Santo Arnulfo de Metz: um fenômeno de mídia?

Paulo Sérgio Pereira
Cervejeiros Confessos
3 min readAug 1, 2017

Quando criamos o “Cervejeiros Confessos”, em outubro de 2016, movia-nos um objetivo anterior à inspiração para o projeto: promover a difusão e a melhor compreensão dos vínculos entre a Igreja Católica e a Cerveja. Decorridos alguns meses desse advento, e passadas duas semanas desde o dia de Santo Arnulfo de Metz, percebemos com alegria um incremento na difusão de conteúdos pertinentes em algumas redes sociais. Será mais um milagre de Santo Arnulfo?

O que antes escandalizava é hoje concebido apenas como pitoresco. Ora depreciada por muitos cervejeiros “seculares”, ora menosprezada até mesmo por clérigos — quando não simplesmente desconhecida de ambos os públicos — a relação entre Igreja Católica e Cerveja ainda causa estranheza, mas desperta também interesse. Enquanto a difusão do trabalho de sommeliers e de mestres-cervejeiros confere à bebida cada vez mais prestígio social, iniciativas de conscientização do papel da Igreja Católica no registro e no aperfeiçoamento da produção de cerveja ao longo de séculos mostram ser, não só plausível como também salutar, a produção e o consumo de cerveja por religiosos e leigos. Há poucos dias, em 14 de julho, o Mosteiro de São Bento, em São Paulo, lançou sua própria cerveja, prática comum em alguns monastérios cistercienses, produtores das chamadas cervejas trapistas.

Há que se reconhecer também a contribuição da chamada “grande mídia” nesse desvelamento. Recentemente, voltou a ser compartilhada em redes sociais uma reportagem de um programa de televisão de ampla visibilidade (ver matéria), sobre a existência de uma cervejaria nas dependências de um convento redentorista, instalada quando de sua construção, no fim do século XIX, por religiosos holandeses. A cerveja produzida, intitulada Hofbauer em homenagem a São Clemente Maria Hofbauer, ostenta em seu rótulo o subtítulo “A Cerveja do Convento”, sendo destinada exclusivamente ao consumo dos padres. O cervejeiro, Pe. Flavio Leonardo Campos, da Igreja de Nossa Senhora da Glória, em Juiz de Fora-MG, menciona na matéria a tradição — hoje mais restrita — do consumo de cerveja no cotidiano das ordens religiosas, sem que haja nisso qualquer contradição ou incoerência. Por fim, apresenta a Bênção da Cerveja, do antigo Rituale Romanum.

Ainda assim, o que ocorreu em 18 de julho último e, sobretudo, na semana que sucedeu à data, pode ser considerado atípico: uma disseminação de informações referentes a Santo Arnulfo de Metz em diferentes grupos de diferentes redes sociais. Numa espécie de “oitava celebrativa”, circularam informações do dia do santo, compartilhadas inclusive por católicos “não-cervejeiros” e por cervejeiros “não-católicos”. A despeito dos equívocos temporais por replicação de conteúdo e das habituais confusões com Santo Arnaldo de Soissons, demonstrou-se nesse episódio não apenas o interesse de alguns pelo assunto, mas também o desejo de transmiti-lo a outras pessoas. Certamente, não se trata aqui de um milagre. Mas podemos afirmar com segurança que Santo Arnulfo ensejou, em nossos tempos, algo que promoveu em vida, que confirmou em sua morte e nos legou desde então: o encontro entre a Igreja, a Cerveja e as pessoas.

Viva a Igreja! Viva a Cerveja! Salve Santo Arnulfo de Metz!

--

--