Seja menos um unicórnio e seja mais um camelo!

Gabriel Akel Abrahão
Center for Design Acceleration
5 min readJun 1, 2020
Photo by Francesco De Tommaso on Unsplash

Apesar da ausência de glamour, frente a uma possível crise econômica e a restrição de circulação implementada pelos governos devido o COVID-19, ser um camelo parece ser algo muito mais atraente do que ser um unicórnio.

O termo "Startup Camelo" cunhado por Alex Lazarow, faz referência a priorização por sustentabilidade, equilíbrio e sobrevivência em detrimento a máxima de Startup Unicórnios, focada a crescimento a todo custo.

O que são Startup Unicórnios?

Photo by Inês Pimentel on Unsplash

Unicórnios, são criaturas mitológicas, famosas pela sua semelhança com cavalos brancos, contendo um chifre em sua cabeça. Na mitologia são associados pela força, raridade e pureza.

No mundo das startups, o termo foi cunhado em 2013 por Aillen Lee, fundadora da Cowboy Ventures e se designa a startups cujo seu valor de mercado é igual ou superior a US$ 1.000.000.000,00 (um bilhão de dólares). Na época, o termo foi usado para representar a dificuldade que é identificar startup com este potencial, um fato tão raro assim como encontrar um unicórnio.

No entanto, a realidade de hoje é a mesma? Apesar de ainda apresentar certo grau de realidade, unicórnios não estão em extinção e possuem seu número populacional cada vez maior ano após ano. Segundo, a CB Insights, hoje, mais de 400 startups são consideradas unicórnios em todo o planeta.

O termo foi tão popularizado no mundo das startups que se desdobrou em "Decacorn" e "Hectocorn" para representar startups avaliadas em US$ 10.000.000.000,00 (dez bilhões de dólares) e US$ 100.000.000.000,00 (cem bilhões de dólares).

O que são Startup Camelos?

Frente ao entusiasmado "Caça aos Unicórnios" do Vale do Silício, Alex Lazarow, afirma que os empreendedores deveriam estar muito mais preocupados em transformar suas empresas em camelos do que as transformá-las em unicórnios. Para ele:

[…] os camelos são reais, resilientes e podem sobreviver nos lugares mais difíceis da Terra. Se adaptam a vários climas, sobrevivem sem comida ou água por meses e, quando chega a hora certa, podem correr rapidamente por períodos prolongados.

Para ele, o modelo unicórnios, que se resume em utilizar vultuosas quantias de dinheiro para aumentar a base de clientes a todo custo, não é mais sustentável e para aqueles lugares onde o dinheiro para capital de risco não é abundante como no Vale do Silício e algumas pouquíssimas outras regiões do globo, a realidade é que o modelo unicórnio nunca foi de fato uma realidade.

Alex aponta quatro importante lições que devemos aprender como empreendedor:

  1. Não Subsidie
  2. Gerencie Custos
  3. Levante Dinheiro Apenas se Necessário
  4. Tenha uma Visão de Longo Prazo

Não Subsidie

Para o Alex, a obsessão de oferecer planos gratuitos ou subsidiados é uma consequência da mentalidade de "crescimento a todo custo". Segundo ele, startups camelo sabem que a cobrança não deve ser uma barreira a adoção de um produto ou serviço e devem ser encarados como um posicionamento de qualidade e de mercado.

Interessantemente, este primeiro aprendizado está ligado diretamente ao conceito de Job, cunhado por Clayton, onde ele afirma que a adoção de um produto ou serviço se deve ao Job que o cliente realizará com o seu produto ou serviço.

Nesse sentido, se você resolve o Job do cliente da melhor forma existente, por que não cobrar? O primeiro ensinamento do Alex coloca em perspectiva o fato de que a gratuidade ou subsídio do seu produto pode estar mascarando a real aceitação de mercado. Se de fato, seu produto ou serviço fosse bom ou fizesse o cliente a realizar seu Job da melhor forma possível, ele estaria disposta a pagar, inclusive, para Alex, até aceitar o pagamento de um prêmio.

Gerencie Custos

No mundo das startups, tratar sobre custos é quase sempre uma discussão vazia, dado que muitas das vezes, não se é despendido qualquer esforço ou preocupação com o assunto.

Caso interessante é o da WeWork, demasiadamente noticiado, onde a mesma mostrou-se não ser lucrativa, por não ter controle do seus custos e entrou em bancarrota.

Caso você tenha interesse para saber mais sobre o caso da We Work, este vídeo pode ser bastante esclarecedor.

Ao tratar sobre custos, Alex afirma:

Novas contratações precisam ser justificadas por aumentos de receita. Os investimentos em marketing precisam ser escalados em um ritmo apropriado. Os níveis de gastos são modulados para que a empresa não vá muito longe no buraco da curva de custos.

Levante Dinheiro apenas se necessário

Photo by Fabian Blank on Unsplash

O terceiro aprendizado do Alex, toca em um pouco muito delicado. Hoje, muitos empreendedores traçam como objetivos e milestones o recebimento de um investimento. Uma métrica de vaidade.

De fato, para certos tipos de empresas em específicos momentos, o investimento externo pode ser uma fonte de recurso demasiadamente importante, mas Alex ressalta que o recebimento de investimento não deveria ser uma obrigatoriedade.

Ele afirma que camelos tendem a postergar a capitação de recursos externo e quando o fazem, podem melhor escolher os termos e o fluxo a ser auferido.

Tenha uma Visão de Longo Prazo

Empreender, para Alex, não é necessariamente sobre quem chega primeiro em determinado mercado, e sim que sobrevive por mais tempo. Para ele, sobrevivência é a condição sine qua non para uma startup e ter uma visão de longo prazo, permite suavizar o dilema entre "crescer ou morrer". Em determinados momentos, uma postura mais moderada visando o longo prazo, pode ser mais benéfica para o futuro da empresa.

Unicórnios vs Camelos

O interessante sobre a guerra entre Unicórnios e Camelos é que este tipo de narrativa sempre se dá frente a uma ruptura do ciclo econômico. Por muito tempo, se questionava a real sustentabilidade dos unicórnios como Lyft, Uber, Tesla e We Work.

As notícias sobre a má performance dos IPOs dessas empresas, ainda colocou mais pauta para esta discussão. Muitos defendiam que esta estratégia de crescimento acelerado era necessária e suficiente para justificar os prejuízos que esta empresas realizavam. A ideia era de o primeiro a chegar seria a empresa vencedora e líder de mercado. No entanto, este crescimento foi constituído em dívidas e fluxos de caixa negativo. Com redução do consumo frente as medidas de restrição à circulação devido o COVID-19, o máxima dos clássicos voltou a tona:

Cash is king

Ou seja, empresas boas são aquelas sustentáveis, que possuem caixa para sustentar suas operações em momento de turbulência e incerteza. São aquelas lucrativas, com baixo endividamento e a preocupação com sobrevivência e o longo prazo.

Para Alex, empresas como Grubhub, Basecamp, Qualtrics e Frontier são exemplos de bons camelos. Das brasileiras, Neon e Nubank fazem parte dessa lista.

Caso você queira saber mais sobre startups camelos, Alex escreveu um livro entitulado Out-Innovate: How Global Entrepreneurs from Delhi to Detroit are Rewriting the Rules of Silicon Valley, onde ele discute mais exemplos e insights sobre Startup Camelos.

Referências

O texto original está disponível no Portal de Entrepreneur (link para artigo)

O texto em portugês pode ser apreciado no Portal do Neo (link para o artigo)

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