Como é ser designer no CESAR?

Relato da minha jornada como designer em um instituto de inovação.

Rodrigo L. Carneiro
CESAR Update

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Comecei esse artigo quando fiz 1 ano de casa e senti que estava bem encantado enquanto escrevia. Decidi maturar a ideia por mais um ano, para além da paixão também trazer uma visão crítica nesse texto.

Onde eu estava

Com 17 anos passei em Design, na UFPE no campus de Caruaru. Saí de Recife, onde nasci e cresci, sabendo de duas coisas:
1. que não conhecia nada da cidade no qual ia morar e
2. nem de Design.
Talvez, como a maioria dos jovens recém saídos do ensino médio, quando me perguntava o que escolheria como profissão para o resto da minha vida eu não sabia o que responder. Só queria algo que eu gostasse bastante e como gostava de desenhar, me inscrevi no curso de Design.

Ironicamente, hoje desenho mais (no sentido conceitual) e não curto mais desenhar (no sentido prático) como fazia no início da faculdade.

O curso de Design foi uma aventura e tanto. Descobri que desenho é apenas uma parte do design. Quebrei a cabeça sobre fundamentos e conceitos. Fiz amigos para a vida toda. Me diverti explorando várias áreas do conhecimento e acabei tendo mais interesse em Design de Interação. Mas após formado, passei quase 8 anos trabalhando em outras áreas como: jogos digitais, publicidade, marketing, animação e gráfico.

Queria trabalhar com interação/UX e como estratégia comecei um mestrado na UFPE que resultou nos meus primeiros trabalhos e ofertas de emprego na área. Mas só me senti realmente UX designer quando entrei no CESAR.

Primeiros dias

Numa segunda-feira tinha acabado de ser contratado em uma outra empresa. Na terça me ligaram do CESAR oferecendo uma oportunidade (já tinha participado de um processo seletivo mas não tinha sido aprovado). Aceitei.
Na quarta recebi a proposta e pedi para sair da empresa que tinha entrado na segunda.

Na quinta levei os documentos e conheci minha futura gerente. Ela estava saindo de férias, em 5 minutos me falou sobre o projeto, sem me dizer qual era (?!). Na sexta fiz o onboard no projeto. Passei a semana seguinte procurando entender o desafio e percebi que há duas habilidades muito valorizadas aqui: flexibilidade e autonomia.

O nosso objetivo era fazer um produto quase do zero numa equipe que tinha um estagiário, um desenvolvedor sênior e eu, o designer. Grande desafio, time minúsculo.

Enquanto tocava um processo de pesquisa tive a oportunidade de conversar e trocar ideias com CEO's, diretores, gerentes e outros profissionais. Foram vários meses de trabalho e para que no final esse produto estivesse na rua gerando receita. Assumi uma responsabilidade grande de designer de produto no qual tinha que tomar decisões e saber defendê-las. E adorei isso!

Além disso, ia conhecendo melhor a empresa e descobrindo coisas que eu sempre quis saber.

Conhecendo

Descobri que o CESAR é um instituto privado de inovação que tem mais de 20 anos. Se você é de Recife e trabalha com tecnologia com certeza já deve ter ouvido falar. Eu tinha uma sensação de ser uma caixa preta, de não saber ao certo como funcionava. Do meu ponto de vista, existem 3 aspectos principais para entender o CESAR:

1. Projetizada

Empresas contratam o CESAR para desenvolver projetos de inovação. Por isso designers tem suas principais responsabilidades vinculadas à uma equipe e um cliente. Isso possibilita vivenciar várias experiências em um só lugar.

Amigos devs Daniel, Ota e Marlon. Amizade do projeto para a vida.

Por preferir trabalhar com diferentes abordagens, em 4 meses já estava alocado em 2 projetos diferentes. Sim, você pode dividir sua alocação de trabalho. Ao invés de trabalhar 100% do seu tempo em apenas um projeto, existe a possibilidade de trabalhar 50% do seu tempo em um projeto e 50% em outro. Para pessoas inquietas feito eu, isso é um alívio. Para quem gosta de estar mais focado em um projeto é só alinhar esse desejo com seu gerente.

É possível trabalhar com frentes de trabalho diferente como pesquisa, prototipação, consultoria e avaliação de soluções. Isso significa que algumas decisões do projeto serão responsabilidades dos designers, tanto a formulação quanto sua defesa. Eu me sinto à vontade com isso pois eu buscava esse nível de autonomia e dificilmente encontrava em outros lugares.

Um time básico de projeto é formado por desenvolvedores, analistas de qualidade, designers e gerente de projeto, todos custeados por um cliente. Há casos também em que a formação do time pode variar. Já trabalhei em projeto só de designers (éramos 5, com perfis diferentes) assim como já trabalhei em projetos eu sendo o único designer num mar de desenvolvedores.

Os projetos são empolgantes mas tem um problema, não podemos falar deles.

