Partes de mim
Parte de mim gostaria de poder puxar as cobertas e continuar dormindo. Parte de mim gostaria de não perceber a luz do sol que insiste em entrar pela janela. Parte de mim está cansada das perguntas e se sente confortável com a certeza das respostas. Parte de mim quer gritar para o mundo que estou cansada demais, dolorida demais, velha demais para seja lá o que queiram de mim.
É fácil encontrar justificativas. “Tenho muitas responsabilidades”, “Me falta tempo” ou simplesmente “Me deixem em paz”.
Mas o mundo continua girando. O sol nasce e se põe todos os dias. O tempo não muda seu ritmo por ninguém.
Acho que estas sensações são comuns a todos os seres humanos. É fascinante como a vida pode ser uma dádiva e um estorvo ao mesmo tempo.
Hoje, uma pergunta me ocorreu, logo depois de eu levantar às 6 da manhã. “Para que eu levanto todos os dias?”. Levei um susto por que não tinha uma resposta de pronto. Eu levanto todos os dias para fazer tudo o que tenho que fazer, oras. Mas isso não é um motivo realmente, está mais para um hábito.
Depois de respirar por um tempo, me ocorreu: me levanto todos os dias para viver.
No mundo atual muitas vezes traduzimos “viver” como esta série de tarefas e objetivos que temos que cumprir. Damos à isso o nome de carreira — seja ela estudantil, profissional ou empreendedora.
O significado de carreira é “estrada estreita” ou “fila, fileira”. Não consigo imaginar encaixar algo fascinante como a vida numa estrada estreita.
Acho que é daí que nasce a sensação de “me deixem em paz”. Com tanta gente no mundo, uma estrada estreita está sempre lotada, barulhenta, caótica.
Para viver, precisamos sair da estrada e seguir por outras ruelas, caminhos, ramificações… E é a criatividade que nos apresenta estes caminhos. Essa vontade de fazer algo diferente, de dar forma a uma ideia qualquer. Ou de simplesmente descobrir um novo caminho.
Se parte de mim está cansada demais, a outra parte percebe que continuo enxergando, ouvindo, respirando e quer registrar, entender, reconhecer. Que continuar seguindo e criando sem se preocupar.
É esta parte que se recusa a seguir na estrada estreita. Não quero uma carreira, quero correr atrás da minha criatividade que normalmente parece uma criança hiperativa de 6 anos de idade.
É essa parte que me faz levantar todos os dias.
Parte de Dani Lima está em quarentena. A outra parte também. E levantar todos os dias já é uma vitória. Em www.danilima.com.br você encontra meus projetos de marca.
