São Nicolau, Papai Noel e Cerveja: convergências e conciliações

Paulo Sérgio Pereira
Cervejeiros Confessos
3 min readDec 7, 2017

Nascido no século III, com registros entre meados e fins do século (encontram-se fontes que indicam diferentes anos entre 250 e 275), São Nicolau de Mira, assim conhecido pela atuação na homônima região turca, é também São Nicolau de Bari, por conta da cidade italiana para a qual suas relíquias foram levadas, mais de setecentos anos após sua morte. Acrescente-se que seu falecimento tem registros que variam entre os anos de 324 e 326, e que sua memória é celebrada em 6 de dezembro pelos cristãos católicos, e em 19 de dezembro pelos ortodoxos.

Mas nem só de aparentes imprecisões é feita a história de São Nicolau. Convergentes são as fontes que apontam seu nascimento em Pátara, na Ásia Menor, sua origem de família abastada e seus vários atos de caridade e generosidade, ainda que divirjam os pormenores das diferentes versões das histórias que lhe são atribuídas. Tamanha disseminação no imaginário e no histórico de diferentes povos e culturas é tão patente, que chega a aproximá-lo — e até mesmo identificá-lo — com um dos mais representativos fenômenos de convergência de que se tem notícia: um bom velhinho, que nos presenteia com bens materiais e imateriais, trazendo paz e prosperidade.

Em denominações tão semelhantes quanto derivativas, temos Nicolau, Niklaus, Santa Claus. E, dentre tantas outras, destaque-se uma: Samichlaus, termo proveniente do alemão falado na Suiça, que se associa à figura do Papai Noel e dá nome a uma cerveja austríaca do estilo “Doppelbock”, criado por monges católicos para consumo exclusivo nos períodos de jejum da Quaresma. Por suas características marcantes — potência alcóolica, notas de pão, malte, frutas secas e licor — a Samichlaus figura entre as chamadas “cervejas natalinas”. Não por acaso, é produzida apenas uma vez ao ano, justamente em 6 de dezembro.

Mais que supostas imprecisões e divergências, o imaginário popular e os registros históricos em torno da figura de São Nicolau promovem fenômenos de convergência e conciliação. Ainda que não habitualmente relacionado entre os chamados “santos cervejeiros”, tem, dentre seus feitos, os méritos da aproximação entre culturas, da associação com um ícone de uma das mais importantes festas cristãs, e da representatividade numa das bebidas mais celebrativas produzidas pela humanidade.

Portanto, celebrar o nascimento do Menino Jesus, na noite do dia 24 de dezembro, erguendo um brinde com uma cerveja natalina ao bondoso e caridoso São Nicolau e, sobretudo, àquele que dá fundamento à sua fé, não seria um impropério, mas uma justa honraria. Que o Cristo Jesus, por intercessão do santo do dia, nos presenteie com ainda mais paz, caridade e religiosidade, e que saibamos reconhecer e retribuir tamanho amor. Valei-nos, São Nicolau!

Referências:

Oliver, Garrett. A mesa do mestre cervejeiro: descobrindo os prazeres das cervejas e das comidas verdadeiras — São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2012.

http://cleofas.com.br/612-sao-nicolau-de-mira/

http://www.franciscanos.org.br/?p=59708

http://cccista.com.br/site/santo-do-dia-06-de-dezembro/

https://www.fatheralexander.org/booklets/portuguese/st_nicolas_p.htm

https://santo.cancaonova.com/santo/sao-nicolau-sagrado-bispo-de-mira/

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