Entrevista com Luís Belerique

Ricardo Dias
CGNow
Published in
7 min readAug 12, 2019
Tony Stark, uma pintura 2D feita por Luis Belerique

Entrevista com o artista 3D Luis Belerique, que conta um pouco de sua experiência com arte e Blender 3D. Além de ser um dos fundadores do maior fórum sobre Blender em Portugal, também compartilhou seu conhecimento na famosa revista Blender Art Magazine.

Entrevista concedida em 2011, para o antigo site da CGNow.

Embora tenha um talento e um conhecimento super apurado, Luis Belerique consegue demonstrar grande humildade.

Além de ser um dos fundadores do maior fórum sobre Blender em Portugal (http://forum.blender-pt.com), também compartilha seu conhecimento na famosa revista Blender Art Magazine (http://blenderart.org).

Abaixo, você pode conferir a entrevista exclusiva e conhecer um pouco mais sobre este nome da comunidade Blender.

Fale um pouco sobre seu perfil pessoal para que possamos conhecê-lo melhor

Antes de mais, obrigado ao Ricardo pela oportunidade da entrevista.

Sou Luís Belerique, nasci na ilha Terceira, nos Açores, mas aos 18 anos mudei-me para a cidade do Porto, para estudar Astronomia onde vivi e trabalhei mais de uma década.

Recentemente, dei mais um salto geográfico e agora vivo em Madrid, Espanha.

Duas das minhas paixões são arte e ciência, como já disse, estudei Astronomia e trabalhei na área de divulgação científica, no Planetário do Porto. Depois, comecei a fazer uns trabalhos visuais para algumas iniciativas de divulgação de astronomia e a partir daí o meu percurso mudou.

Você é um artista completo, tanto na área 2D como 3D você se destaca. Conte-nos um pouco como aconteceu sua evolução no campo da arte

Desde pequeno eu gosto de desenhar, além de Legos, os meus brinquedos favoritos eram papel e lápis (ou caneta). Inclusive, ganhei alguns concursos de Histórias em Quadrinhos quando ainda vivia nos Açores.

Apesar disso, segui formação acadêmica em ciências, mas o gosto pelas artes sempre esteve adormecido, até ressurgir quando tive a oportunidade de trabalhar em alguns projetos de jogos com amigos e também a possibilidade de trabalhar em animações 3D para uma sessão do planetário. Aí comecei a aprender 3D, com Blender, de modo autodidata, tal como tinha aprendido a desenhar.

Sabemos que dominar um software é muito importante, mas ter talento é essencial. Como isso funciona pra você? Cursou alguma faculdade, cursos técnicos ou buscou informações como autodidata?

Fiz uma mistura de ambas as coisas, e acredito que em muitos casos é a maneira mais sensata de aprender.

Comecei no 2D e 3D de modo autodidata, mas chega uma altura em que uma pessoa sente que poderia fazer melhor, ou aprender outras técnicas, mas não sabe bem como.

Felizmente, agora existe a Internet, que democratiza muito o acesso a conhecimento, mas se alguém quer aprender algo rápido e bem, uma das melhores opções é fazer um curso.

Claro, qualquer curso não serve, é importante ver a qualidade do professor. Por exemplo, aprendi escultura digital numa escola bem conceituada em Madrid, e o professor (Sérgio Santos) foi 5 estrelas, boa pessoa e ótimo profissional. Em poucos meses aprendi a esculpir em Mudbox e ZBrush, e agora para mim escultura digital é viciante.

Mas só assistir a aulas não é suficiente, tem de se trabalhar muito em casa, e ter aquele gosto de aprender por conta própria, buscar técnicas novas e partilhar o trabalho online com outros artistas.

Durante uns meses tive aulas de desenho clássico, numa academia de arte onde usam técnicas já centenárias. Isso foi uma lufada de ar fresco para as minhas capacidades de desenho e pintura, e também para modelagem. Ajudou-me imensamente a percepção a olho de medidas e volumes.

Também aprendi conceitos artísticos super importantes num workshop da CGSociety, de como ser um melhor artista com Robert Chang. Ajudou muito pois sendo autodidata, muitas das bases ficam por aprender.

