Memórias de um evento grandioso — Interaction South America 2017, em Floripa.

Giselle Rossi Araujo
CESAR Update
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5 min readNov 23, 2017
Palestra Luis Arnal

E então você chega cheio de expectativa num evento para 1.500 expectadores, que oferece 150 talks, 16 keynotes e outros tantos conteúdos no formato de workshops and lightining talks. É muita informação, não dá pra ver tudo que se quer e nem guardar tudo que se vê. Alguns aprendizados grudam e você até consegue aplicar imediatamente. Outros vão martelar por alguns dias ou semanas na cabeça e então “sumir”, até que apareça uma referência (leitura, citação, oportunidade de aplicação) que lhe fará lembrar — consciente ou inconscientemente — , resultando nas devidas e valiosas conexões que fazem parte do processo de aprendizagem.

Assim, antes que minha memória já gasta e pouco confiável me traia, decidi registrar alguns destaques. E como já tem muita coisa boa escrita por aí, a exemplo dos posts dos meus colegas Mabuse e Victor Ximenes, escolhi alguns conteúdos que considero “puxão de orelha” — em mim ou que eu gostaria de distribuir por aí. Em geral, conteúdos sobre a importância das decisões de design na sociedade e o papel estratégico do designer. Eu sei, eu poderia falar de temas mais atuais e tão explorados, como AI, mas como ainda temos um longo caminho a percorrer e muita oportunidade, vamos lá!

Mariana Salgado (Departamento de imigração da Finlândia) chamou atenção para o fato de que nosso trabalho depende de como a sociedade percebe o design e que nós podemos influenciar esta percepção. Citou ainda que o contexto social pode expandir ou retrair nosso poder de influenciar, o que pôde ser reafirmado na palestra da Elaine Ann (Kaizor Innovation), sobre como as questões culturais, tendo a China como exemplo, influenciam todo o processo de design a as soluções criadas. Ela apresentou curiosidades e dados grandiosos e provou que a cultura brasileira não é tão distante da chinesa quanto é a americana — How is designing for China market different from the Western Tech ecosystem and what you can learn from it? Sensacional todo o conteúdo desta palestra.

Voltando para Mariana Salgado, o caminho que ela percorreu em sua carreira buscando dar cada vez mais sentido para o que fazia é inspirador .

“Podemos desenhar nossas carreiras”.

Dentre os projetos apresentados destacou o cartão que utiliza a tecnologia de BlockChain para dar identidade a imigrantes, permitindo que eles sejam reconhecidos e possam fazer parte do sistema (pagar/receber/trabalhar…) — um exemplo de força para influenciar as leis e a sociedade, mostrando que Design é um ato político que inclui e exclui pessoas. Dando e tirando direitos. Além de seus projetos, outra forma que ela encontrou de fazer a parte dela e “dar direitos” foi publicando seus livros gratuitamente.

Palestra Mariana Salgado

Cynthia Savard (Shopify) autora do livro Tragic Design falou do peso da responsabilidade das tomadas de decisão de design. É dessas palestras que você gostaria que o cliente/chefe/dev/chefe de estado ou quem-quer-que-seja-que-ainda-não-tenha-entendido estivesse do seu lado, pra você ficar cutucando. "Define your own ethical code” (sobre design hostil) e “Find your ring and be responsible” (sobre o anel que os engenheiros recebem ao se formarem, como compromisso com o que constroem para as pessoas) foram as mensagens finais depois de passar por exemplos diversos, desde a experiência pessoal com o amigo que quase morreu de alergia porque ela não conseguia entender a instrução para aplicar a medicação injetável, até o aumento de 30% na interação do botão de favoritar/salvar do Airbnb ao ser trocado o ícone de estrela para coração.

O exemplo do Airbnb, mesmo que bem simples, já entra na esfera do design estratégico e me fez lembrar do famoso Botão de 1 milhão de dólares do Jared Spool e de tantos outros cases que apresentaram excelente taxa de conversão a partir de pequenos ajustes na interface. O Aurélio Ramalho Junior deu dicas legais no primeiro dia do evento — Os 10 mandamentos para conversão de Calls to Action. Encontrei dois posts dele a respeito: parte 1 e parte 2.

Nota da autora: Quer ter um case bacana desses? Dê uma checada nos dados analíticos da navegação do seu site, escolha alguns números que estão abaixo do esperado, prototipe algumas opções, faça teste A/B e não se admire se tiver um case bacana para apresentar no próximo ISA. ;)

Aprofundando no conceito do papel estratégico do design, Santiago Bustelo (Kambrica e IxDA local leader em Buenos Aires) apresentou — UX professionalism: What can we learn from marketing’s mistakes?, concluindo com uma mensagem que preciso colar na minha baia:

Palestra Santiago Bustelo

Ele também nos ajudou a descodificar a linguagem dos negócios — Decoding Business Speak for Design to happen, reforçando o que já sabemos sobre UX ser a interseção entre Design, Tecnologia e Negócios. E aconselhou:

"Be a bullshit alchemist"

Luis Arnal (Insitum) falou sobre a necessidade de usarmos os princípios de design e economia comportamental de forma intencional e responsável e não de forma intuitiva ou mal intencionada (conceito dark patterns).

Teve mais, muuuuuito mais. E a cabeça está borbulhando. Mas estes são meus 5 cents de contribuição, com uma citação da palestra do Christopher Konrad (Konrad King) pra encerrar, que nos questionou: Do we possess the intelligence to design artificial intelligence?

“The future is ours to shape. I feel we are in a race that we need to win. It’s a race between the growing power of the technology and the growing wisdom we need to manage it.” — Max Tegmark

P.S.:

  • Rob Nero (Spotify) e Janaki Kumar (SAP Labs) apresentaram slides em 2 idiomas — português e inglês. Olha aí a atenção à experiência de todos os usuários e o respeito pelos anfitriões. Achei massa!
  • Este evento que se torna ano a ano mais grandioso é organizado por voluntários cheios de amor pela área de Design de Experiência de Uso.
  • Aos poucos, os conteúdos das palestras estão sendo disponibilizados no site do evento: http://isa.ixda.org/2017/

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Giselle Rossi Araujo
CESAR Update

Designer de Experiências. Vim de BH, fui pra Sampa, estou em Recife, projeto para o mundo.