diálogo com quem convive com SOP. Em nenhum momento eu pretendo desencorajar mulheres a parar de tomar pílula anticonpcional ou aderir a tratamentos “alternativos”. Apesar de fazer tratamento a base de hormônios e outros medicamentos, eu mantenho meus exercícios físicos, aromaterapia e sempre ajustando minha alimentação. Para esse texto não se estender mais, farei outros mais detalhados sobre essas rotinas.

Abraço!

ref.: https://www.gineco.com.br/saude-feminina/doencas-femininas/ovarios-policisticos/

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Cecília Nóbrega
cecilianobrega

Formada em Design gráfico e Design de interação, ilustro nas horas vagas e resolvi escrever.