Sobre desequilíbrio — II CNEH (Dia 2)

Cora Sales
CESAR Update
Published in
5 min readDec 8, 2018

Dando sequência aos meus comentários sobre o II Congresso Nacional de Envelhecimento Humano, que aconteceu em Curitiba-PR, este post trata sobre o segundo dia de palestras que ocorreu no último dia 23 de novembro (Clique aqui para ler sobre o primeiro dia). Mais especificamente, sobre o simpósio temático que reuniu três professoras para falar sobre os aspectos multifatoriais de quedas em idosos, que é também meu objeto de estudo, desde o CESAR Summer Jobs 2017.1, e assunto do artigo que apresentei no terceiro dia desse II CNEH.

A queda em idosos é um importante caso de saúde pública*. Então, você que conhece, e principalmente você que ainda não conhece um idoso que tenha caído, fica esperto nesse texto.

1. Prevenção — Profª. Dra. Adriana Schüler Cavalli (ESEF/UFPel-RS)

É importante saber que quedas são comuns em pessoas idosas, pela sua fragilidade e demais condições intrínsecas. Cerca de 28–35% dos idosos com mais de 65 anos, e 32–42% dos idosos com mais de 70 anos, da população mundial, sofrem quedas anualmente (OMS, 2011).

#pracegover Foto da apresentação da Profª. Adriana, no momento que ela apresenta custos relacionados às quedas. No slide projetado temos sobre o Custo Direto, que seriam custos de saúde com medicamentos serviços; e o Custo Indireto, que seriam perdas de produtividade na sociedade (perda de rendimentos).

Sendo um acontecimento comum, e cada vez mais recorrente com o avanço da idade da população, as consequências têm preocupado bastante. Segundo as listas de causas de mortalidade de 2016 versus 2040 divulgadas pelo The Lancet (2018), o fator quedas sobe cinco casas e passa para 20ª em apenas 22 anos.

Desde então uma série de providências vem sendo tomadas em vários países para amenizar os efeitos negativos (lesões, fraturas, feridas, etc.), como detectores de quedas e medidas de recuperação… Mas a professora reforça que devemos dar tanta ou mais importância à medidas de prevenção, para tratar a ocorrência antes mesmo da sua origem.

Existe forte evidência sobre a eficácia do exercício físico na prevenção de quedas, uma vez que este potencializa a força muscular e o controle postural. No entanto, existe pouca evidência sobre o impacto de diferentes modalidades de exercício para detectar os efeitos de diferentes abordagens de intervenção.

#pracegover Foto mostra pessoas caminhando no Jardim Botânico de Curitiba — Paraná. O clima estava nublado. À esquerda, vestida de azul e amarelo, está dona Maria de Jesus Melo (84 anos) que caminha diariamente no local; Segundo ela, sempre de bons tênis de caminhada e uma capa de chuva (que segura em uma embalagem na mão esquerda). Seus óculos estão pendurados no pescoço, e usa um relógio no braço esquerdo.

"O Guia de Atividade Física para Adultos Americanos (2008), que indica atividades de fortalecimento muscular e equilíbrio com intensidade moderada por 1,5 horas por semana, além de caminhada de intensidade moderada por 1 hora por semana."

Como exemplo de medidas existentes nesse sentido, a professora citou duas:

  1. Circuito do equilíbrio: Projeto multidisciplinar de prevenção à quedas do Sesc (Taguatinga do Sul — DF) em parceria com professores e pesquisadores da UnB, que está sendo implementado num formato piloto; Envolve atividades em uma quadra com uma série de obstáculos, montada especificamente para exercícios com idosos (https://sescdf.com.br/sesc-inaugura-projeto-para-idosos-sobre-prevencao-de-quedas/).
#pracegover Imagem obtida de um vídeo explicativo sobre o projeto iStoppFalls. Mostra uma senhora sorridente durante um exergame, realizando um movimento com braços abertos, e equilibrada somente em sua perna direita, em frente a uma televisão, no que parece ser sua sala de estar. A tela da TV exibe um personagem skiador, representando o movimento a ser realizado pelo jogador.

2. iStoppFalls: A proposta envolve os chamados "exergames" (fitness gaming) para desenvolver coordenação e equilíbrio, com um programa de jogos virtuais para videogames, com duração de 180 minutos por semana, durante 16 semanas.(http://www.istoppfalls.eu/cms/front_content.php?idart=3&lang=1).

2. Abordagem— Profª. Dra. Roberta Bolzani de Miranda Dias (UNICAMP)

Segundo o Prevention of Falls Network Europe (PreFaNE), uma queda se caracteriza pelo evento inesperado que faz com que o indivíduo permaneça em um nível inferior ou venha ao solo, não sendo consequência de uma força externa (ex.: se empurrado). Mas talvez nem você, caro leitor, estava certo dessa definição até agora.

#pracegover Foto da apresentação da Profª. Dra. Roberta Bolzani, ainda sobre aspectos multifatoriais de quedas em idosos. A imagem mostra a professora no canto inferior direito, ao lado da projeção de slides, que exibe o texto "O que é preciso para prevenir? Conhecer e identificar os fatores de risco."

Por isso, segundo a professora Roberta, o mais importante é saber como conversar com o idoso (que nesse caso, são pacientes dela), na tentativa de entender sobre sua rotina, seu cotidiano.

Isso é interessante para nós designers ao abordar idosos em pesquisas de campo, na busca por estabelecer um diálogo, com objetivos traçar um perfis e/ou delimitar um histórico.

Os perfis identificados entre os pacientes são três: os Caidores, os Não-caidores, e os Caidores recorrentes.

"Porque quando você pergunta sobre o ano passado, muitos não têm essa noção, de que estamos tratando desse mesmo período mas em 2017.”

Ao abordar esse assunto com um idoso, dê uma referência do período de tempo (utilizando datas comemorativas, por exemplo). E o conceito de queda também precisa ser reforçado, para que não se descarte os momentos de ocorrência que não findaram com o encontro ao chão.

“Um idoso caidor não deve receber as mesmas orientações que um idoso caidor recorrente! Parece bobo, mas isso é muito relevante.”

3. Tratamento — Profª. Dra. Vitória Regina Quirino de Araújo (UAMA/UEPB)

#pracegover Foto da Profª. Dra. Vitória Regina apresentando o slide sobre Redes de atenção à saúde: onde antes tínhamos um sistema fragmentado e hierarquizado, e prioriza-se hoje o sistema de redes poliárquicas de atenção à saúde.

Uma informação importante que achei na fala da professora Vitória, no campo da fisioterapia, é o tratamento de visão poliárquica envolvendo diversos profissionais em busca de uma congruência, para diagnósticos mais precisos e completos.

É uma visão centrada no paciente, em que podemos traçar um paralelo com o processo de Design Centrado no Usuário. Os planos terapêuticos envolvem diretamente a compreensão dos aspectos multifatoriais das quedas; o que demanda uma excelência na chamada avaliação ambiental, que envolve uma investigação com o paciente sobre como se apresenta o local onde este reside.

"O mais importante é entender que a capacidade funcional do idoso está diretamente relacionada a preservação da sua autonomia."

Participantes do simpósio temático do segundo dia do CNEH. Da esquerda para a direita, as ilustres: Profª. Drª. Vitória Regina Quirino de Araújo, Profª. Drª. Roberta Bolzani de Miranda Dias, e Profª. Drª. Adriana Schüler Cavalli. De pé, no púlpito, o moderador Prof. Dr. Manoel Freire de Oliveira Neto.
  • Ref.: MAIA et al, 2011.

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