2. Confidencialidade

Sim, o CESAR trabalha com o estado da arte de algumas áreas. Inovação é estratégica. Por isso a maioria dos clientes pedem confidencialidade nos projetos que estão sendo realizados, o famoso NDA (Non-Disclosure Agreement, ou termo de confidencialidade). O que isso significa para um designer? Algumas dificuldades para divulgar seu trabalho.

Mural de pesquisa com as designers Thaís e Tarci.

Claro, existem alternativas que o próprio NN/g ensina como contornar.

Ainda assim, a troca com a comunidade precisa ser em alto nível, mais sobre processos/métodos e menos sobre situações reais. Talvez este seja um dos motivos da sensação de caixa preta.

Projetos à nível mundial estão sendo feitos aqui dentro, tanto em experimentação quanto em implementação, que acabam não ganhando visibilidade mundo afora.

3. Constante mudança

Já trabalhei em lugares dinâmicos, mas nada como aqui. No meu 2º ano de CESAR já estou no meu 5º projeto, carregando minhas coisas na minha 9ª mesa, no 3º prédio de trabalho, interagindo diretamente com mais de 40 colegas de equipe.

Designer Felipe França, migrou de engenharia de teste para design.

A título de curiosidade, já me envolvi em:

  • Pesquisas sobre machine learning e personalidade;
  • Entrevistas de guerrilha ouvindo histórias para verificar hipóteses;
  • Dar aula de ideação para graduação e design de serviço para mestrado;
  • Planejar estratégias e sessões de design;
  • Rodar ideação de última hora com clientes em potencial;
  • Centenas de protótipos digitais em diferentes softwares e formatos;
  • Ajudando um colega na transição da área de testes para a área de design.

Foi tanta coisa que parece que estou aqui há mais tempo (alguns colegas ficam surpresos quando digo que estou aqui só há 2 anos). Mas novamente, isso é uma percepção minha. Mesmo com esse alto dinamismo, é importante ressaltar que no CESAR há projetos que estão rodando por anos e apesar do escopo mudar com o tempo, tem uma certa constância.

Outro aspecto massa é uma busca constante por transformação. Sempre tem projetos internos para fomentar a cultura ágil e de design em áreas de apoio, também projetos de cultura e liderança, investimento constante em infra-estrutura, aumento do quantitativo e desenvolvimento dos designers que trabalham aqui.

Sim, tem uma cultura de design amadurecendo em todos os níveis da organização. O design é colocado como elemento chave para a inovação no CESAR. Nossa comunidade de designers já passa de 80 e a perspectiva é crescer ainda mais.

Sobre a comunidade de designers

Diversidade é mandatório no CESAR, e entre os designers isso também se mostra pelos diferentes backgrounds. Generalistas e especialistas, designers gráficos, UI, UX, designers de serviço, motion designers, designers de processo, designers de sombracelha(not), professores de design e por aí vai!

Aquela alegria matinal antes de um café com design.

Um projeto pode ter apenas um designer, uma dupla, ou um time. Em geral, meu dia-a-dia envolve poucos colegas de profissão. Mas o que poderia ser uma limitação criou uma das coisas que acho mais legal aqui: uma comunidade orgânica de designers.

Como funciona uma comunidade orgânica de designers?

Sem líderes formais, nossa comunidade organiza eventos e práticas por meio de lideranças momentâneas. Confesso que achava que esse modelo orgânico seria improdutivo, julguei que sem um direcionamento o resultado seria bagunça. Ainda mais levando em consideração que somos designers, inquietos, criativos e transformadores por natureza. Felizmente venho me provando errado.

Na prática conseguimos realizar coisas incríveis, como conceber um evento referência em design para o N/NE do Brasil: o Colabora. Apoiamos a realização de eventos como o Service Jam, Service Design Day, ILA Redux e Interaction Day. Nos organizarmos para enviar conteúdo para eventos de comunidade a exemplo do ILA, UXCONF BR, TDC e Agile Brazil.

Colabora 2019, grandes nomes do design nacional no CESAR.

E ainda tem os eventos internos para troca de experiência como o Café com Design (café da manhã realizado pela comunidade de design para discutir temas relevantes para nossa área) e Design Lightning Talk (palestras remotas de 15 minutos no início do dia para saber o que cada um está fazendo).

Então quem movimenta a comunidade?

Todo mundo. Temporariamente alguém se sobressai um pouco mais, depois vem outra pessoa com vontade e fôlego, a bola não cai. Há também quem se sente mais confortável dando apoio, e massa, porque tem lugar pra isso.

Esta maneira de realizar eventos acontece graças aos fortes vínculos e laços que construímos aos longos dos anos (e os novatos vão assimilando essa cultura). Existe um profundo respeito, admiração e vontade de se ajudar mutuamente. Isso faz com que o clima daqui seja diferente e gera para mim um forte vínculo afetivo profissional. Isso não é evidente só na comunidade, mas nos desafios que aparecerem por aqui também.

