Sobre o maior evento de UX do mundo e o futuro do design

O CESAR mandou mais de 20 designers para o Interaction Latin America 18, no Rio de Janeiro, e eu voltei aqui pra contar o que vi por lá.

Priscila Alcântara
CESAR Update
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6 min readNov 20, 2018

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Quase 2.000 designers juntos num evento cheio de gente do mundo inteiro e formadora de opinião. É assim que se descreve, em poucas palavras, o ILA (que deixou de ser ISA, com “S” de South América para ter um “L” de Latin America). 15, 16 e 17 de novembro foram 3 dias intensos.

Para algumas pessoas, na verdade, o ILA começou um pouco antes. Alguns de nós, aqui no CESAR, tivemos oportunidade de participar como avaliadores dos trabalhos submetidos e outros como voluntários durante o evento. Para mim, que me voluntariei como avaliadora, analisar o que estava sendo produzido por quem trabalha com design na América Latina, mesmo que esses trabalhos não tenham chegado a ir ao evento, já abriu muito a mente. Tem muita coisa legal sendo produzida aqui mesmo no nosso país e no nosso continente. Isso somente confirma que o design, enquanto disciplina, está crescendo.

No primeiro dia, mais de 80 palestras da comunidade de design de interação foram selecionadas pelos comitês de seleção e acadêmicos. O CESAR e a CESAR School (que é o braço educacional do CESAR e ainda conta com cursos superiores, pós-graduação, mestrado profissional) emplacaram 6 trabalhos para mostrar ao mundo.

A estréia do CESAR foi o trabalho de pós-graduação do Edson Souza, com orientação e apresentação de Eduardo Oliveira, sobre um estudo com proposta de design antecipatório para o Amazon Dot.

Eduardo Oliveira, o primeiro do CESAR a se apresentar no ILA18

Um pouco depois, teve o Arthur Silva no palco, apresentando o case de gamificação criado pela School para a Fundação Banco do Brasil enviado por ele e pelo Felipe Malafaia. Platéia cheia e impressionada com a qualidade e os resultados finais do projeto. Finais por assim dizer, porque tem mais vindo por aí, segundo Arthur, graças ao sucesso da primeira fase.

O palco 2 não deu pra quem quis ver o projeto de gamificação

Ao mesmo tempo no palco, um pouco mais tarde, eu e Thayssa Lacerda com mais dois trabalhos: Thayssa Lacerda, também orientada por Eduardo Oliveira, falando sobre design participativo e como ele foi aplicado em um projeto onde ela foi mentora no CESAR Summer Job e eu falando sobre psicologia como ferramenta de design, em sintonia com a linha de pesquisa em neurodesign do mestrado na CESAR School.

Eu e Thayssa no palco: Mais da metade do ILA ligado no CESAR

Ainda teve Vladimir Souza com o seu lindíssimo (e com a nossa torcida, premiado no Brasil Design Award 18) Carnavália e Marcelo Bressan, representando Helda Barros, h.d.mabuse, Luiz Araújo e Walter Franklin, apresentando o nosso robozinho M.A.R.S, da perspectiva de design emocional.

Vladmir e Bressan: Mais dois representantes nossos mostrando o nosso trabalho para o mundo

O palco, em formato de arena, favoreceu a liberdade de quem assistia e acabou dando uma movimentação interessante ao evento: se você não gostasse muito da palestra atual, dependendo da sua localização, bastava trocar o canal do radinho e voilá, novo conteúdo pra você experimentar. A parte ruim desse formato é que não dava pra prever muito que algum apresentador acabasse a sua palestra um pouco antes, aí os aplausos atrapalhavam um pouco quem ainda estava tentando aproveitar mais um pouquinho o resto do tempo.

Algo que chamou a minha atenção foi a quantidade de conteúdos que incluíram o tema de acessibilidade. É muito bom ver que as pessoas estão cada vez mais interessadas em fazer design para todos.

