Divagando sobre originalidade e inovação

Há algum tempo atrás dei de cara com uma dessas imagens que circulam no facebook com a seguinte frase:

“Não tente ser original, tente ser bom” — Paul Rand

Esta é uma frase famosa de Paul Rand, designer gráfico americano responsável por nada menos que as identidades corporativas da IBM, ABC, UPS, neXT Computer dentre outros. Steve Jobs se referiu a ele como “the greatest living graphic designer”.

Citei esta frase de Paul Rand durante uma discussão sobre inovação com um colega. Se não devemos buscar a originalidade somente pela originalidade, creio que também não faz sentido buscar a inovação somente pela inovação. Meu colega argumentou que originalidade e inovação são coisas diferentes. E, embora ele tenha razão — são duas coisas diferentes, eu acredito que elas estão intimamente relacionadas.

Esta é a definição de originalidade: “capacidade para expressar-se de modo independente e individual; habilidade criativa; criatividade.”

A jornada em busca da originalidade é essencialmente uma jornada de autoconhecimento, disciplina e aprendizado.

Para ser capaz de expressar-se de modo independente, o indivíduo precisa conhecer a si mesmo, não ter medo de explorar diferentes aspectos da sua personalidade. É preciso estar apto e disposto a desconstruir conceitos tradicionais aprendidos. A disciplina e o aprendizado garantem que esta jornada seja produtiva e não somente uma viagem egocêntrica. A criatividade, muitas vezes descrita como uma “dádiva”, está mais para um processo construído pelas experiências do indivíduo do que um presente divino.

“Originalidade não é dizer o que nunca foi dito antes, mas dizer exatamente o que você pensa” — James Stephens, Irish Poet

Grandes artistas copiaram mestres antes de encontrar seu caminho original.

Pense em Picasso. Ele era capaz de pintar como os Mestres Renacentistas, mas foi o movimento cubista que tornou-o um ícone da arte. Picasso tinha talento e originalidade — juntas estas duas qualidades costumam dar resultados incríveis. No entanto, tentar ser original só pela originalidade costuma dar em resultados inexpressivos. Pense em… bem, devem existir vários exemplos que não nos lembramos né?

Já a definição de inovação é a seguinte: “Inovação é a ação ou o ato de inovar, modificando antigos costumes, manias, legislações, processos e etc; efeito de renovação ou criação de uma novidade.” Para o mundo corporativo podemos dizer que inovação é a exploração com sucesso de novas ideias.

Se para ser original é preciso olhar para dentro de si mesmo, para inovar é preciso olhar a sua volta, para as coisas do mundo.

Uma forma de entender as coisas é copiá-las. Não estou falando de plágio, que é apropriar-se da idéia do outro, mas de imitar para aprender. Imitamos aquilo que achamos interessante e neste processo, aprendemos mais. É como ser a criança que desmonta e remonta o rádio para entender como ele funciona. A jornada em busca da inovação é baseada na curiosidade e na paixão pelo conhecimento.

“Há uma forma de fazer melhor — encontre-a” — Atribuída a Thomas A. Edison

Claro que quando falamos de inovação no mundo corporativo, a coisa fica um pouco mais complicada do que desmontar e montar um rádio (ok, não deve ser tão fácil montar um rádio… :p). Mas a curiosidade e a paixão pelo conhecimento continuam sendo o principal combustível. Afinal de contas não existe inovação sem pesquisa e apenas empresas capazes de criar um ambiente livre de amarras se tornam inovadoras de fato — paixões não se manifestam quando aprisionadas.

“Observando a história, vemos que a inovação não surge simplesmente de dar incentivo as pessoas. Ela surge quando são criados ambientes onde as idéias podem se encontrar” — Steven Johnson

Eu acredito que estas duas jornadas, pela originalidade e pela inovação, se encontram constantemente. Vozes originais estão sempre questionando o status quo, desconstruindo conceitos e descobrindo novos caminhos. Quando saem ao mundo estão muito mais aptas a renovar o que está vigente. Voltando ao exemplo de Picasso, primeiro ele aprendeu com os mestres, depois foi buscar a sua originalidade e então iniciou um movimento que revolucionou a arte moderna. Resumindo, primeiro ele tornou-se um bom artista, depois um artista original e, por fim, um artista inovador.

Originalidade e inovação não são um ponto de chegada, são fruto de uma jornada em busca da melhor versão de si mesmo e do seu trabalho.

“Inovação é o que diferencia os líderes dos seguidores” — Steve Jobs

Steve Jobs dizia que “inovação é o que diferencia os líderes dos seguidores”. E ele tinha toda razão, mas vale lembrar que para tornar-se líder é preciso caminhar junto ao grupo primeiro, tornar-se o melhor trilheiro e então destacar-se e liderar o grupo. Afinal de contas, a originalidade e a inovação vão nascer no caminho e não na liderança. Por isso “não tente ser original, tente ser bom”.

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Dani Lima | Product Designer and Brand Designer
Chá com Design

Designer apaixonada por entender problemas complexos e criar soluções digitais simples, úteis e agradáveis | www.danilima.com.br