Os desafios que encontro hoje

Me sinto tão motivado pelos desafio do CESAR que é comum voltar para casa empolgado pelo dia de amanhã. Soa um pouco louco isso, mas tem a relação com o que busquei durante muito tempo na minha carreira. Busquei um local que me desse liberdade e apoio para tomar decisões estratégicas, que desse espaço para colocar a mão na massa e que eu pudesse ajudar pessoas e organizações a se desenvolverem. E tem tudo isso aqui!

Em uma tentativa de explicar a natureza dos desafios encontrados, proponho dividí-lo em dois tipos: os desafios organizacionais e os desafios educacionais.

Encarando a adversidade com seriedade, junto com as designers Jéssica e Luma.

Desafios organizacionais

Os desafios organizacionais são os que envolvem a prática como designer. No meu primeiro projeto já tive que decidir estratégias de pesquisa, validação, ideação, implementação e teste. Foi um desafio enorme e é comum que designers assumam esses papéis. É muito gratificante o processo de planejar, testar, errar, corrigir e acertar quando se tem o apoio ao invés de uma pressão institucional. Como designer acho isso essencial.

Além disso parece que cada projeto tem um problema de natureza diferente, novo e empolgante a ser resolvido. Isso também é uma característica de outras empresas que trabalham em um modelo de consultoria. Entretanto acredito que o viés de inovação/pesquisa é mais forte no CESAR. Com o foco além dos resultados de negócios, projetos podem ser feitos para testar hipóteses e, que no final, o resultado pode ser uma hipótese invalidada.

Então é comum eu me envolver em diversos níveis e me deparo com questões como:

  • O que é preciso para planejar uma pesquisa na área de energia?
  • Como trabalhar um requisito de um projeto de segurança?
  • Qual comunicação utilizar para vender um projeto de expansão regional?
  • Quando devemos repensar a escalabilidade de componentes deste produto automobilístico?

Desafios educacionais

É desafiador tudo aquilo relacionado com ensino e aprendizado e são muitas as oportunidades no CESAR. Como um instituto que nasceu dentro de uma universidade isso é até esperado, mas manter esse padrão durante mais de duas décadas é o que deixa o ambiente provocativo. Ajudar a desenvolver pessoas e organizações é algo que me instiga, nesse sentido os desafios educacionais acabam sendo mais atrativos para mim. Eu considero 3 níveis de desafio:

Primeira experiência como professor na Cesar School.
  1. Aprendizado constante
    Geralmente, quando começo em um projeto, tenho grande desconhecimento do contexto que ele está inserido. Exemplos reais disso foi trabalhar com baixo nível de programação (descobri o que é escovar bits), universo de manutenção e concessionárias de carros, aprendizado de máquinas, particularidades do sistema de energia brasileira, construção de personalidade, vazamento de dados, como funcionam multicanais de atendimento ao cliente e por aí vai. Consequentemente a troca de conhecimento é constante, principalmente na forma de mentoria.
  2. Mentorias
    O CESAR tem um programa massa, o Summer Job, já estou indo para minha 4ª edição como mentor. Também rolam processos de mentoria de novos designers. Por vezes a abordagem é orgânica, em que propomos temas e assuntos a serem apresentados e discutidos com outros designers (entra aqui a força da comunidade!). Outras vezes a abordagem é mais estruturada, com encontros semanais e metas. Caso você tenha um mestrado/especialização e gostar desse processo, acabará sendo chamado para dar aula.
  3. Ensino acadêmico
    Se você gosta ou pensa em dar aula um dia, o CESAR é um dos melhores lugares para estar por causa do seu braço educacional: a CESAR School (com lemas como “aprenda fazendo” e “aprenda com quem faz”). Uma escola no sentido amplo, que tem projeto a nível de ensino médio até um doutorado profissional. Eu tinha esse desejo de ser professor, apesar do grande receio, que tinha com sala de aula (será que sou bom? será que tenho conteúdo suficiente? será?).
    Acontece que a abordagem de “aprenda fazendo” também se aplica do lado de cá, então em 2019 tive o desafio de dar aula na graduação e no mestrado da School e aprendi a ser professor sendo professor. Dar aula é um misto de transformação como profissional, troca de experiência com mentes realizadoras e experimentação. Todo o receio inicial foi transformado em um vício de sala de aula que devo levar pelo resto da minha carreira.

O melhor disso é que os desafios organizacionais e educacionais se retroalimentam. Quando aprendo uma nova abordagem para um problema na School, trago para a organização. Assim como costumo transformar a sala de aula em um laboratório e vou testando abordagens com os alunos que tragam insights para o meu dia-a-dia.

Um dia normal envolve café, bolo e momentos de alegria.

E o que mais?

Gosto do desafio de entender melhor do negócio, aproximar-se de outras áreas, estudar tendência e antecipar soluções. Talvez seja o meu grande desafio nos próximos anos, apesar de todas as oportunidades, trabalhar mais minha flexibilidade e autonomia numa direção estratégica e que faça sentido, para mim e para a organização.

Curtiu e quer fazer parte dessa comunidade? Temos vagas para designers!

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