Bom dia, Morgan
Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032
Uma homenagem a Prey (2017), desenvolvido pela Arkane Studios e publicado pela Bethesda.
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Lembro que essa foi a primeira frase que ouvi hoje. Como se não estranhamente a ouvisse todas as manhãs em que me levanto para trabalhar. Sempre um compromisso marcado para às 9h em ponto, sempre um sol raiando pelo vidro e sempre uma caneca de café quentinha me esperando antes de vestir o uniforme. Quando encontrar meu irmão, perguntarei sobre essa obsessão com março, dia 15 e… 2032?
Saí de meus aposentos encarando o dia como qualquer outro. Cumprimentei o faxineiro, peguei meu helicóptero particular no telhado e fui até o outro lado da cidade continuar os testes científicos que eu e Alex estamos desenvolvendo. Espera, que testes? Não consigo compreender o que fazia lá de manhã, a cabeça dói muito. Acho que é melhor ir deitar, estou sentindo tontura.
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Todo dia é segunda-feira? Nunca vai ter happy hour? Bom, mais uma vez a mesma rotina. Já sei: compromisso às 9h, o dia tá bonito, o café tá quentinho e o faxineiro curiosamente tá limpando o mesmo lugar que ontem. Ah, verdade, o helicóptero. Eu nem tô a fim de andar de helicóptero hoje mas… não sei se tenho muita escolha. Mais uma vez os testes estranhos do Alex. É impressão minha ou ele tá cada dia mais gordo? Coitado, não vou falar isso na cara dele, não. Na verdade, acho que nada do que eu falar vai fazer muito sentido, né? Afinal, amanhã é dia 15 de março… de novo.
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Hoje eu cansei. Me vesti antes de tomar o café, não ouvi se tinha um compromisso às 9h e fechei as cortinas pra não ver o dia bonito pela janela. Saí e fui falar com o faxineiro, que não tava por lá. Considerei ir andando até Alex, mas quando desci pra rua o helicóptero estava parado no meio dos carros, esperando eu embarcar. Fui, de novo, fazer os testes. Dessa vez perguntei pra ele sobre a data: “que dia é hoje?” Ouvi um ríspido “15”, como se ele falasse: “só faz os testes aí e me deixa em paz”. Vamos terminar logo com isso, afinal amanhã é outro dia… talvez.
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Nunca pensei que faria isso. Levantei com a roupa que dormi, joguei todo o café fora, escondi meu uniforme e decidi ficar aqui dentro, no quarto… O sol batendo no meu rosto me incomodava e as persianas estavam completamente emperradas. Peguei um objeto qualquer e arremessei contra a janela e… vi uma sala. Era um vidro falso? Eu sabia que era um vidro falso! Não, eu sabia! Fui quebrando com outras coisas até dar pra passar. A sala estava bagunçada, tinha alguns controles e vários fios. Mexi nos controles e percebi que modificavam meu ambiente, apagavam as luzes, faziam o Sol desaparecer. Avancei mais um pouco e jurei que tinha ficado louco, pois vi uma cadeira se mexer e sair… correndo?
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Coloquei o uniforme, bebi qualquer coisa menos café, peguei a pistola guardada e uma chave inglesa da caixa de ferramentas e comecei a estilhaçar o vidro. Cada pedacinho do maldito vidro ia servir pra eu acordar desse sonho. Só pode ser um sonho, né? Dessa vez, nem liguei pra controles ou fios ou qualquer coisa. Saí correndo, tentando achar uma saída. Passei por um chuveiro de desinfecção, por laboratórios vazios e até deu pra ver a parte de fora das salas de teste. Pelo caminho, tinha muita gente morta. Todos com jalecos, uniformes de faxina ou roupas de segurança. Os rostos não tinham expressão, eram um vazio cinza, fundo e escuro. Os olhos, que antes refletiam a alma, mostravam agora um abismo que nunca desejei tanto estar longe da borda. Entre cadeiras se mexendo e objetos sendo jogados de um lado pro outro, permaneci firme até avistar as agulhas. Neuromods? Era esse o nome? Projeto antigo, mas familiar. Era hora de fazer valer a dor.