Apesar disso, no primeiro dia não foram tomadas providências para que houvesse intérprete de LIBRAS, o que deixa a gente intrigado (e chateado, obviamente): como se pode falar sobre acessibilidade se eu mesmo não estou produzindo conteúdo acessível? Ainda bem que o pessoal foi rápido e ajustou esse ponto rapidinho. Com isso, foi possível que designers com deficiência auditiva que estavam presentes no evento assistissem a toda a programação.

No segundo e terceiro dias foi a vez dos palestrantes convidados.

Foi legal ver que o design pode, assim como outras disciplinas, ser atemporal. Assim como nos trouxe o Felipe Memória, que abriu o primeiro dia.

Da palestra o Felipe Memória: Se você fizer isso do jeito certo, vai durar pra sempre — Sempre é meio difícil, mas dá pra durar muito, vai…

Foi um alívio ver que o Marc Stickdorn é gente como a gente e passa perrengue. Que a gente não está fazendo isso errado, só mentiram pra gente quando disseram que o problema a ser resolvido deixa de ser um emaranhado.

É, Marc… explica para o pessoal que não precisa se desesperar quando as coisas não viram essa linha do “as we communicated it”… estamos no mesmo barco

No segundo dia, todo mundo estava na expectativa para ouvir o que Tom Kelley, da IDEO, tinha para falar. E, por mais que pareça simples, a gente precisa ouvir de vez em quando que todos nós podemos ser criativos. Que a gente precisa tomar ação, se mexer da cadeira e procurar meios para ser criativos e desenvolver nossas habilidades.

A gente estava mesmo precisando ouvir a Magalí dizer pra gente que ser designer é aprender e ensinar constantemente. Que aprender dói porque tira a gente da zona de conforto, que a gente só pode ensinar a quem quer aprender e que somos responsáveis por ajudar a criar essa ânsia de aprender design de maneira honesta.

Magalí Amalla sendo diva e nos lembrando do básico. Tão básico que a gente esquece de vez em quando.

Nas duas últimas palestras do evento, Rama Gheerawo e Kim Goodwin nos trouxeram reflexões sobre o fato de que não podemos perder a nossa humanidade ao fazer design.

Rama Gheerawo nos lembrando que a gente projeta para pessoas

Kim Goodwin foi além, e nos lembrou que um bom designer tem responsabilidade sobre a vida das pessoas. Como designer, eu tenho que prever e evitar que abusos aconteçam, que o mau uso de algo que eu projetei prejudique a vida das pessoas. Tenho que estar ciente dos dark patterns e, mais do que ciente, tenho que evitar ao máximo usar esses padrões.

Design was never the important word in “human-centered design” — Kim Goodwin

É fácil esquecer o centrado no usuário porque não é fácil ser centrado no usuário. Tem que levantar da cadeira, conversar com as pessoas (às vezes com pessoas que não querem ou não podem conversar com você), tem que lutar contra suas próprias vontades e tendências de vez em quando.

Queria falar brevemente sobre o destaque, em várias palestras, para soluções voltadas à saúde mental. Nos tempos difíceis em que estamos vivendo, cada vez mais pessoas precisam de ajuda e nós, como designers estamos aqui para isso: ajudar as pessoas através de soluções.

O ILA18 nos mostrou que nem tudo está perdido, que ainda há esperança. Que somos a primeira geração de designers de interação, de interface, de experiência, de serviços e estamos só começando.

Vamos fazer isso direito. Principalmente, vamos falar mais de pessoas, mais de design e menos de empreendedorismo. Vamos ser felizes e fazer os outros felizes. =)

Com um grande agradecimento à Tamires A Agripino Serra e Wayne, que fizeram algumas fotos muito legais que eu não consegui fazer (por estar no palco ou saindo dele). Bem como Ana Cuentro, Taís Nascimento e Thayssa Lacerda, por terem dado aquela revisada marota antes desse artigo ganhar o mundo.

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Priscila Alcântara
CESAR Update

A simple UX designer around the world. A brazilian girl that don't like carnival, samba nor too hot weather. See my portfolio at https://priscilasalcantara.com/