“Runners… Yeah, we´re different..” Foto by unsplash.com

A resposta para a vida, o universo e tudo o mais.

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Em 07 de maio de 2018 eu fiz 42 anos. Parabéns pra mim, adoro fazer aniversário! Ainda mais este quadragésimo segundo pois, como nos explicou Douglas Adams, 42 é a resposta para a vida, o universo e tudo o mais. Se você não entendeu nada me desculpe, mas eu nunca consigo resistir a uma piada com 42. E se por acaso tiver curiosidade, sugiro a leitura do “Guia do mochileiro das Galáxias”. Mas já aviso, não é um livro para quem se leva a sério.

Mas este artigo não é sobre meus aniversários ou minha obsessão com Douglas Adams (só às vezes). E hoje quero contar pra vocês como foi minha experiência com a primeira fase da celebração dos meus 42 anos: correr a meia maratona do Porto.

Uma meia maratona são 21km. Então, decidi que em 2018 correria duas meia maratonas para celebrar meu aniversário. Se você já está parando por aqui, pensando que isso aqui virou um blog pessoal, peraí, já explico o motivo.

Correr foi o que me ensinou as principais coisas sobre empreender.

Foi uma experiência pessoal. A partir do momento em que comecei a correr é que eu aprendi como dar continuidade às coisas, como sacudir a poeira quando não dá certo, como seguir em frente… Enfim, tudo isso que precisamos saber quando começamos a empreender.

Correr 21 quilômetros não é fácil, nem preciso dizer. Para conseguir esta façanha é preciso planejamento, rotina, treino e resiliência. Soa familiar?

Planilhas de treino, horários, controles e avaliações semanais… Assim como o empreendedor, o corredor acha que está no controle, com todas as suas ferramentas. Mas claro, esta ilusão dura pouco. Engraçado como insistimos nesta idéia de controle quando sabemos muito bem que:

  1. A vida não está nem aí pro que você planejou
  2. Treino é importante, mas a hora H são outros 500.

Sendo assim, cerca de 3 semanas antes da prova eu peguei uma super-hiper-mega-gripe. Fiquei realmente mal e perdi 4 treinos. Aí entra o jogo de cintura de quem não está disposta a abrir mão do objetivo. Reorganizei o que pude, cumpri os treinos mais longos e segui em frente.

Mas é claro que isto teve um preço: a grande dificuldade para finalizar a prova.

Eu adoro corridas porque ali, na largada, não importa sua cor, sua idade, seu peso, seu gênero, seu tênis caro ou velho. Todos dispostos a cometer a sandice de correr 21 quilômetros sabem que todo mundo ali começou igual (normalmente sem nem conseguir correr direito). E sabe, que o que vale mesmo, é cruzar a linha de chegada no final. Claro que há troféus e prêmios especiais para os mais rápidos dentre nós — é justo. Mas a linha de chegada está disponível para todos e é o que todos ambicionamos.

Sendo assim, começar uma corrida é sempre uma alegria. Depois de tanto treino, dar o primeiro passo do “momento da verdade” é extasiante. Você está só, mas bem acompanhada de vários outros corajosos (loucos?).

A experiência me ensinou que, a melhor estratégia para mim, é segurar o meu ritmo no início e ir aumentando aos poucos até o final da corrida. Na largada, é fácil se deixar levar pela empolgação e já começar correndo forte. Mas se você vai fazer uma distância longa, precisa ter certeza que vai ter fôlego até o final.

Comecei então no meu ritmozinho tranquilo. Eu não sou uma corredora rápida, minha vantagem sempre foi minha resistência — que logo seria colocada a prova.

Treino é treino. Jogo é jogo. Dizem os jogadores de futebol, muito eloquentemente. O mesmo vale para as corridas. O trajeto da Meia Maratona do Porto incluía o túnel 450 anos no Rio de Janeiro: um túnel subterrâneo — com uma baita descida e depois, é claro, uma baita subida.

Eu sabia disso e treinei ladeiras. Mas encarar o túnel não foi fácil. Foram cerca de 3 quilômetros abafados, sem luz do sol. Me mantive firme mas logo um pensamento me assombrou: “Vai ser muito difícil passar neste túnel na volta, no final da prova”.