De onde vem sua inspiração na hora da criação?

De várias fontes, desde filmes e séries de televisão, rascunhos que desenho quando estou ao telefone com alguém (consigo encher uma folha em poucos minutos!), vendo o trabalho de grandes artistas, desde os clássicos como os atuais, é impressionante a quantidade de talento que anda por aí!

Poderia nos revelar como costuma ser sua metodologia de trabalho na criação 3D? Por exemplo, no processo de modelagem, costuma desenvolver artes de conceito e imagens de fundo como referência no software?

Se o trabalho é para um cliente, costumo pedir o máximo de referências fotográficas e informações sobre o que cliente quer, e também uso a Internet para buscar mais imagens como referência.

Depois, à medida que trabalho, costumo colocar essas referências no fundo para ajudar a pegar as proporções e volumes primários.

Quando começo a detalhar o trabalho, por exemplo em ZBrush, coloco a imagem ao lado do programa, para que possa sempre comparar e corrigir erros.

Se trabalho num projeto pessoal, às vezes até desenho um conceito, mas à medida que o vou trabalhando em 3D, ele pode transformar-se em algo muito diferente. A escultura do caçador de dragões começou como algo muito diferente; não estava gostando do rumo que estava tomando o conceito original e foi mudando ao longo do tempo, até cristalizar no trabalho final.

Uma coisa que faço muitas vezes, é mostrar o trabalho a outras pessoas, depois de estar horas e dias trabalhando em algo, torna-se difícil distinguir o que está mal e o que se poderia melhorar.

No seu ponto de vista, um artista 3D deve entender também de desenho artístico?

Não é essencial, mas ajuda muito, treina medir distâncias, proporções, perspectiva, composição, teoria de cor (no caso de pintura), etc… resumindo, muitas das bases artísticas que são transversais a muitas áreas.

No seu portfólio, tando as artes 2D como as 3D são excelentes! Dos projetos realizados até hoje, qual você mais gosta e por qual motivo?

Obrigado! Gosto de todos os projetos, mas um que se destaca é a estátua de David de Miguelângelo, foi o meu projeto final do curso de escultura digital, e naquela altura, foi um projeto tremendo.

Desafiou-me além do que eu pensava que era capaz, e no processo trabalhei em conjunto com colegas do curso que se tornaram bons amigos.

Fale um pouco da empresa onde você trabalha, sobre projetos realizados e algo que gostaria de divulgar.

De momento, trabalho como artista freelancer e também como instrutor de 3D, mas estou atento à indústria 3D, principalmente de videogames, onde gostaria de trabalhar como modelador.

Além do 3D, trabalho com amigos em projetos de Histórias em Quadrinhos, pela diversão e experiência de camaradagem.

Em 2008 participei numa coleção de contos de Histórias em Quadrinhos inspirados em H.P. Lovecraft, chamada “Murmúrios das Profundezas” e há pouco tempo, lançamos outro álbum, desta vez de ficção científica, “Voyager“, que conta as aventuras de um turista que tem o poder de viajar por outros planetas e dimensões. Lançamos o primeiro volume, mas há interesse em prosseguir com este projeto.

Você tem algum projeto pessoal, que futuramente deseja investir ou que já esteja em andamento?

Além dos álbuns de HQ já referidos, há interesse e idéias para um outro projeto de HQ. Está ainda em fase embrionária, mas poderá ser bem interessante.

Que dica você daria para os que estão iniciando na criação 3D e na arte?

Não abandonar as bases artísticas, ter gosto em trabalhar e aprender mais, aprender um pouco de tudo ao princípio mas depois escolher uma área onde focar energia e tempo para se tornar o melhor possível. Dar o máximo nos projetos para poder chegar um pouco mais longe de cada vez, não desistir e, por fim, não esquecer de se divertir e relaxar :)

Para visitar o portfólio e saber mais sobre Luis Belerique, acesse:

http://www.luisbelerique.com
http://lbelerique.cgsociety.org

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Ricardo Dias
CGNow
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Apaixonado por padrões, programação clara, elegante e principalmente manutenível. Trabalha como desenvolvedor deste 2000, incrementando a cada ano este loop…