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Acordei diferente. Tô me sentindo bem mais forte que o normal. Nem precisei de nada pra quebrar o vidro e fui andando até onde parei ontem… ou hoje? Passei da porta que dava acesso aos quartos e fui para o saguão principal. Dá pra ver a terra e a lua do saguão. É uma sensação boa. Tava deserto, quase como se fosse horário de almoço em dia que servem algo gostoso. Faz tanto tempo que não sinto gosto de alguma coisa que não seja café. Meu escritório fica depois do saguão, né? Subindo umas escadas que, apesar de serem a dose de exercício diário, podiam ser menores. No caminho vi uma pessoa, deformada e coberta por uma… massa? Uma massa escura? Uma energia preta? Tremia tanto que nem sei o que era. Ela me olhou… como se tivesse olhos pra poder me ver. Não tinha nada ali, mas eu sabia que era uma pessoa. Veio se aproximando devagar e fui sentindo o suor escorrendo pela espinha a cada passo que dava. Tive medo de morrer.
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Por algum motivo meu olho tá completamente vermelho, como se tivesse sido tomado por sangue. Pode ser o Neuromod, né? Bom, hoje eu mato aquela coisa que vi ontem. Não tô nem aí se é pessoa ou bicho. Nunca dei tantos tiros na minha vida… não pensei que aquilo aguentasse tanta bala. Ficou só um… órgão estranho, pastoso e fedorento. Não vou mexer nisso, me recuso. Ainda com as mãos suando por baixo da luva do uniforme, subi até o escritório. Lá estava… eu. Ou melhor, o eu que construí. Meu robô particular, January, era a única esperança pra revelar o que estava acontecendo. E ele me contou tudo, do começo ao fim. Quando terminou, eu mal conseguia ficar de pé.
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Esqueci o que January contou, mas ainda lembro dele. Que me conte de novo, não é problema meu. Fui pro saguão, matei aquilo com mais… facilidade? Subi as infinitas escadas e January me contou tudo, tudo mesmo, todos os detalhes. Tenho que fazer alguma coisa! O experimento deu errado, eles escaparam. Isso explica os objetos e aquela coisa? Não importa! Cadê a Mikhaila? Cadê o Igwe? Por que tem torretas militares de defesa na frente do meu escritório? Esses gritos… tão altos e tão agudos. O Alex deve saber o que fazer, né? O escritório dele fica numa espécie de estufa gigante, o Arboretum. É só pegar o elevador central e…
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Vou pegar direto o elevador. Sem chances de escutar toda a história do January de novo, é perda de tempo. Já sei o que acontece e… se eu não souber de algo, meu irmão sabe. O Arboretum tá gelado? Não lembrava de ser tão frio por aqui. Isso não faz mal pras plantas? Faz, com certeza. Alex não está no escritório dele! Cadê meu irmão? Tô ouvindo uns barulhos estranhos vindos da estufa menor, a das frutas. Parece que tem uma coisa… flutuando lá dentro. Não consigo descrever o que é, vou ter que chegar perto pra ver. Será que é seguro abrir a estufa? Pronto, abri.
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Tem um monstro gigante me seguindo. Ele faz um som alto e me persegue até quando durmo. Ele sussurra que quer me matar.
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Encontrei o Igwe, mas não sei se posso confiar nele. As poucas pessoas que encontro… mentem pra mim.
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Aquele maldito do Dahl! Quem ele pensa que é? Pensa que comanda a estação?
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Tenho que desligar o reator? Sim, é isso! É o único jeito de parar tudo.
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Hoje eu matei meu irmão. O Alex mereceu!
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Não podemos deixar eles chegarem na terra. Vai ser o fim da vida.
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
Hoje fugi da estação. Não aguento mais. Pai, mãe, perdão…
…
-Morgan, acorda. Deu errado! Vamos tentar de novo? Temos que tentar! Você tem que fazer funcionar, tem que descobrir um jeito de pará-los. Você é nossa única chance!
-Alex… tá, vamos mais uma vez!
Bom dia, Morgan. Hoje é segunda-feira, 15 de março de 2032.
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