Como monges católicos tornaram-se tão bons em produzir cerveja?

Para ser considerada Trapista, a abadia onde a cerveja é feita deve cumprir um conjunto de regras muito específicas

Guilherme Mattoso
Cervejeiros Confessos
3 min readMar 7, 2017

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Entre os amantes de cervejas, a mística em torno das Trapistas é algo único! Embora existam, hoje em dia, incontáveis movimentos e grupos de micro-cervejeiros mundo afora, nenhum outro tem uma história tão longeva e respeitada a dos monges católicos, especialmente os da Ordem dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância, mais comumente conhecida como Trapistas.

São abadias que vêm produzindo cervejas há séculos e seus monges vivem em uma intensa rotina de trabalho e oração — eles acreditam na hospitalidade e na caridade! De acordo com a sua regra, os mosteiros devem ser autossuficientes, por isso, em suas dependências são produzidos muitos dos alimentos e bebidas para consumo próprio.

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Na Idade Média, estes mosteiros também eram conhecidos como lugares onde um viajante ou peregrino poderia encontrar para uma estadia segura, com comida e acomodação de qualidade. Vale destacar que neste mesmo período, a água das comunidades e aldeias era insalubre, carregada de doenças. Por isso, a produção de cerveja, com processos de filtragem e cocção ainda que rudimentares, “higienizavam” a bebida, além dos ingredientes a enriquecerem em nutrientes. Não à toa, tanto a cerveja quanto o vinho eram parte integrante da dieta diária da população.

Com o passar do tempo, à medida que as cervejas trapistas cresceram em fama e popularidade, outras cervejarias começaram a usar o termo “trapista” para designar seus produtos. Por isso, em 1962, os monges recorreram a ações legais para evitar o uso indevido da denominação. Em 1997, seis cervejarias trapistas belgas, uma holandesa e uma austríaca formaram a Associação Trapista Internacional.

Esta organização criou um logotipo especial que só pode ser usado pelos mosteiros trapistas associados, incluindo não só cervejas, mas também, queijos, pães, chocolates e geleias, entre outros.

Atualmente, apenas 11 mosteiros podem utilizar o selo de denominação trapista. São eles:

  • Bélgica: Rochefort, Westmalle, Westvleteren/St Sixtus, Chimay, Orval e Sint-Benedictusabdij de Achelse Kluis (Achel);
  • Holanda: Koningshoeven (La Trappe) e Abdij Maria Toevlucht (Zundert);
  • Áustria: Stift Engelszell (Gregorius);
  • EUA: St. Joseph’s Abbey (Spencer); e
  • Itália: Tre Fontane.

Para ser considerada uma cerveja Trapista, a abadia onde ela é feita deve cumprir um conjunto de regras muito específicas. Essas regras, de acordo com o website da Ordem, são as seguintes:

  • A cerveja deve ser fabricada dentro dos muros de um mosteiro Trapista, pelos próprios monges ou sob sua supervisão;
  • A cervejaria tem de ser de importância secundária dentro do mosteiro e deve seguir práticas de negócios adequadas ao modo de vida monástico;
  • A cervejaria não se destina a ser um empreendimento lucrativo. A renda deve cobrir o custo de vida dos monges e a manutenção dos edifícios e terrenos do mosteiro. O que quer que sobre deve ser doado para instituições de caridade, trabalho social e auxílio de pessoas necessitadas.

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