Inovação, Saúde e Colaboração

Gabriela Boeira
CESAR Update
Published in
5 min readApr 16, 2018

Como um movimento global Hacking Health pode ajudar a melhorar a saúde de sua cidade — promovendo a inovação a partir da colaboração

Quando falamos em inovação, em especial na área da saúde, muitos pensam em grandes empresas investindo milhões, trabalhando isoladamente em seus departamentos de P&D, guardando seus segredos a sete chaves até que possam lançar uma solução mirabolante no mercado e cobrar uma fortuna por ela. O que muitos esquecem é que a inovação também acontece fora das grandes empresas. Nem sempre são necessários investimentos colossais, nem soluções globais para gerar um impacto significativo na vida das pessoas.

Diversas ações podem ser promotoras da inovação: a mudança de um processo de gestão de leitos, o uso de planilhas compartilhadas na nuvem para acompanhamento das atividades da equipe da enfermaria ou um jogo de celular para ajudar uma criança em tratamento contra o cancer a tomar suas medicações corretamente.

No final do ano passado tomei conhecimento do Hacking Health, um movimento mundial em prol da melhoria do sistema de saúde a partir da criação de soluções para os problemas do setor. Essa ação colaborativa, que teve início em 2012 no Canadá e já se difundiu para mais de 15 países, reúne profissionais da saúde, desenvolvedores, empreendedores e demais interessados em elaborar soluções que beneficiem os trabalhos na área.

COMO FUNCIONA O MOVIMENTO?

Utilizando uma metodologia já testada e aprovada em 53 cidades em 16 países, o Hacking Health busca parceiros locais para fomentar o ecossistema de inovação da cidade. Isso é feito a partir da realização de ações como palestras, mesas redondas, oficinas e workshops. Permitindo que representantes das áreas de saúde encontrem parceiros e empreendedores encontrem oportunidades. Dessa forma, é possível criar e valorizar centros de incubação, onde empreendedores motivados podem pensar em solução inovadoras para resolver diversas dores do complexo sistema da saúde, beneficiando toda o ecossistema.

Todo esse movimento é acelerado na forma de um Hackathon — uma maratona de programação focada no desenvolvimento de protótipos viáveis para solucionar problemas reais. As equipes são compostas por profissionais da saúde, desenvolvedores de tecnologia da informação, designers e empreendedores. São equipes competindo entre si para, em pouco mais de 48 horas, entender a “dor” a ser resolvida, uma possível solução para aquele problema específico, o potencial mercado e clientes. A solução é pensada e trabalhada para que modifique todo o mind set atual dos ambientes de clínicas, hospitais ou qualquer outra instituição de saúde.

Mais do que um hackathon para gerar soluções em 48h, o Hacking Health é uma ação que estimula a parceria e a colaboração constante. E é essa colaboração que permite levar a inovação para a saúde promovendo uma melhor entrega de valor e qualidade a pacientes e profissionais.

O movimento é formado por voluntários e parceiros interessados em promover a inovação em sua cidade ou região e está acontecendo em 13 cidades do Brasil. Belo Horizonte, Brasilia, Campinas, Sorocaba, Campos dos Goytacazes, Curitiba, Londrina, Rio De Janeiro, Ribeirão Preto, Rio Preto, Santa Catarina, São Paulo e Barretos. Em Sorocaba, onde se encontra uma das regionais do CESAR, o movimento é sediado desde 2016. A cidade foi escolhida por seu potencial de desenvolvimento, já que abriga importantes centros médicos e universidades, além de grandes empresas de tecnologia.

Como eu entrei para o movimento?

Há muito tempo eu desejava participar de algo que trouxesse valor para a comunidade. E ao participar de uma das ações do Hacking Health e ver stakeholders de diferentes instituições da saúde trabalhando juntos na mesma sala para uma sessão de levantamento de oportunidades, trabalhando em conjunto em prol da melhoria coletiva, meus olhos brilharem. Eu sabia que esta era a oportunidade que eu estava procurando para promover a inovação de perto com a comunidade.

Foi neste dia que conheci Leandro Luiz Fragoso, líder do Hacking Health de Sorocaba. Enfermeiro-chefe, estudante de computação, de família pernambucana e ligado no 220V. Uma pessoa com uma energia tão grande que transborda e influencia os outros ao seu redor. Prontamente me coloquei à disposição para colaborar.

O que temos feito em Sorocaba

Desde que me juntei à equipe de voluntários do Hacking Health Sorocaba, conheci pessoas incríveis e participei de eventos enriquecedores. O último deles foi um Design Jam realizado nos dias 06 e 07 de abril na Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba.

O evento foi realizado em 02 dias de atividades baseadas no processo do Design Thinking. A sexta (06), primeiro dia do evento, foi fechada para a participação exclusiva de profissionais do próprio hospital. Neste dia, foram apresentadas diversas dinâmicas que permitiram a identificação das principais oportunidades e pontos de melhoria nos processos e serviços do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba.

No sábado (07), o evento foi aberto para toda comunidade e contou com a participação de mais de 70 pessoas, um público maior que o esperado, o que nos deixou mais felizes. As atividades do segundo dia começaram com os profissionais da Santa Casa apresentando dois problemas que foram abordados no dia anterior. Esses problemas foram expostos para a comunidade através de uma apresentação teatral, onde cada profissional assumiu um papel, atuando como médicos, pacientes, enfermeiros e familiares de pacientes - o que aumentou a empatia dos participantes às dores dos personagens. Após a apresentação, foram formados grupos que colocaram a “mão na massa”, desenvolvendo soluções adequadas às necessidades e oportunidades apresentadas. Todo o processo de desenvolvimento das soluções contou com mentoria da equipe do Hacking Health Sorocaba e empresas parceiras. As soluções propostas foram apresentadas para a Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba. Eles ficaram muito felizes com os resultados e vão analisar os projetos e a viabilidade de possíveis implantações.

Os efeitos da inovação colaborativa

É a colaboração que merece um lugar de destaque em todo essa movimentação. Por colaboração, estou falando do trabalho ativo e multidisciplinar de pessoas com conhecimento e visões diferentes.

O que mais trás satisfação ao meu coração é ver que a cada evento, cada encontro, mais pessoas (e instituições) ficam com aquele brilho nos olhos, aquele gostinho de “quero mais", com aquela vontade de continuar contribuindo.

Mais ações estão sendo planejadas. E temos a responsabilidade de convidar todos os participantes dos eventos anteriores — muitos já estão cobrando por novas ações. Já sabemos que a porta que abrimos não pode ser mais fechada. Existe uma comunidade em Sorocaba que se tornou um trem da inovação na saúde. E nossa responsabilidade agora é manter esse trem em locomoção.

Facebook: https://www.facebook.com/HHSorocaba

HH Global: https://hacking-health.org/

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