Afinal, vale a pena usar o Blender?

Ricardo Dias
CGNow
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5 min readAug 12, 2019

Neste artigo, pretendo dar uma visão geral da evolução do Blender. Não é um estudo de pesquisa desta história mas a experiência real de quem acompanhou este programa desde seus primórdios.

É impressionante como o Blender 3D cresceu e se tornou um gigante no universo 3D. Competir com programas de ponta no mercado como 3dsMAX ou Maya e ainda assim impressionar, realmente não é para qualquer sofware. Neste artigo, pretendo dar uma visão geral de sua evolução. Não é um estudo de pesquisa desta história mas a experiência real de quem acompanhou este programa desde seus primórdios já “fossilizados”.

Uma incrível comunidade

Lembro-me quando entrei em contato com o Blender pela primeira vez na versão 1.3 do programa. A empresa que o desenvolvia chamava-se “Not a Number” e o site era www.blender.nl.

Na parte superior esquerda, veja o antigo logotipo do Blender: coisa de louco

Naquela ocasião o Blender estava sendo descontinuado e sua interface não era nem um pouco atrativa, aliás era horripilante. Foi quando uma equipe de desenvolvedores, liderada por Ton Roosendaal (hoje chamada de Blender Foundation) decidiu assumir o projeto falido e torná-lo Open Source. Muitos fizeram doações para ajudar os programadores a comprar os direitos do Blender que custou 100.000 euros. Por outro lado, muitos criticavam nos fóruns, dizendo que o programa não valia o esforço.

Eu trabalhava, nesta época, com o 3D Studio Max, (hoje chamado apenas de 3dsMAX) e muito raramente tentava usar o “feinho” Blender. O que me intrigava e chamava a atenção eram as pessoas ligadas ao Blender, lutando para mantê-lo vivo. Era o único motivo pelo qual me dava vontade de pelo menos “olhar” de longe aquele software.

Lembra do ditado “Deus ajuda que cedo madruga”? Pois é, as madrugadas de desenvolvimento daquela equipe “maluca” de programadores fez com que o Blender começasse a ganhar espaço e a crescer. Aos poucos, sua interface foi melhorando e ficando mais “usável”. Começou a ganhar vários prêmios como software revelação e tudo o mais.

Eu me rendo! Vou tentar usar esse tal de Blender.

Esta história toda aos poucos me instigava a tentar utilizar o tal Blender profissionalmente. Comecei, então, a tentar reproduzir nele os meus trabalhos já feitos no 3dsMAX. Foi em meados de 2005, nestes comparativos que percebi como o Blender, embora feio, era impressionantemente robusto. Tive que deixar o preconceito de lado e admitir que o programa era bom, só era um pouco diferente do convencional.

O mesmo trabalho no 3dsMAX levava quase o dobro do tempo para modelar e renderizar levando em consideração a máquina que eu tinha na época.
O Blender conseguia funcionar muito bem naquele computador onde o poderoso 3D Studio “penava” para rodar. Sem contar o tamanho do software instalado que era de 900Mb para o 3dsMAX contra impressionantes 25Mb do Blender. O que mais impressionava, era a quantidade de recursos que o Blender oferecia, conseguindo funcionar bem até em computadores que não utilizavam placas aceleradoras 3D.

Para o bem da verdade, hoje como programador, posso dizer que o segredo do reduzido tamanho do Blender, que atualmente chega a 120Mb, está na sua engenharia muito bem pensada, possibilitando um imenso reaproveitamento de código e economia dos recursos do computador.

Era comum ouvir meus amigos de trabalho falarem: “Como um programa de 25mb pode ser bom? Deve ser uma porcaria!”

As aparências quase sempre enganam. Quem não se lembra do imenso Titanic? Ele era enorme, cheio de recursos, porém, no fim das contas, só houve lugar no mar para os pequenos botes que puderam salvar muitas vidas, enquanto o Titanic afundava.

Não estou dizendo que o 3dsMAX ou o Maya vão afundar, muito pelo contrário. São softwares fantásticos e de notável qualidade. O 3dsMAX é ótimo para criar visualizações arquitetônicas, enquanto o Maya é top para modelagem de personagens com seu excelente suporte para Nurbs.

O que estou querendo dizer é que o Blender não passava de um bote, meio despercebido pelos profissionais. Aos poucos o bote foi se tornando um grande navio, que avança cada dia mais no oceano, onde antes, somente os gigantes predominavam.

Avançando para águas mais profundas

Hoje, tanto a interface, que ficou muito mais amigável, como o renderizador do Blender estão espetaculares. Sem contar a quantidade de informação disponível na internet. Já não há mais desculpas para não utilizar o Blender.

Cada software tem suas especialidades, bem como seus pontos negativos e positivos. Se fizermos hoje um comparativo entre o 3dsMAX, o Maya e o Blender, seria injusto apontar qual seria o “melhor”, pois todos tem ferramentas fantásticas e dão conta do recado. Uns são mais práticos para modelagem, outros para criação de objetos sólidos, mas com todos eles é possível chegar ao mesmo resultado final.

Espero que minha experiência pessoal com estes softwares possa ter inspirado você. Tenho em minha vida que o verdadeiro artista não é determinado pelo software que utiliza, mas pelo seu esforço em aprender cada vez mais, abrangendo o máximo possível de tudo o que existe de bom e que agregará valor à arte.

Abaixo, deixo alguns exemplos de excelentes projetos realizados com Blender.

Um grande abraço!

Brastemp

Ruffles

Varig

Cif

Coca Cola

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Ricardo Dias
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Apaixonado por padrões, programação clara, elegante e principalmente manutenível. Trabalha como desenvolvedor deste 2000, incrementando a cada ano este loop…