O escritor e sua glória

Marcela Capobianco
Cena Seguinte
Published in
2 min readMay 22, 2018
Os millenials parecem estar saturados de tantas conexões — e cobranças — digitais

A glória de um escritor é perceber que formou, ao longo da dura caminhada literária, um público cativo. Esse público, meio inebriado, fica sedento por qualquer meia dúzia de palavras que saiam da ponta da caneta do autor adorado. Um público fiel até releva as crônicas sobre o bloqueio criativo, a tela em branco e as autodepreciações em busca de carinho.

Eu escrevo crônicas (quase) semanalmente há (quase) dez anos. Nada sério, nada que tenha me trazido dinheiro ou fama. De algumas delas eu me orgulho. Teve gente que já imprimiu um texto que escrevi, emoldurou e pendurou na parede. Vê se pode! De outras faço questão de esquecer. Bem, guardadas as devidas proporções, os quase dez anos de crônicas me fizeram reconhecer o meu público cativo.

Os 50+. Sim, apesar de eu não ter nem 30, aparentemente consigo conversar numa boa, através do que escrevo, com pessoas bem mais velhas que eu. 50, 60, 70 anos. Eles estão bombando aqui no blog. Já o pessoal da minha geração, amigos próximos até, sequer parecem saber que eu escrevo.

Não estou reclamando, longe disso. Acho incrível, e outro dia parei para pensar sobre algumas possíveis explicações para esse fato. Eu costumo dizer que nasci na época errada. Queria mesmo era ter sido jovem nos anos 60. Hoje em dia teria lá meus 70 e alguma coisa. Seria esse um possível motivo? Meus pais têm 60 e poucos e são quem mais me incentiva a escrever. Graças ao Facebook — e ao sagrado ato de compartilhar tudo que eu escrevo — virei figura conhecida entre amigos deles que mal vejo pessoalmente. Foram eles os que mais cobraram quando dei um tempo do blog.

É bem verdade que o público 50+ anda muito engajado nas redes sociais. Minha mãe, por exemplo, tem muito mais grupos de Whatsapp que eu e acha tudo muito normal. Os millenials parecem estar saturados de tantas conexões — e cobranças — digitais. Eu sigo tentando administrar a vida real com um olho na telinha do celular. Nem sempre dá certo.

Eu sou a minha leitora mais crítica e voraz. E, se alguém se identifica com o que escrevo, fico feliz. Idade não importa nem um pouquinho. Estamos juntos e conectados. Que bom!

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