Sim, pois perto do quilômetro 18, quase no final da prova, passávamos por mais um quilômetro do túnel. Mais descida e mais subida.

Sair do primeiro trecho do túnel foi animador. Vento fresco, o aterro pela frente. Mas eu ainda tinha 16 quilômetros de prova a vencer.

Eu sabia que não estava na minha melhor forma para aquela prova. Por isso precisava revisar minha estratégia constantemente: Posso acelerar um pouco agora? Como está o cansaço? Em que momento uso o gel energético? Minha mente corria tanto quanto as minhas pernas.

Lá pelo quilômetro 18, o cansaço estava me alcançando. Faltava pouco — o que são mais 3 quilômetros para quem já correu 18?

Bom, há um momento na corrida em que parece que o nosso corpo diz: “Então tá bom sua louca, é isso o que você quer? Então vamos continuar correndo”. E o corpo vai seguindo no automático.

Não foi isso que aconteceu.

Eu realmente estava sentindo o cansaço e o desafio do túnel se aproximava. Perder 4 treinos foi uma bela paulada na minha preparação para a prova. Eu precisava decidir como continuar.

Ou até mesmo, se iria continuar.

Bom, para a última pergunta eu tinha a resposta rapidamente: eu vou terminar! Agora… Como continuar? Que estratégia usar para superar o túnel e chegar na linha final? Eu não queria andar. Não queria mesmo. Queria fazer todo o percurso correndo.

A gente ouve muito sobre a necessidade de assumir riscos mas pouco sobre quando vale a pena evitá-los. Eu poderia arriscar fazer a subida do túnel correndo e ver o que acontecia depois, no último quilômetro da prova.

Mas chegar ao final da prova era muito importante para mim. O risco de eu me exaurir subindo uma mega ladeira correndo e acabar sem fôlego para terminar a prova não fazia sentido. Era melhor “falhar” naquele quilômetro e cumprir meu objetivo.

Então, entre os quilômetros 18 e 19, eu andei. Exatamente na placa do quilômetro 19 voltei a correr, pois era importante ter este limite claro de onde terminava aquela pausa.

Isso teve um impacto grande no meu tempo final. E, é claro, me senti desapontada por ter “falhado” no meio da prova. No entanto, o que é o mais importante: conquistar o objetivo ou representar o sonho ideal de corredora resiliente que nunca anda em uma prova? (se não ficou claro, esta é a imagem que tenho de mim)

Eu planejei.

Eu me preparei.

Fui corajosa e resistente.

E também fui humana e, mesmo sofrendo, abri mão deste ideal de sucesso auto imposto.

Correr e empreender são duas atividades muito semelhantes. Você pode aprender técnicas, ferramentas, investir em equipamentos mas no final não há fórmula para cruzar a reta final. A realidade não se importa com as suas planilhas.

É você com seus objetivos. Só, mas na companhia de todos os outros loucos como você.

Saiba o que significa sucesso para você. Para mim, naquele momento, era completar aquela meia maratona. E para conseguir isso, precisei falhar. E para falhar, tive que parar de me levar tão à sério.

Hoje não sou menos resistente, menos resiliente ou menos corredora por ter caminhado durante a prova. Na verdade, sou uma corredora amadora com mais uma prova completa no currículo. E a experiência tem muito mais valor do que qualquer medida aleatória de sucesso. Esta é a minha resposta para a vida, o universo e tudo o mais.

E agora, vamos em frente, pois preciso treinar para completar a segunda meia maratona. Não faço idéia de como será essa experiência — dos treinos até o dia da prova. Mas estou ansiosa para descobrir.

Estamos em 06.05.2020, 8a sem. da quarentena. Este texto tem 2 anos mas acho que ainda vale. E hoje não estou a fim de escrever sobre mim mesma em terceira pessoa. E se puder, #fiqueemcasa

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Dani Lima | Product Designer and Brand Designer
Chá com Design

Designer apaixonada por entender problemas complexos e criar soluções digitais simples, úteis e agradáveis | www.danilima.com.br