Ranço do ranço

Marcela Capobianco
Cena Seguinte
Published in
2 min readApr 24, 2018
‘Na boiada da internet e, cada vez mais dependentes de aprovação, estamos perdendo a originalidade’

Eu tenho ranço de quem fala ranço. Ou melhor: tenho pinimba. Eu nunca tinha ouvido falar nesse tal de ranço até que, do nada, ele se tornou o melhor meme de todos os tempos da última semana. Daqui a pouco ninguém se lembra mais. Assim como o ‘miga, sua louca’. Esse já saiu de moda, né?

E o litrão, a coxinha, a nutella, a brusinha, o embuste, o pistola? Tenho pinimba de todos esses termos ‘lacradores’ da internet, que surgem do nada, viram moda, são usados à exaustão em busca de uma curtida fácil e sem erro e, do nada, somem. Ou cansam.

Aliás, já que falei em ‘lacrar’, a situação chega ao extremo quando os redatores publicitários, desesperados para parecerem cool e antenados, resolvem usar a linguagem da internet. É mico certo.

Longe de mim querer cagar regra, dizer o que pode e o que não pode nesse mundão de bytes e likes. Só acho que, na boiada da internet e, cada vez mais dependentes de aprovação, estamos perdendo a originalidade. E olha que nem comecei a criticar as fotos de pôr do sol com uma frase motivacional. Fica para a próxima.

O lugar-comum é entendiante. Arriscar ainda é um prazer. Discordar e debater de forma respeitosa e saudável chega a ser edificante. Sejamos menos unânimes, desafiemos os algoritmos, estouremos as nossas bolhas. Assim, todos os ganhamos. Que tal expandirmos vocabulário e visão? As timelines, minha e sua, agradecem.

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