Design Sprint de Manaus

Gabriela Allegro
Chicas Poderosas
Published in
4 min readNov 24, 2017

O encontro de 20 garotas em um intensivo de design thinking oferecido pelas Chicas Poderosas na Amazônia.

Incluir garotas de comunidades tradicionais em sua batalha pelo empoderamento de mulheres em mídias digitais na América Latina era um dos sonhos de Mariana Santos, fundadora das Chicas Poderosas. Como também era conhecer a grande floresta. Mergulhar em seus rios imensos. Sentir a abundância da vida brotar onde bem entende.

Juntar as duas coisas levou um ano e meio. Com talento único para buscar parceiros, abrir portas e construir tecidos por onde passa, Mariana conseguiu apoio local da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e do Impact Hub, para realizar um treinamento em Manaus e, assim, oferecer a garotas de comunidades indígenas e ribeirinhas a oportunidade de participar do New Ventures Lab, nova empreitada das Chicas para apoiar mulheres nos estágios iniciais de seus negócios de mídias independentes.

As chicas da Amazônia

O grupo era diverso. De origem, de história, de idade, de presente. De um lado, as jornalistas Macarena Mairata e Dirce Quintino, por exemplo, compartilhavam o desejo de criar documentários sobre mulheres e comidas. De outro,Yara Solta, aos 13 anos, falava em grupo pela primeira vez.

Yara, 13 anos, Comunidade do Carão

Para algumas, comparecer ao evento era tarefa relativamente simples. A grafiteira Déborah Erê, por exemplo, vivia a 15 minutos do local do encontro. Já Jackeline Silva, de comunidade tradicional ribeirinha, levava 7 horas para chegar ao treinamento. De barco.

Mas não foi a diferença que marcou nosso encontro. Muito pelo contrário. Desde a primeira apresentação, ela foi diluída pela inteireza e generosidade do grupo. Não importavam a realidade e a dificuldade inerentes a cada percurso. Naquela sala havia mulheres leais a seus estatutos diversos. Mulheres inteiras e em posse de seus sonhos. Conectadas a si mesmas e ao local onde vivem. Talvez seja esse o poder da Floresta. Viver em conexão. Fazer amar a vida. Fazer amar o outro. Fazer amar a casa. Fazer amar-se. Com o tudo o que há dentro. E se alguém aprendeu profundamente sobre empoderamento feminino naquele grupo, esse alguém fui eu.

Cuidar de suas comunidades e inserir os homens em uma conversa sobre igualdade.

O Sprint de design

Passamos dois dias juntas. E 16 horas de trabalho. As garotas foram apresentadas a técnicas de design com foco no usuário e praticaram cinco das etapas de concepção de um projeto com essa metodologia. O objetivo do treinamento era oferecer uma ferramenta para que elas pudessem organizar ideias, não apenas para realizar seus próprios projetos de mídia independente, como qualquer outro projeto de vida.

As cinco etapas percorridas no sprint de Manaus

Um desafio comum

Foi o espírito de grupo que desenhou os contornos de todas as etapas do treinamento. Mesmo divididas em equipes menores e em mesas separadas, os projetos apresentados pelas garotas eram respostas para a mesma questão: a igualdade de gêneros.

Gabriela Oliveira, 15 anos, Comunidade Santa Helena do Inglês

A fase de pesquisa dos projetos foi a mais longa. As conversas e entrevistas dentro de um grupo com vivências tão diversas eram uma riqueza que todas desejavam explorar. As escutas eram feitas em profundidade e com acolhimento. Foram geradas dezenas e dezena de ideias.

Síntese e apresentação de projeto

Diferentes formulações — “Como podemos combater o machismo nas comunidades?” Ou “Como podemos inserir os homens na luta de igualdade?”, — originaram projetos para públicos distintos. Diferentes tanto em forma, quanto em conteúdo.

Concurso de redação, documentário sobre mulheres, festival de música e depoimentos digitais curtos sobre machismo. Foram esses os formatos escolhidos na fase final de pesquisa pelos grupos para conversar com seus usuários.

Concurso de redação
A proposta do primeiro grupo foi um generoso concurso de redação sobre feminismo. Para participar e aprofundar a abordagem do tema, os candidatos participariam de um curso no qual especialistas enriqueceriam os debates e ampliariam a reflexão.

Documentário sobre mulheres
O segundo grupo propôs um documentário sobre mulheres da Floresta Amazônica brasileira. “Queremos contar as histórias de mulheres da floresta. Evidenciar o feminismo que já existe nas comunidades ribeirinhas e tribos indígenas. Mapear quem são as líderes de comunidade, quem são as mulheres que integram suas famílias, quem são as mulheres já empoderadas e que estão distantes do feminismo que é abordado das academias’, explicou a jornalista Macarena Mairata.

Festival de música
A proposta terceiro grupo foi musical: promover um festival de música para mudar a letra de canções machistas. Uma roda de conversa após o festival cuidaria de mostrar de que maneira as composições poderiam ferir as garotas. Muitos poderiam nem imaginar. O evento seria filmado e compartilhado nas redes sociais.

Depoimentos
A quarta proposta foi publicar uma série de curtos depoimentos sobre que é o feminismo, o que ajudaria a desmistificar o paradigma em torno da palavra.

Gabriela e Élita alteram a letra de uma canção machista, parte do design de seu projeto.

Valeu, Manaus!

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Gabriela Allegro
Chicas Poderosas

Liberdade de criação e muita dedicação são uma constante nos meus 25 anos de jornalismo. Sou produtora executiva do Forró In Rio e idealizadora do Baila-te!